CALDEIRÃO CULTURAL – A arte que alegra as ruas

CALDEIRÃO CULTURAL – A arte que alegra as ruas

 O Graffiti é uma manifestação cultural que está relacionada ao hip hop se consolidou a partir dos anos 70 nos EUA. A arte urbana é caracterizada por desenhos em paredes, edifícios e ruas, na sua maioria transmitem críticas sociais e reflexões da vida social moderna.

 Visto como arte marginalizada em seu começo, hoje o grafitti encanta e embeleza as ruas com suas mensagens direcionadas às minorias e vivências das comunidades. Sempre com permissão prévia, além de das produções em vias públicas, o grafitti também está em museus de artes urbanas e galerias.

 ‘’A entrevista dessa edição conta relatos de grafiteiros e a importância dessa arte. O colorido que traz alegria e reflexão. Passa uma mensagem positiva e encanta quem vê. Envolva-se’’

 Mari Monteiro, 31 anos, @marimonteiro.art, Bauru SP, além de ser grafiteira profissional é também professora de artes, conta como começou nesse universo colorido e encantador: ‘’Em 2015 quando dava aulas na Fundação CASA, um outro educador que também trabalhava lá, me apresentou o graffiti.’’

 Mari também fala das dificuldades que encontrou em seu começo por ser mulher: ‘’Eu tive de alguma forma sorte por não sofrer preconceito. Não sei se pelas pessoas do meu círculo ou pelas escolhas feitas. Mas é nítido a famosa ‘panelina’ que os homens têm, em só chamar homem para pintar junto. Quando percebi que não me chamavam, criei coragem e comecei a ir sozinha.’’

 Ela também é especialista em caligraffiti, e conta como esse estilo virou sua marca:’’ Calligraffiti é como se fosse uma caligrafia desconstruída. É a união da caligrafia tradicional com o moderno, com suas próprias provocações, mesclando formas e cores,’’ ressalta Mari e ainda conclui explicando melhor o estilo: ‘’É o esforço consciente de transformar uma palavra ou grupo de palavras em uma composição visual.

 Como tal, pretende ser tanto uma experiência estética quanto uma arte provocativa – misturando tradição e precisão com a moderna autoexpressão desenfreada. Venho me especializando nesse estilo através de muita prática e estudo. Não existem muitas informações tão fáceis, então treinando e praticando vou desenvolvendo meu estilo.’’

 Além do movimento levantado pela arte do graffitii, para a população em geral é uma forma de se distrair enquanto o trânsito não flui, uma oportunidade de comtemplar a mensagem do grafiteiro, que levanta reflexões e inspirações.

 Para Mari sua maior inspiração é a família, as pessoas ao seu redor e a luta das minorias. Ela ainda ressalva: ‘’ O graffitii é um ato político. É um tipo de arte gratuita. Na rua impacta todo tipo de pessoa: Rico, pobre, branco, preto, alto baixo.’’

 Ela ainda fala sobre como a arte mudou sua vida e ainda dá dicas para quem quer começar nesse universo imenso de cores e mensagens importantes: ‘’Me fez acreditar em algo maior, me fez conhecer pessoas e lugares que jamais imaginei que conheceria; Estude e pratique bastante, todo começo é difícil. Se inspire, e não tenha vergonha de procurar por pessoas que possam te auxiliar..’’


 Em São Paulo, Flávio Moden, @flaviomoden 41 anos, trabalha com graffiti há muito tempo, porém na pandemia se tornou sua principal renda.

 ‘’Graffiti sempre foi uma paixão e conforme eu evoluía em meus trabalhos foram aparecendo um trabalho aqui e outro al.’’
Ele também criou um gruo no facebook, chamado ‘’grafiteiros’’, lá os profissionais postam seus trabalhos e são procurados e contratados para serviços, é uma maneira de divulgar a arte e ajudar também.

 Flávio conta das suas inspirações e como foi a primeira experiência pintando: ‘’ O meu primeiro painel eu tinha 15 anos foi muito legal que todos os desenhos foram tirados da minha pasta de desenhos e meus amigos me ajudaram. Outra coisa que marcou muito foi que apareceu o pessoal do jornal local e tiraram fotos nossas e publicaram uma matéria; Sinto o momento, o local as pessoas que moram ao redor para criar algo, que faça algum sentido ou que eu acho que falta naquele lugar. Minha arte e bem livre não me prendo a rótulos ou estilos.’’

 Ele participa de alguns projetos sociais onde ONGs e instituições, sempre o chamam para dar oficinas de graffiti, ensinar a arte e desenvolver talentos. Ele conta que: ‘’as crianças ficam encantadas, a conexão é forte, como toda criança gosta de desenhar eles aceitam e se envolvem nas aulas. E é um momento gratificante para mim, poder ajudar e desenvolver a mente dessas crianças’’.

 Flávio explica a importância do graffiti em qualquer ambiente social: ‘’ o graffiti pra mim e a arte mais acessível as pessoal pois está na rua, ninguém precisa ir em galerias ou museus. Ele e a expressão de alguém que teve atitude de fazer uma obra que talvez ele não volte mais a ver, e muitas vezes transformamos comunidades deixando mais alegres e trazendo visibilidades pra todos os locais.’’ E ainda ressalva a liberdade que a arte traz: ‘’Eu acredito que somos livres e não precisamos nos prender a um estilo ou regra, o mais importante pra mim e estar no presente e fazer o que temos vontade de fazer sem se importar com julgamento ou regras que são impostas pela sociedade a arte e livre, o graffiti mudou minha vida e sempre onde eu passo tento transforma a paisagem urbana com cores e vida. Sou grato por tudo que a arte me proporciona. Conhecer lugares e pessoas. A dica que eu posso dar é: se dedicar, estudar desenho. Estude o máximo que puder pois o conhecimento sempre será nossa maior riqueza. Saia com material, explore local mais perto de onde mora, se relacione com as pessoas e explore o mundo somos livres. Graffiti é atitude.’’

 Em Ilhabela SP a grafiteira Drilldrix, @drilldrix, 48 anos, artista visual autodidata, conta que seu primeiro contato com o graffiti foi através da pixação: ‘’ Tinha em torno de 9 anos e meu irmão mais velho participava de um grupo de amigos punks e pichadores, em meados de 1983…1986…na ocasião ainda não compreendia o sentido de tudo aquilo, mas me atraiu a ponto de desejar vivenciar um momento assim.’’

 Drill conta como decidiu se tornar uma profissional do grafitti e como isso mudou sua vida:

 ‘’Eu era cabeleireira, e tinha o hábito de pintar e fazer artesanato, mas sonhava mesmo em viver da arte e para a arte. Foi quando decidi fechar as portas do salão, e ao fazer isto eu abri uma outra porta, e esta me levou naturalmente ao grafitti.’’
Sua primeira arte foi `a noite do luar em uma praia, e ela conta como foi a experiência: ‘’Em uma noite entre amigos, em 2012, estávamos na prainha em Itanhaém e um deles se preparava para fazer um graffiti, sabendo que eu gostava da arte, me convidou para pintar junto com ele, não pensei duas vezes, e sequer sabia que este momento daria novo rumo a minha vida. Iniciei então o meu primeiro graffiti, era um muro bem pequeno. Eu fiz um coração com asas e rabiola, e uma frase que dizia: “Amor à beira mar”. Após isto eu comecei a ter contato com outros artistas e tudo foi fluindo, e assim sigo até os dias atuais.’’

 Sobre as dificuldades por ser uma mulher no meio de um cenário ainda dominado por homens Drix conta que: ‘’Jamais permiti que dificuldades me impedissem de atuar no cenário urbano ou em qualquer outro setor da minha vida. Acredito que estamos vivenciando momentos marcantes, onde diversos males que assolam o mundo, estão sendo desconstruídos, e o machismo é um deles. A arte é aliada da evolução.’’

 Ela fala da importância do grafitti e de como ainda existe preconceito e informações erradas sobre a arte: ‘’ O Grafitti é a manifestação do ser. Através dele transformamos o cotidiano das pessoas que por eles transitam. Provocamos, manifestamos desejos e espalhamos beleza. São poesias espalhadas pelo mundo.’’ Ela ainda fala que já sofreu e ainda sofre preconceito com sua arte, mas que segue pintando e mostrando para as pessoas que o graffiti é arte e não vandalismo como a maioria das pessoas ainda veem. A arte traz alegria e é dessa forma que tem que ser vista. Drix ainda completa: ‘’Como disse antes, todo grafiteiro quando está em ação é marginalizado. Eu tenho minha vida inserida na arte, vivo dela e para ela, e muitas pessoas acham que isto é somente um passatempo, muitos nos avaliam como vagabundos, frase está que já escutei diversas vezes quando estava na ação. Sem contar as inúmeras vezes que perguntam qual é a minha profissão. Eu respondo, eu faço arte, e eles voltam a perguntar: ‘’mas a profissão, você faz o que dá vida?’’ Eles não sabem de nada!’’

 Ela ainda fala das inspirações no dia a dia: ‘’ A natureza do ser é sem dúvida o que move minha arte. E me inspira ver as artes em cada canto, as diversas formas e expressões.’’

 E continua: ‘’ O mundo dá muita visibilidade a acontecimentos tristes, até mesmo cruéis. Somos bombardeados o tempo todo com a ignorância do ser. Através da minha arte, quero retratar o belo, e despertar sentidos opostos a maldade de poucos. Os abusos que destroem o meio ambiente também fazem parte dos temas para minhas criações. Permitir que a alma capte, mesmo que de forma inconscientemente é minha forma de transformar um pouco a realidade.’’

 Drix dá algumas dicas para quem quer se aventurar pelos muros e painéis da cidade: ‘’Atreva-se! Tinta na mão, ideia na parede! O tempo lhe dará todas as ferramentas que irá precisar para evoluir, para isto seja ativo. E nunca esqueça que quanto mais aprender, mais cabe a ti ensinar. E boas artes’’.

Foto 9

Foto C

O Grafitti, assim como o hip hop e break dance, é um movimento de resistência da periferia, uma manifestação e uma forma de se impor e se mostrar para o mundo, através das cores dos desenhos, frases e pinturas. E mesmo marginalizados por algumas pessoas, a arte encanta e colore as ruas e ganha força. Além de levar projetos sociais as escolas em sua maioria em comunidades, mostra às crianças um caminho para se profissionalizar, um meio de desenvolver talentos e de se comunicar com o mundo através das ruas coloridas.
Cada vez mais pessoas aderem a esse tipo de arte, e o preconceito ainda existente, tem perdido sua força. Isso fortalece o profissional, espalha a mensagem e enaltece a arte. Viva o graffitii!

Por JUH HUNZICKER

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