CRÔNICAS TONS DO COTIDIANO – As vontades nossas de cada dia

CRÔNICAS TONS DO COTIDIANO – As vontades nossas de cada dia

 Alguém conhece a “expressão dar balão”? Então, na minha adolescência eu tinha muita vontade de cometer essa pequena infração. Observava os meninos tão ágeis, quando o motorista e o, atualmente extinto, trocador piscavam, lá se iam os danados sem pagar a passagem. Desciam rindo pela porta traseira e eu os acompanhava observando pela janela para ver se não tinham caído, se machucado. Eu achava engraçado e ficava doida para fazer a mesma coisa, mas cadê a coragem? Imagine eu, uma adolescente com saia de preguinhas, aquele uniforme que eu detestava, me esborrachando no chão? Porque eu achava que comigo daria errado. Imaginava minha saia rasgando, minhas pernas raladas, minha mãe me esculhambando…. Era um misto de vontade e medo.

 No entanto, encorajada pelas más influências, resolvi arriscar. Entrei no ônibus, sentei no último banco. Minhas mãos suavam frio. Tive vontade de desistir. Respirei fundo, observei ao redor e quando o ônibus fez menção de parar, me levantei e num ímpeto desci. Tive uma crise de riso, não sei era nervoso, ou apenas um ataque de infantilidade. Não caí, não rasguei a saia, não ralei as pernas. Deu tudo certo. E o melhor, ainda tenho história para contar.

 Quando já estava em casa me perguntei se os passageiros tinham percebido meu ato de rebeldia…. Até hoje não sei. Não olhei de volta para o ônibus quando, finalmente, “dei balão”, não por vergonha, mas porque estava concentrada no deleite de ser, por uma fração de segundos, uma “menor infratora.”

Por FLÁVIA JOSS

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