CONTOS E MINICONTOS – Lembranças por Jaque Alenncar

CONTOS E MINICONTOS – Lembranças por Jaque Alenncar

Após um exaustivo dia de trabalho, estou sentada na varanda, a minha cadeira já está adaptada até a forma como me aconchego nela como se fosse o colo da minha mãe. E por falar em mamãe: — Ah! Que saudade dela…
Novamente estou perdida em meus pensamentos, os olhos ainda estão abertos e meu corpo está aqui, mas minha alma há muito vaga pelas terras que não posso ainda alcançar, às vezes tenho a impressão de que não passará de delírio ou de um desejo que insisto em alimentar.
Imaginei tantas vezes que ele estaria aqui comigo, àquele que me rouba a paz e me incendeia sem mesmo ter me tocado. Fiz as malas inúmeras vezes para ir ao seu encontro, que nunca chegou a acontecer, culpei-me pelas ausências, pelos distanciamentos, pelo amor que morreu.
Fui incapaz de perceber que o seu amor era demonstrado de outras formas, que o seu cuidado poderia ser tão sutil que se confundia muito com a falta de reciprocidade. Você sempre esteve aqui comigo, e eu egoistamente quis que me amasse segundo as minhas vontades.
Passou anos em que tudo em você me encantava, a menor possibilidade de te ver já me deixava eufórica, eu era apenas desejos e entregas, uma paixão desenfreada habitava o meu ser, mas tudo foi adormecendo. Hoje percebo que talvez, apesar de querer tanto, não fosse mesmo para ser.
Talvez esse amor que ainda é enorme e carrego com tanto pesar da saudade em não ter quem nunca tive, me sirva de lição para que eu aprenda que há amores que realmente não são para serem vividos, apenas sentidos no coração.
Algumas lágrimas de frustração correram pelo meu rosto por conta das constatações que fui obrigada a aceitar, como uma dose amarga de veneno que te mata aos poucos.
Adormeci ali mesmo, naquela cadeira fria que abraçava a minha angústia diária. Aprendi a viver com esse desejo, a vontade incansável de te olhar nos olhos, te ver vindo ao meu encontro, amassar meu corpo com o seu e sufocar meus gritos de amor com a sua paixão, contra qualquer parede ou muro, onde o nosso sentimento pudesse existir sem julgamentos.
Não tenho ideia de quantas noites fui dormir com o peito cheio de esperança de que iríamos finalmente conseguir o tão esperando encontro, mas a vida se encaminhou de nos levarmos a lugares diferentes, situações e momentos em que o outro deixou de existir, mesmo que instantaneamente.
O frio da madrugada, faz o meu corpo gelado reclamar e pedir uma cama quentinha.
Nem sequer eu tinha tirado a roupa de trabalho, mas estou me sentindo tão cansada que me jogo na cama da forma como estou vestida, já é tarde, estou sozinha, com sono, decepcionada e exausta. Só queria esquecer que tudo isso um dia existiu, e estava diante de uma das minhas opções para tentar ao menos não fazer daquilo o único pensamento da minha mente. Então, fecho os meus olhos e adormeço.

Por JAQUE ALENNCAR

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