AUTOPOIESE E NARRATIVAS – Arquitetura: Universo de Vida

AUTOPOIESE E NARRATIVAS – Arquitetura: Universo de Vida

“A aparência das coisas muda de acordo com as emoções, portanto nós vemos magia e beleza nelas quando, na verdade, a magia e a beleza estão dentro de nós.”

Khalil Gibran ( 1883 – 1931)

 

 Dedico essa narrativa a vocês, em palavras e sentimentos, a vocês, pela oportunidade de poder narrar aqui as minhas inspirações, ressaltando que com elas posso escrever argumentações teóricas e aquelas que vão sendo construídas no meu dia a dia.

 Sinto-me honrada em abordar esse tema de crescentes inspirações, nesta conceituada Revista Internacional The Bard.

 É muito prazeroso, deixar registrado na “Coluna Autopoiese & Narrativas” um conteúdo fundamentado sob o meu olhar em pesquisas bibliográficas referentes ao tema a que estamos nos propondo discorrer, com citações contextualizadas e apoiadas em nossas compreensões, nos brindando com um texto autoral, desejando o diálogo com você leitor, explorando e percorrendo o espaço escrito, fazendo interpretações, que levam ao seu universo de conhecimentos e transformações cognitivas.

 Esperamos que essa narrativa favoreça sua criatividade por meio da ampliação dos conhecimentos, que diz respeito aos tipos de Arquiteturas do viver em Arquiteturas de reflexões, ideias, processos criativos com imagens de fotos admiráveis e pensamentos escritos.

 Desejamos apresentar-lhe, estimados leitores, uma produção poética, que se conecte ao seu mundo imaginário, filosófico, artístico das artes e da literatura, entrelaçando a descrição de objetos, imagens e sentimentos, constituindo um mundo arquitetônico de transcendências.

 Estamos entendendo a “Arquitetura: Universo de vida” como ciclos, momentos significativos das nossas experiências de encantamentos, emoções e prazer social e cultural, com um conteúdo que mostra a dinâmica da vida em sua diversidade, em desejos do viver integrado entre a razão e o sentir emocional.

 Convido a todos a estar conosco nestas narrativas escritas e reflexivas aqui apresentadas. Que sejam provocadoras entre outras tantas, e motivo de prazerosa leitura que nos motivará para novos diálogos cada vez mais compromissados com o contexto das artes, da literatura, da Arquitetura de ciclos de vida.

 

BOA LEITURA!

 

ARQUITETURA – ADMIRAÇÃO – ENCANTAMENTO

 “A arte suprema do mestre consiste em despertar o gozo da expressão criativa e do conhecimento. “Alberto Einstein

 Podemos compreender “Arquitetura – Admiração – Encantamento”, como sendo manifestações que nossos olhares intencionados veem o que nos chama atenção, sendo uma contemplação em sintonia com nossas emoções encontradas diante de nossos olhos na realidade e nas entrelinhas do que é visto.

 É uma oportunidade privilegiada que desperta nossa consciência perceptiva, é multidimensional, o que implica contemplar, reconhecer a história os projetos que retratam um cenário mediado por um espaço de vida, movimento e realidade.

 Nesta arquitetura a presença do outro, o diálogo compartilhado, a dinâmica da existência, os múltiplos interesses e expectativas emergem do desafio em admirar.

 Para nós admirar é uma conquista de alma, uma atração seduzida e formas de encontros com a expressão artística, como por exemplo, a imagem acima nos mostra. Há incontáveis outros exemplos como os livros, fotos de uma viagem, as luzes brilhantes de Paris. Este movimento de compreender a Arquitetura e admiração promove conexão entre as criações e as dinâmicas que a humanidade foi deixando como legado ao patrimônio cultural da humanidade.

 As admirações são internalizadas no dia a dia, promovidas pelos diferentes ambientes renovados ou não, significa dizer que o que vemos e admiramos tem uma presença contínua da sintonia com o clima da aprendizagem visual. Este é um aspecto que merece nossa atenção porque promove questões subjetivas do cotidiano entrelaçadas, portanto, a espaços abertos que ultrapassam paredes e concretos.

 A admiração não deve ser homogênea , ao contrário, são diferentes visões de mundo, como a experiência e a história de cada um. É assim que estamos entendendo o ato de admirar, e a Arquitetura do se encantar em que as certezas são provisórias, é preciso construir uma dimensão dialética entre mundo e criação.

 Um olhar, um sentir, um escutar, partem de uma admiração.

 O admirar em grego –thaumázein- significa ver, sentindo a maravilha diante do que se manifesta aos nossos olhos. Assim, a admiração para Aristóteles, é uma atitude que inicia os homens a filosofar, visto que é pela admiração ou pelo espanto que se iniciam as indagações (Metafísica I:124), na tentativa de elucidar o que está além do que aparenta ser.

 A filosofia é um convite à disponibilidade de admirar, de refletir, de se encantar com o que se apresenta diante de nós. É um olhar sistemático, metódico e programado sobre as razões das coisas. (Pensar bem nos faz bem! 1. P.13)

 

O mundo sem amor.

Por Stella Gaspar

Seria uma visão sem admiração
Um passeio sem prazer.

E um sorrir sem sentir.

Tudo que nos faz poeta nos encanta
Com olhares poéticos
Tudo se transforma
E ao contemplar essa vida em movimentos
Sinto-me na calmaria de um amanhecer amoroso
Fico a sentir quanto o amor, me deixa em tuas mãos
Em harmonia, com os olhos da minha alma
Em uma agradável leveza
Que linda ternura humana
Meus olhos desvendando intimamente
O sentimento de luzes.

De um encantamento que poderia durar eternamente
Que nada seria capaz de apagar.

Porque a minha voz emite

Sons com o calor

Das chamas do amor.

 É nesse sentido que percebemos a Arquitetura da admiração – do encantamento como um ato de se encantar na vida em sociedade, com as nossas sensibilidades, com a essência criativa da nossa existência.

 Um encantamento é repleto de bem-estar, de sonhos e de felicidade individual e coletiva. O encantar-se tem lugar na fascinação e inventividade lapidado pelas emoções que captamos, sentimos e transmitimos. É o colorido da diversidade, da pluralidade e da beleza que cada um biologicamente cristaliza o se encantar para si.

 O encantamento requer a união entre sensibilidade e o incentivo da criatividade, reconhecimento do potencial autopiético na convivência com um mundo com uma Arquitetura de vida que possa caber muitos outros mundos. É uma apaixonante vivência que envolve o encanto e a ternura, os sonhos de felicidade individual e social, o prazer e a ternura na fascinante sensação de um mundo com um universo de vida artística, amante da escrita e da arquitetura poética, podendo despertar sensibilidades em pessoas tão diferentes, como se escrevêssemos só para elas.

 Reencantar a nossa história de vida, dinamizar a própria Arquitetura da admiração e do encantamento é um dinamismo vital para desenvolver nossos desejos pela satisfação do conhecer, ver, sentir e aprender.

 O encantamento requer a união entre a sensibilidade e o esperançar, o ressignificar abrindo as janelas para que nossos olhos possam ver as luzes de mundos plurais, como a versatilidade dos golfinhos.

 Fica aberto assim, um caminho para uma Arquitetura de admirações e encantamentos, tendo o prazer do ser e do fazer, como dinamizadores de esperanças nos encantando pela busca positiva, entusiasmada das nossas formas de viver.

 

ARQUITETURA DO TEMPO – MOVIMENTO NÃO LINEAR

 Nosso tempo contemporâneo apresenta-se com, velocidade, tempo criativo, em movimento constante, dentro da ordem e da desordem, dialogando com mundos reais ou imaginários.

 O tempo é o coração da existência, do viver o dia a dia, horas – semanas- meses. Não podemos negar que somos submetidos pelos ritmos que o tempo impõe às nossas vidas. Tempo, corpo e espaço são inseparáveis, não existimos fora do tempo e do mundo geográfico, histórico, social, psicológico.

 Um fenômeno característico destes novos tempos é a exagerada aceleração do cotidiano e a velocidade espantosa com a qual as alterações se processam. Mal nos damos conta de um fato, acontecimento, relato ou situação e lá se foram o registro e a percepção para longe de nossa memória próxima. Fatos que nos atingiram fortemente, acontecimentos que nos abalaram, relatos que nos emocionaram ou situações que nos inquietaram, desaparecem das nossas lembranças, antes mesmo que os tenhamos podido compreender melhor. (Não nascemos prontos! P.27).

 O nosso romantismo, quando desvairado, nos faz olhar as estrelas e nos embevecer com a ideia de que somos os únicos capazes de admirá-las. Não haveria nada de errado se a questão se resumisse a admirá-las. O aspecto preocupante é que o ser humano se sente proprietário até das estrelas, ou mesmo a razão de ser – das estrelas – e não somos o centro do Universo nem proprietários de nada além de posses terrenas. (Viver em paz para morrer em paz. P. 87)

 Caberá a todos descobrir caminhos saudáveis, acompanhados por sentimentos, aprendendo a interagir um com o outro, favorecendo subjetividades e crescimentos.

 É cada vez maior o número de pessoas em crises depressivas colocando as causas no estresse, nos relacionamentos afetivos com vínculos cada vez mais frágeis, entre outros. Um mal da sociedade atual, com sintomas complexos, uma arquitetura que cristaliza a marca negativa dos comportamentos tanto masculina como feminina.

 As decepções, as sensações de infelicidades, os conflitos contemplam qualquer ser, pois cada pessoa é individual e única, que vai se formando a partir dos relacionamentos e por meio destas vivências, aprende e experimenta as diferentes experiências e realidades de vida, despertando o ser social.

 Precisamos uns dos outros como do ar que respiramos, mas, ao mesmo tempo, temos medo de desenvolver relacionamentos em um cenário de incertezas, onde parece que tudo é líquido tanto no terreno dos afetos como no profissional.

 Todas as horas são preciosas, não podem ser desperdiçadas.

 O tempo é todo tempo, é tudo que vivemos e desejamos viver.

 É um comportamento, um caminhar e um ficar, depois um seguir.

 É um modo de viver a vida.

 É um encanto, um entusiasmo.

 A falta de tempo, então, torna-se marcante nos dias de hoje que, muitas vezes, não temos tempo de dizer o quanto queremos bem um ao outro, o quanto nos preocupamos e o quanto atraímos solidão pela falta de tempo.

 

ARQUITETURA – PRAZER DO VIVER

  A Arquitetura é uma arte que surge da relação entre o homem e o espaço, e do modo que organiza os ambientes. É um solo fértil da arte que nos brinda com suas diferentes belezas, trazendo o histórico, o erudito, o moderno e o clássico, que também acompanham as mudanças paradigmáticas histórico-sociais, evidenciando espaços que despertam interesses.

 Nesse contexto, destacamos a concepção do cérebro-mente, que nos leva a fascinante temática da Arquitetura do prazer. O pensar próprio, a autoria e a própria autoridade do pensar articula-se com as experiências que deixam o gosto vitalizador de nossas emoções.

 Para refletir melhor sobre isso, vamos abrir um leque de entendimentos que fundamentem melhor nossas convicções e compreensões.

 Destacamos as palavras de Sydney Harris, quando afirma que “o propósito primordial da educação é fazer da mente humana um lugar agradável para passar nosso tempo livre.” Por isso, parece recomendável uma Arquitetura do prazer e emoção que preserve o interesse e a atração entrelaçada com as emoções, na dinâmica da nossa autopoiese.

 A prazerosidade é a busca por uma vida mais natural e confortável, com projetos que incorporam a sua dimensão. Até que um dia, resolvemos trilhar por caminhos mais suaves e mais cheios de amor.

 Destacamos o amor que temos por nossas vidas

 O encantamento do viver

 A beleza da vivência

 A prazerosidade no nosso cotidiano

 Essas questões acima descritas são as descobertas que podemos usufruir do bem-estar que a natureza, a vida pode nos oportunizar.

 Vale lembrar que, para Mariátegui, a noção de beleza engloba tudo que representa passos em direção a um mundo, onde todos se sintam acolhidos, respeitados, incentivados, enfim, a busca de um convívio humano marcado, pela ternura e pelo conviver.

 

E POR FALAR EM BELEZA…

 Vejamos algumas frases de pensadores importantes

 O homem inconscientemente compõe sua vida segundo as leis da beleza, mesmo nos instantes do mais profundo desespero (Milan Kundera).

 Um cérebro criativo é capaz de transformar em beleza a vida, a natureza e a humanidade. (Charles Chaplin).

 A beleza exterior se engrandece quando serve de invólucro à beleza interior (Shakespeare).

 A beleza não está no rosto e sim no interior do coração. (Charles Chaplin).

 A beleza não está nas coisas, mas na alma. (Menotti del Piccbia).

 A beleza é verdade, a verdade, beleza – é tudo que sabemos na terra e precisamos saber ( Keats)

 A busca pela felicidade associada à beleza deixou de ser um tema ignorado pela ciência e passou a ocupar reflexões sobre esse tema. Em nossa caminhada, muitas vezes, imaginamo-nos ser uma rosa perfumada. Outras vezes, julgamos ser uma linda roseira perfumada.

 É assim que vemos certas pessoas valorizarem suas formas físicas, enfatizando a beleza e perfeição, desconhecendo a riqueza interior de que são portadoras. Em outros contextos, vemos limitações do potencial humano, com autoestima baixa, em outros temos a sensação de crescimentos nos aspectos mais favoráveis para o crescimento pessoal.

 Escrever sobre a beleza humana, é uma tentativa de buscar o lado mais polido e positivo das pessoas, como lapidar um diamante de inúmeras facetas: às vezes vivendo mostrando os nossos dois lados, o claro e o escuro.

 Cada um tem seu encanto, magia, e amadurecimento. Desse modo somos seres integrados ao todo e a tudo, em transformações, somos elos evolutivos, formados por um eu corporal, emocional, mental relacional de belezas transcendentes.

 Às vezes, olhamos tanto para algo e, ainda assim, não conseguimos enxergar, outras vezes, não percebemos que há algo para ser visto. As coisas belas passam despercebidas, mesmo que estejamos perto delas. A beleza nos cerca em uma perspectiva mais ampla, envolvendo todos os sentidos.

 Transcrevemos aqui um escrito de Helen Keller (2002) em seu artigo “Três Dias para Ver”. Ela diz:

 Eu, que não posso ver, apenas pelo tato encontro centenas de objetos que me interessam. Sinto a delicada simetria de uma folha. Passo as mãos pela casca lisa de uma bétula ou pelo tronco áspero de um pinheiro. Na primavera, toco os galhos das árvores na esperança de encontrar um botão, o primeiro sinal da natureza despertando após o sono do inverso. Por vezes, quando tenho muita sorte, pouso suavemente a mão em uma arvorezinha e sinto o palpitar feliz de um pássaro cantando.

 Eu, que sou cega, posso dar uma sugestão àqueles que veem: usem seus olhos como se amanhã fossem perder a visão. E o mesmo se aplica aos outros sentidos. Ouça a musica das vozes, o canto dos pássaros, os possantes acordes de uma orquestra, como se amanhã fossem ficar surdos. Toquem cada objeto como se amanhã perdessem o tato. Sintam o perfume das flores, saboreiem cada bocado, como se amanhã não mais sentissem aromas nem gostos.

 Ressaltamos a necessidade de aprendermos a olhar dentro do coração, descobrindo nossas verdadeiras belezas, também pelas janelas da alma. Assim, perceberemos nossos risos, tristezas e muitas outras emoções.

 

ARQUITETURA CONCLUSIVA

 Como diz Boff: “Cuidar é estar em sintonia, perceber o ritmo e a dinâmica do ser cuidado, respeitar-lhe e permitir o sentir, o acolher, estar afetuosamente junto com o outro.” (BOFF, 2004 apud Diniz, 2011, p. 46).

 Assim, pode-se dizer que somos encontros com as nossas Arquiteturas de vida, somos buscas e que a nossa existência só é possível a partir do outro, com experiências intersubjetivas.

 Tomemos cuidado com o nosso jardim interior para que possamos encantar e receber amor.

AGRADECIMENTOS

 Agradeço a todos que, dedicaram seu tempo lendo essa Autopoiese & Narrativas, com suas reflexões acompanhando nossa visão sobre o que para nós, significa “ARQUITETURA: UNIVERSO DE VIDA.”.

 Meus sinceros e afetuosos arquitetônicos abraços!

Por STELLA GASPAR

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