CRÔNICAS – Tempo por Zeca Castro

CRÔNICAS – Tempo por Zeca Castro

 Decidi navegar um pouco pela infância, como tudo era novidade repleta de magia, talvez não o seja para todos, infelizmente há infâncias que marcam pela negativa, muitos nem têm a oportunidade legítima de ter uma infância, enfim não falarei de coisas tristes por agora…

 Quando era pequenina, onde quer que fosse, o Sol sempre me acompanhava bonacheirão, com um sorriso grandioso, tal como o Sol – o nosso astro rei deve ter e as nuvens? Verdadeiras artistas que se desenhavam de mil e uma formas, passava grande parte do meu tempo a observá-las com dedicada atenção.

 Á noite, quando me era permitido, deleitava-me com a lua sonolenta e o brilho cintilante das estrelas que brilhavam só para mim, como se fossem entes queridos que partiram a matar saudade.

 Recordo quando queria apanhar a minha própria sombra e quando fazia oferendas matando as flores pelo caminho, o tempo foi passando e não precisei de apanhar a minha própria sombra, ela assumiu-se como identidade principal, no passado. Aconteceu e acontece com muitos, a escuridão também assume o seu poder ao longo da vida. Começamos a ter pensamentos obscuros e perdemos a capacidade de sonhar e a magia perde-se, há quem diga que se perde na Ciência, eu não, eu digo que se perde no conceito generalizado de adultez, que considera que um adulto deve ter maturidade, maturidade? Ser prático, com os pés assentes na Terra, dedicado ao trabalho e à família, ou seja, trabalhar horas a fio para poder comprar uma vida, como a vida se tornou uma compra? Já repararam que até quando conhecemos outra pessoa pergunta sempre em que trabalhamos, deve ser a segunda ou a terceira pergunta, depois do nome e em algumas situações mais caricatas depois do estado do tempo, até se torna aborrecido conhecer pessoas, eu prefiro saber se prefere chá ou café, se gosta mais do dia ou da noite, mas para isso é preciso atravessar o período inicial aborrecido do nome e do trabalho e do ter, o ter torna-se o objetivo principal, esquecemos o apenas ser da infância, as estrelas estão mortas e as nuvens são partículas de água na atmosfera.

 A lógica tem o cetro e a coroa, desvenda pequenos mistérios, mas procura desvendar o que nunca poderá ser desvendado, eu não creio, o que eles julgam que sabem? O BIG BANG? Pelo menos, para mim, não é explicação suficiente, que me sustente no mundo da lógica, talvez alguém só nos permita chegar onde realmente quer, ou talvez não exista alguém, apenas uma ordem misteriosa neste caos, que o Tempo revela numa escala universal, na humana um caos por muito tempo.Talvez nem estejamos a viver no primeiro Universo, mas em algum subsequente, no qual toda a informação do anterior não se perde e passa para o próximo, talvez temos mesmo que estar alguns mortos e outros vivos em alguns momentos da história, seremos nós mesmos o Universo? As partículas e as antipartículas, os 1s e os 0s?

 Antes o universo era considerado estático, ora se fosse estático seria muito mais fácil a viagem no tempo, talvez algum universo tenha sido estático, neste tempo, fala-se em física quântica e como ele é dinâmico e como podemos viver em vários sítios em simultâneo, mas não serão apenas as nossas várias formas – material, espiritual e mental, que ganham vida?

 A viagem que muitos fazemos pelo Tempo, esse soberano, acaba por nos mostrar que perdemos demasiado tempo no Ter. para mim, uma divindade misteriosa que existe e não existe, pois o único que existe é um presente constante, instantes que passam, o passado já não existe, nem o futuro sequer, só um presente fugaz, o passado são apenas viagens da alma, se algo se torna passado, não pode regressar como presente, como a infância, por muito que viajemos até lá, nunca voltaremos a ser como éramos, depois de um percurso que se tornou passado, podemos é fazer do passado uma aprendizagem e do futuro algo inexistente mesmo, que ganha forma nos instantes presentes que vivemos, nos quais devemos estar inteiros…

 Existirá algo realmente? Talvez tudo seja uma miragem, o sonho de alguém, ou até nós podemos estar mortos a sonhar com as nossas vidas.

 Tudo é um grande enigma por decifrar, não direi decifrar, mas direi sentir, porque é disso que nos esquecemos com o tempo – de sentir e de valorizar o sentir sem qualquer tipo de explicação.

Por ZECA CASTRO

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