CONTOS E MINICONTOS – Até o último suspiro por Adylsown Scritas

CONTOS E MINICONTOS – Até o último suspiro por Adylsown Scritas

 Rico, Jorge e Piter eram amigos de trabalho e moravam no mesmo bairro. A fim de economizar combustível combinaram de fazer revezamento com seus carros, cada semana um deles se encarregava de pegar os demais em suas casas.

 Certo dia, Rico era o motorista da semana. Como de costume Jorge e Piter o esperavam numa pracinha próxima a avenida principal. Durante mais de dez anos Rico sempre foi o mais pontual entre eles, muitas vezes até antecipava o horário combinado, 06:45h, e encontrava os amigos no meio do caminho. Mas nesse dia já passava das 07:00h e nada dele chegar. Eles estranharam mais ainda quando ligaram e não tiveram retorno algum, e para acabar de ferrar uma forte chuva anunciava sua chegada.

 -Aquele filho da puta vai ter que pagar um dia a mais por isso, disse um deles enquanto decidiram ir até a casa dele, que ficava a poucos minutos dali.

 De longe avistaram o carro do Rico que estava ainda em frente da casa dele, porém tinha um pequeno alvoroço, o que estaria acontecendo?

 Eles foram correndo em direção aquelas pessoas, ao se aproximarem escutam gritos desesperados:

 – Meu Deus, atiraram nele… ele está morto?!!!

 E ele era o Rico, estava alvejado no chão, as gotas de água da chuva se misturavam as de sangue e isso faziam escorrer como se fosse um rio vermelho.

 Vizinhos disseram ter visto dois caras numa moto o abordarem, que ao perceber que era um assalto logo passou o celular e a carteira não esbanjou nenhuma reação, porém os marginais não hesitaram e atiraram nele a sangue frio.

 -Liguem para o SAMU, gritou Piter

 Alguém disse que a ambulância estava numa ocorrência e iria demorar um pouco a chegar…

 Um médico que passava na hora parou pra socorrer e afirmou que ele não sobreviveria, havia levado vários tiros e no mínimo um na cabeça e perdido bastante sangue.

 – Infelizmente não há nada a se fazer, lamentou o Dr.

 (No Brasil antes de matar a gente, se certificam de eliminar qualquer fé e esperança que venhamos a ter.)

 – Jorge, vamos levá-lo ao hospital, gritava Piter, na esperança de salvar o amigo.

 – Para Piter! não a mais nada a se fazer, você não ouviu o Dr? Ele já era, disse Jorge.

 Entretanto, Piter percebeu que Jorge ainda respirava.

 Em meio a gritos, tudo ficou em câmera lenta, e Piter inconformado com a evasão de empatia sentiu um vasto sentimento de solidão, mesmo com tanta gente por ali.

 Num momento de desespero pegou as chaves no bolso do amigo e o arrastou para dentro do carro.

 Durante o caminho para o hospital, Rico abriu os olhos e com o jeito extrovertido de sempre disse:

 – Piter! vai devagar filho da puta, quer nos matar?

 – Não fala nada cara, respira fundo que vai ficar tudo bem.

 – Se continuar dirigindo mal desse jeito, vão ter dois mortos aqui. Aí sua mulher vai me ressuscitar só pra me matar de novo, riu Rico com uma voz meio cansada.

 Piter sentiu, e com lágrimas descendo pelo rosto falou:

 – Cara, você não perde o humor nunca né?

 – Nem morto, respondeu Rico.

 Os dois gargalharam.

 Agora num tom mais tenso, a voz mais fraca e trêmula Rico agradece ao amigo por ter tentado salvar sua vida, e diz um até mais, deixando o amigo num mix de tristeza e alegria.

 Ao chegarem no hospital, a equipe médica constatou que, infelizmente o rapaz já estava sem vida.

 Piter nem se lembrava como e quanto tempo levou para que chegassem ao hospital, estava incrédulo com tudo aquilo, e ali mesmo desabou, abraçado ao corpo do amigo.

 Dias depois, Jorge perguntou a Piter o porquê de ele ter agido como um maluco, sabendo que Rico já estava praticamente morto.

 – Se eu tivesse ficado com certeza ele iria morrer. Porém se eu o levasse, como fiz, ele poderia sobreviver. Decidi levá-lo pois assim teria ao menos a chance de tentar. E essa foi a melhor oportunidade que já tive na vida.

 ***************A.S ***************

 As falsas expectativas de que não vai dar certo, muitas vezes nos levam a decisões errôneas de desistir de tentar.

 A possibilidade de não obtermos o resultado desejado, só nos mostram que existem claras chances do contrário.

 Se tratando disso, as estatísticas implantadas em você, podem ser falhas.

 Não importa se tem 99 ou 1% de chance de dar certo, o que aponta as probabilidades reais é a fé que você deposita nelas.

Por ADYLSOWN SCRITAS

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