CONTOS E MINICONTOS – Vivendo pelo Sentir por Adriana Strella

CONTOS E MINICONTOS – Vivendo pelo Sentir por Adriana Strella

Em 1997 eu estava em um relacionamento de quase oito anos e confeccionava roupas de cama mesa e banho bordados em ponto cruz.

O bordado manual é demorado e eu precisava que as fábricas onde eu comprava aviamentos, linhas e tecidos, me dessem mais prazo, pelo menos trinta e sessenta dias, mas eles diziam que me dariam até mais se eu tivesse um cartão ouro do Banco do Brasil. O meu cheque era especial, mas era do Banco Bradesco.

Eu coloquei na cabeça que ia abrir uma conta no Banco do Brasil e ter meu cartão ouro. Meu esposo tentou me fazer desistir, ele não queria que eu trabalhasse e nem estudasse, dizia que meus três filhos eram meus diplomas, é claro que eu nunca aceitei isso. Eu confio em minha intuição, ela nunca me falta, eu sabia que iria conseguir, a menos que eu desistisse.

Um dia, fui ao Banco do Brasil e meu esposo me acompanhou, ele foi falando em minha cabeça, que era difícil abrir conta corrente naquele banco, que eu não precisava da conta, que era besteira. Eu não ouço nem meus próprios pensamentos, porque iria ouvir os dele que eram negativos? Bem, cheguei no banco, fui direto ao balcão e perguntei o que era preciso para abrir a conta.

Eu precisava de alguns documentos e quinhentos reais. Voltamos para casa e meu esposo que hoje é ex, não parou de falar em minha cabeça. Naquela mesma semana providenciei todos os documentos e o dinheiro. Retornei ao banco e não consegui abrir a conta, estava tudo lá, mas não consegui.

Eu olhava para o rosto de meu esposo e sentia uma certa satisfação. Mas eu não desisti. Voltamos para o carro, eu coloquei todos os documentos no porta luvas. Fomos para casa e guardei o dinheiro na gaveta da mesinha de cabeceira. Todas as noites antes de dormir, eu mentalizava a conta aberta e sentia que já era real.  Eu sabia que era apenas uma questão de tempo para acontecer.

Na semana seguinte fomos ao centro da cidade, eu nem estava pensando em ir ao Banco do Brasil, eu fui ao Bradesco tirar um extrato e não tinha levado os quinhentos reais, mas quando estávamos passando em frente ao Banco do Brasil, de repente falei para ele parar o carro.

Pedi que parasse em qualquer lugar porque eu precisava ir ao banco naquele momento. Ele se assustou, perguntou se eu estava doida, enquanto ele procurava um lugar para estacionar eu falei: Pare em qualquer lugar e eu desço, me espere aqui. Ele me perguntou: Adriana, você vai fazer o que no banco sem dinheiro, você trouxe dinheiro? E eu: Eu vou abrir minha conta, não quero saber de dinheiro não, estou levando o extrato do Bradesco.

Ele me chamou de doida, e continuou: Você vai abrir conta em um banco com o extrato de outro? Você vai passar vergonha lá, esquece isso. Segui em frente, quando entrei no banco, não fui ao balcão, fui direto a mesa do gerente. Perguntei a ele o que era preciso para abrir uma conta e ele me respondeu: A senhora abre a conta com quinhentos reais, automaticamente já tem a sua disposição dois mil reais de empréstimo que já fica na conta, e já foi me entregando uma lista de documentos que eram os que eu já tinha em mãos.

Então eu olhei bem nos olhos dele e disse: Eu não tenho quinhentos reais aqui comigo, abre minha conta e já que eu vou ter os dois mil reais de empréstimo, já ficam na conta. O gerente olhou para minha cara e sorriu espantado falando: a senhora não trouxe dinheiro nenhum, quer abrir a conta com zero e ainda quer que eu deixe dois mil na conta?

Dê uma olhada nesse extrato, entreguei o extrato do Bradesco para ele, ele pegou de minha mão, olhou, e eu continuei: para abrir conta aqui eu já tenho os documentos, e os quinhentos reais, eu poderia ir agora sacar da conta do Bradesco só para fazer bonito para o senhor, mas depois da conta aberta eu iria tirar os quinhentos daqui e devolver para o Bradesco porque eu tenho cheque para cobrir, e iria deixar os dois mil de empréstimo na conta, como eu estou te pedindo para fazer.

Ele ficou calado por alguns segundos, respirou fundo, passou a mão na testa e falou: É, faz sentido! Pela sua sinceridade e coragem, eu vou abrir a sua conta. Ele chamou um funcionário e falou para ele abrir a minha conta e imprimir meus cheques, eu falei rapidamente, ah e quero uma conta ouro, porque se não, sua conta não me serve. Nas fábricas só me dão mais prazo com um cartão ouro.

Fiquei duas horas no banco, mas saí de lá com o talão de cheques ouro, cartão ouro, e dois mil na conta corrente já disponíveis. Então no total foram, dois mil na conta, dois mil no cartão e dois mil no cheque. Quando retornei ao carro, meu esposo estava dormindo abraçado o volante, bati no vidro pedi para abrir a porta, falei que tinha conseguido abrir a conta, mostrei o talão de cheques e o extrato, ele espantado, sorrindo me perguntou: Adriana, como você conseguiu abrir essa conta?

Eu soube argumentar, vamos embora! Ele ficou sem acreditar…não acredito que você conseguiu abrir essa conta sem dinheiro Adriana. Qualquer pessoa pode fazer isso e muito mais, basta aprestar atenção na voz interior, você não escuta a sua!

Por ADRIANA STRELLA

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