CRÔNICAS TONS DO COTIDIANO – Inacabado

CRÔNICAS TONS DO COTIDIANO – Inacabado

 Acordei com uma sensação estranha e uma frase na cabeça: Tudo que poderia ter sido e que não foi. Fiz meu café e as palavras martelando em minha mente. Achei que as tivesse lido em algum lugar, mas não lembrava onde. Então fiz uma busca no google e me deparei com o poema Pneumotórax, de Manuel Bandeira, lido por mim várias vezes ao longo da vida. O verso diz assim “A vida inteira que podia ter sido e que não foi.”

 Não gosto de deixar inacabadas as coisas que tenho para fazer, gosto de ir até o fim. Mas será que dá para ir até o fim em tudo? O poeta Fernando Pessoa, no poema Mar Salgado, eternizou a máxima “Tudo vale a pena se a alma não é pequena.” Será mesmo? Será que vale o arrependimento por fazer ou por nem tentar? Talvez dependa de cada situação… Li esses dias “Não amar dói mais.”, do escritor Lucão, fiquei bastante pensativa… O amor sempre nos colocando em estado de reflexão… Segundo Vinícius de Moraes, “quem ama sofrerá de qualquer jeito”, eis a questão: sofrer sem amar ou sofrer por amar? Precisaríamos de anos de análise e terapia para resolver esses conflitos…

 Quando meu filho era menino, o presenteei com o livro Tantos medos e outras coragens, de Roseana Murray, uma história deliciosa sobre como a trama da vida nos mostra que medo e coragem fazem parte da natureza humana. Nas minhas divagações reflexivas imaginei afetos que se desfazem sem se concretizarem por medo, medo de errar, de magoar, de sofrer, de não durar, de ter que recomeçar, de ferir, de ser ferido. E aí deixa-se de viver uma história que poderia ter sido e que não foi… A sensação de terminar algo que não chegou ao fim deixa um sabor acre na boca, pelo menos na minha. Torço para que todos tenham ousadia para explorar seus infinitos com a liberdade dos grandes poetas, e parafraseando o escritor Lucas Lujan, digo que é melhor amar em queda livre, de olhos abertos, sem medo do chão porque sabemos que ele vai chegar.

Por FLÁVIA JOSS

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