EU JÁ ESTIVE EM: RESENHAS – Mara

EU JÁ ESTIVE EM: RESENHAS – Mara

“Mara – Uma mulher que amava Mussolini”, de Ritanna Armeni

 Hoje vamos falar sobre Mara – Uma mulher que amava Mussolini, de Ritanna Armeni, publicado pela Editora Vestígio. Voltamos a Itália de 1930, com Mussolini a frente do governo. Mara narra a história apresentando sua família, seus sonhos e sua amiga Nadia, inseparáveis.

 O livro é dividido em três partes: Esperança, A Dúvida e O Fim e é incrível ver o desenrolar da história justamente nesse caminho. Mara começa a narrativa feliz e cheia de alegria vivendo uma vida normal e com fé de que as decisões tomadas por Mussolini referente à guerra eram as mais assertivas. A dúvida – parte dois do livro e sentimento presente na vida de Mara – vem com um acontecimento inesperado na família da protagonista e com o andamento da guerra e tudo o que ela pode causar a uma família. E o fim, já sabemos o que vai acontecer com Mussolini, mas ver a mudança de Nadia na história diante dos acontecimentos é muito impactante.

 Seguindo a leitura, há sempre um capítulo narrado por Mara contando sua história e um capítulo com dados sobre mulheres que fizeram parte da história real que aconteceu na mesma época em que se passa o livro e há sempre um contexto que liga o romance aos fatos narrados.

 Num dos capítulos baseado em fatos, por exemplo, a autora explica sobre a “mulher crise”, que vive na cidade, usa produtos estrangeiros, tem costumes decadentes e, naturalmente, faz poucos filhos. Já a “mulher autêntica” vive no campo, não segue a moda, tem orgulho de suas roupas rurais, é forte e prolífica. A primeira nunca será a mãe exemplar pretendida pelo regime; a segunda de adapta às suas expectativas. Voltando para Mara, essa com certeza, é mulher crise, já que adora estudar e fica pensando o que fazer com tanto estudo se a vida for apenas se casar, fazer filhos e ficar em casa.

 Há muitas mulheres mencionadas no livro também, como Margherita Sarfatti, a mulher que “inventou” Mussolini. Judia, ela deixa a Itália pela Argentina, era a rainha da Itália sem coroa e depois se tornou a mendiga coroada no exílio.

 Sinopse: nascida em 1920, Mara tem 13 anos quando esta história começa. Ela vive em Roma, seu pai é lojista e sua mãe, dona de casa. Sua melhor amiga, Nadia, uma fascista convicta leva Mara para ouvir Mussolini na Piazza Venezia sem o conhecimento de seus pais. Mara é uma menina como tantas outras, gosta de ler e sonha ser escritora ou jornalista quando crescer. Alimenta muitos sonhos e esperanças: estudar literatura latina e tornar-se bonita e independente como sua tia Luisa, com seus pequenos chapéus e seu caminhar rápido e confiante. O futuro parece ao seu alcance, seguro sob os olhos do Duce, cujo retrato é exibido entre duas poltronas em sua sala de estar. Isto é o que Mara pensa de Benito Mussolini, assim como muitos outros italianos que se apressam a ficar sob a varanda na Piazza Venezia. Até que a dúvida se instale, produzindo pequenas rachaduras, abrindo feridas e alterando o destino individual e coletivo. É ao narrar as histórias das mulheres, seus desejos de liberdade, emancipação, revolução, mas também de amor, ternura, família, conhecimento e plenitude que Ritanna Armeni nos revela seu verdadeiro talento.

Ritanna Armeni, jornalista e escritora, trabalhou nos jornais Manifesto, Il Mondo, Rinascita e L´Unità. Foi porta-voz do ex-presidente da Câmara dos Deputados italiana, Fausto Bertinotti, e apresentou o telejornal Otto e Mezzo com Giuliano Ferrara. Atualmente escreve para L´Osservatore Romano, Il Foglio e Rocca. Publicou entre outros livros: As bruxas da noite: a história não contada do regimento aéreo feminino russo durante a Segunda Guerra Mundial (2009, Seoman), La colpa delle donne – A culpa das mulheres (2006, Ponte alle Grazie) e Parola di donna – Palavra de uma mulher (2011, Ponte alle Grazie).

 

Algumas frases de destaque do livro:

 – Quando sou um pouco mais realista – raramente -, penso que poderia trabalhar em uma grande biblioteca, de tanto que eu gosto da companhia dos livros.

 – Houve mortos, mas a guerra é assim, e as perdas foram, sobretudo, do inimigo.

 – Se já é difícil ter pouca comida, mais difícil ainda é saber que ela está ali, mas bem fechada em uma gaveta e que não pode ser tocada, senão, do dia seguinte, fica-se de estômago vazio.

 – A relação paradoxal entre a guerra e as mulheres se repete. A guerra causa danos, desestabiliza, mas também é um momento de emancipação.

 – Mantenha a cabeça erguida e olhe quem está ao seu redor como se você tivesse um segredo, algo que somente você tem conhecimento e não vai revelar a ninguém.

 – Entre as coisas que aprendi, está justamente esta: não acredito em promessas.

Por JANAÍNA LEME

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