CONTOS – Cena bíblica por Arcadio Zapata

CONTOS – Cena bíblica por Arcadio Zapata

Estávamos os doze e ele, sentados ao redor da mesa de madeira sobre a qual repousavam restos de comida e taças de vinho derramadas, detrás de nós estavam vários homens com suas esposas e filhos. Todos nós o ouvíamos em silêncio em quanto ele nos falava com benevolência, transmitindo o legado de sua palavra a nós e aos demais participantes. A sala era espaçosa e iluminada pelo fogo de duas tochas, dando-nos um ambiente confortavel e incógnito de cumplicidade. A porta que dava para a rua assim como a janela estavam cobertas com cortinas velhas, eran vigiadas por dois homens melancólicos e desconfiados, o estranho era que a rua estava vazia sendo que apenas começava a anoitecer. Ele serviu de novo o vinho nos nossos copos o seu olhar tornou-se severo por um momento quando se aproximou de mim, inquieto olhei para a rua como se assim pudesse encontrar alívio para a angústia que começava a sentir, quando virei para ele ainda continuava me olhando enquanto falava, mas suas palavras num princípio me pareceram incompreensíveis para logo depois, aos poucos, tornar-se nítidas qual reflexo da lua sobre o espelho da água. O ouvi dizer:

– O que você fez, feito está… – fiquei com medo de entender o significado de suas palavras então me escondi atrás de outro dos comensais e olhei para trás em direção à rua, pelo buraco da velha cortina enxerguei um homem correndo com expressão de medo em nossa direção, os vigias inquetos tentaram detê-lo, ouviu-se um tumulto na periferia, numa esquina da rua, apareceram vários centuriões comandados por um homem de túnica preta, que se aproximava, os vigias tentaram resistir mas os centuriões facilmente os reduziram, a multidão recuou, mas ele continuou sentado sem se mover, implacável. Os guardas entraram em nossa sala afastandonos a todos com suas armas empunhadas. O homem de preto dirigindo-se diretamente detrás dele o agarrou pela nuca e manipulando sua cabeça como um ventrilocuo, viro seu rosto em minha direção, e olhando para mim, gritou:

– É Cristo um mentiroso ou um enganado…

Por ARCADIO ZAPATA

 

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