CONTOS E MINICONTOS – Relógio por Eduardo Chiarini

CONTOS E MINICONTOS – Relógio por Eduardo Chiarini

A esposa, enlouquecida, irritada andava de um lado para outro sem parar. Pensou em quebrar mais algumas coisas para aliviar a tensão.

Resolveu que não. Pegou o carro, saiu em disparada.

Parou, sem saber onde estava, e ligou desesperada para uma amiga.

– Reclamou por horas a fio, por telefone.

A amiga cochilava vez ou outra.

Entretanto, preocupada, pediu para que fosse para casa dela passar lá a noite.

 Mas como ir?

Não sabia onde estava.

Avistou um carro da polícia. Poderia ser a salvação.

Não era.

Tudo começou algumas horas antes em um jantar que o casal oferecia à amigos mais chegados.

O marido tinha um traço de personalidade intrigante.

Era muito meticuloso e, vez ou outra, distraia-se sem saber bem o que dizer e, nessas ocasiões, confuso, sem ninguém perguntar, informava as horas.

– São 9 horas.

Um pouco depois, em meio à uma conversa sobre os rumos da economia, informava:

– São 10 horas e 30 minutos.

As pessoas olhavam-lhe espantadas sem saber o que dizer.

Novamente: são 11 horas.

Os convidados começaram a pensar, equivocadamente, que tratava-se se uma “convite velado” para que tomassem o rumo de suas casas, entretanto o jantar estava em pleno andamento, e iriam saborear uma deliciosa codorna.

A esposa, já irritada, bebia taças e mais taças de deliciosa champanhe de altíssima qualidade.

– São 12 horas. Naquele momento, os convidados começaram a se sentirem profundamente incomodados.

Lentamente, um a um, foram se despedindo e indo embora, com as desculpas mais improváveis possíveis.

A esposa enlouquecia aos poucos.

Começou uma discussão com o marido, ainda em meio aos convidados, possivelmente pelos efeitos do álcool.

– Você parece um relógio Cuco.

– Vou te chamar a partir de agora de Cuco.

– Só informa as horas e com esta atitude acabou com o nosso jantar.

O marido tenteava, em vão, contemporizar:

– Você sabe querida….

– Não quero saber de nada, já jogando um prato no chão.

E saiu para fora da casa, pegou o carro, onde voltamos à nossa história.

O policial se aproximou.

Percebeu, por experiência, que a jovem mulher não estava em um estado normal.

 Adotados os procedimentos de praxe, verificou um nível elevado de álcool.

 Sendo conduzida à delegacia.

A amiga desesperada ligava ininterruptamente.

O marido chegando, e sendo recebido aos tapas, uma briga em plena delegacia. Ele informava: São 3 horas e 30 minutos da manhã.

Por Eduardo Chiarini

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