ARTIGOS – A Era da Inteligência por David Ehrlich

ARTIGOS – A Era da Inteligência por David Ehrlich

Vivemos uma era em que há cada vez mais informação no mundo, e no meio digital isso é convertido em uma imensa quantidade de dados, mais do que seres humanos são capazes de processar. É aí que entra a inteligência artificial (IA), que assume cada vez mais tarefas cotidianas, desde responder a perguntas de clientes nas redes sociais até sugerir rotas de trânsito. E, conforme computadores realizam automaticamente mais e mais funções, a IA começa a fazer parte inclusive da educação e política ao redor do globo, principalmente em debates a respeito de regulamentações em cima de máquinas que se tornam cada vez mais sofisticadas

É um avanço constante e acelerado, e que gera as mais diversas previsões, desde aqueles que acreditam que a IA possibilitará que nos dediquemos apenas àquilo que queremos, até os que alertam para a extinção da humanidade por máquinas que nos verão como dispensáveis. Tais especulações utópicas ou apocalípticas, porém, acabam por abafar discussões importantes a respeitos da inteligência artificial disponível agora.

Uma dessas discussões é a respeito da chamada IA generativa, capaz de criar os mais diversos conteúdos apenas com alguns comandos, sejam artigos científicos, poemas, pinturas, sinfonias, projetos arquitetônicos e até filmes inteiros. E isso está causando uma verdadeira revolução na arte, que desde as primeiras pinturas em cavernas é gerada unicamente pela criatividade humana.

Arte criada através de IA não é nenhuma novidade: desde meados do século passado, quando os primeiros estudos sobre computação foram feitos, artistas têm usado ela para criar novas obras. Até agora, porém, computadores têm sido apenas ferramentas, substituindo pincéis ou instrumentos musicais. O que agora mudou é o surgimento de ferramentas capazes de gerar obras de arte únicas por meio de IA, e a ampla disponibilidade pública delas. Uma das primeiras delas foi o Dall-E 2, lançado em 2022 pela empresa de pesquisa Open AI. Digitando apenas uma breve descrição da imagem desejada, momentos depois a ferramenta gera para você uma representação bastante precisa do que lhe foi pedido, desde o Elmo da Vila Sésamo pintado no estilo de Monet até Voldemort tomando suco de uva.

Após o lançamento do Dall-E 2, rapidamente outros programas e aplicativos foram criados para rivalizar com ele, como o Midjourney, o NightCafe Creator, o Stable Diffusion, entre outros, cada um com seu próprio método para gerar arte. Uns transformam linhas de texto em imagens às vezes hiper-realistas, enquanto outros são capazes de transformar automaticamente fotos em pinturas dos mais variados estilos. De uma forma ou de outra, porém, os limites de como a arte é feita estão sendo alargados, e quanto mais artistas utilizam essas ferramentas de IA, mais inevitavelmente acabam por alimentá-las com dados novos, treinando-as de forma a imitarem o pensamento criativo humano e gerarem obras cada vez mais únicas.

Há uma grande massa que se mostra empolgada com o florescimento dessa arte criada por IA. Ao longo do último ano, a exposição Ebrah k’dabri, na galeria Sprüth Magers, exibiu uma série de pinturas geradas por meio de algoritmos pelo artista canadense Jon Rafman; o centro de artes londrino Somerset House organizou uma residência artística voltada especificamente para projetos artísticos relacionados à IA; o Instituto Alan Turing criou um grupo de interesse multidisciplinar com o propósito de discutir a IA nas artes e promover colaborações entre acadêmicos, artistas e outras partes interessadas; e ao redor do mundo, diversos curadores de arte começam a organizar obras de IA que já possam ser consideradas historicamente significativas.

Na mesma medida que há aqueles que batem palmas para as IAs generativas, porém, há também aqueles que reclamam delas. O conhecido artista conceitual R. J. Palmer admitiu publicamente seu desconforto ao testemunhar o fotorrealismo das obras criadas através do Dall-E 2, e Kevin Kelly, editor da revista Wired, também já expressou que se preocupa com a IA poder agora “fazer arte melhor que a maioria dos humanos”.

Talvez o principal debate a esse respeito tenha começado após a Feira Estadual do Colorado de 2022. Anualmente, a feira realiza um concurso de arte em que são entregues prêmios nas categorias de pintura, escultura e quilting (estilo de costura). Nesse ano, porém, o prêmio de pintura não foi para qualquer quadro pintado com pincel, mas sim para a imagem Théâtre D’opéra Spatial, gerada pelo participante Jason M. Allen por meio do programa Midjourney. A premiação gerou grande repercussão nas redes sociais, com muitos reagindo amargamente e interpretando o caso como uma “morte” do artista.

Diversos escritores, cineastas, músicos e outros profissionais criativos, ao invés de verem essas ferramentas como potencializadoras de suas próprias imaginações, as veem como ameaças que futuramente os deixarão sem trabalho, e questionam a ética por trás de seu uso. Há inclusive um forte debate quanto a se obras criadas por meio de IA podem ser de fato consideradas como arte.

Então, onde que isso nos deixa? Como a inteligência artificial impactará o trabalho dos artistas? Nos cenários mais positivos, conforme ela se torna mais parecida com a inteligência humana, providenciará a profissionais criativos um colaborador sempre pronto para ajuda-los. Nos cenários mais negativos, porém, A inteligência artificial se tornará poderosa demais para ser controlada, e para se proteger reduzirá os artistas que a utilizam a meros propagandistas, gerando um fluxo interminável de obras que têm por único objetivo não questionar sua dominância.

Por DAVID EHRLICH 

Pular para o conteúdo