CONTOS – Praia amorosa, trovão invejoso por Flora Herrmann

CONTOS – Praia amorosa, trovão invejoso por Flora Herrmann

Você se aproximou e me disse que queria muito, mas muito me levar à praia. Então fomos. Eu e você no teu fusca velho. Cinco horas, cinco horas de pura alegria. Chegamos ao meio dia, a praia chuvosa, o sol se esconde às quartas-feiras. A casinha simplória. Nos invernos, fria, nos verões, quente. Você leva as malas para cima, deixa-as no nosso quarto e desce. Quer chá? Quero sim. Sentamos na varanda, observamos a brecha que há entre as árvores: o mar lá trás. Você beberica o teu chá e eu te observo. Bora pular no mar? Não soube direito como responder. Pular, que nem criança? Ah, Paulo. E vamos. Com dor de ouvido e dor de coração, pulamos juntos no mar. Você me abraça, eu deixo. Nossas peles escorregam, não prendem. Mergulho, pego a areia do fundo do mar e contemplo-a ao colorir os meus dedos. Nos sentamos na divisão entre areia e mar, queremos o sol, mas o sol é tímido e a chuva não. Ouvimos um trovão e voltamos para casa, passos lentos e molhados na rua de asfalto. Meus dentes batem, eu tremo. Você me traz uma toalha, e me envolve com amor. Sentamos nas cadeiras cansadas e nos fitamos. E finalmente vejo. Claro como a luz do dia: você ama e eu não. 

Por FLORA HERRMANN

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