HISTÓRIA DAS ARTES – A História Do Egito

HISTÓRIA DAS ARTES – A História Do Egito

 A história do Egito exerce um fascínio muito grande sobre as pessoas, e sua arte é estabelecida e fortalecida pela forte aproximação com a esfera religiosa. Nesse sentido um dos pensamentos mais coerentes que existe é o de que toda obra artística reflete a visão de mundo do seu criador, servindo como uma espécie de testemunho de seu tempo, enquanto expressa um ponto de vista da sociedade. Com a arte egípcia não seria diferente, vem conectada com a história dessa civilização.

 Precisamos das crenças, de acreditar em algo para poder expressa-lo, sendo que a emoção é o que nos move, a crença nos diz o quão forte essa emoção será. A nossa arte reflete nossas crenças, nossos valores: retrato social, político e econômico de épocas. É importante entender, antes, para absorver o conhecimento. O que conhecemos de história dessa civilização é, sobretudo, que a religião é responsável pelo desenvolvimento da arte egípcia. Os egípcios eram religiosidades, pela crença dos deuses e na vida após a morte, considerando esta mais importante do que a vida terrena. Tinha como função aproximar os humanos e os deuses.

 Logo para iniciar esse tour literário vou deixar alguns questionamentos para reflexão com a leitura dessa coluna: a arte contemporânea é totalmente livre dos traços das manifestações artísticas da antiguidade? Fazemos arte, na atualidade por puro prazer? Ainda restringimos a arte a uma parcela da população, trancada em museus, etc.? Até que ponto há liberdade de expressão? Venho com o propósito de retratar parte do que foi a arte egípcia e o quanto significou e significa para os artistas, relacionando-a com a contemporânea, traços visíveis no nosso meio, mas com novas “nuances”.

 O Antigo Egito, uma das civilizações mais importantes e originais de todos os tempos, nasce às margens do Rio Nilo, fundamental para o seu crescimento e evolução. O Rio Nilo teve tamanha importância para o Egito, que o grego Heródoto disse a célebre frase: “O Egito é uma dádiva do Nilo”, para demonstrar que o rio Nilo possibilitou o desenvolvimento da civilização egípcia em todos os aspectos; uma civilização fortemente atrelada à religião, cuja ação direcionou toda a sua organização político-social.

 Quando se fala em múmias e pirâmides praticamente todas as pessoas buscam na cabeça aquelas imagens vistas em algum filme, revista de viagem ou livro escolar. Sendo assim, é uma das civilizações estudadas na escola que mais encanta e fascina e, permanece ecoando por longo tempo. Não tem quem não deseje ficar frente a frente com os templos gigantescos e construções milenares, onde viviam os faraós e a mística dos deuses antigos. Viver na pele as melhores aulas de História da vida estudantil! Viajar em sonhos e acordar no Egito Antigo, já pensou caro leitor?

 Como aprenderiam com esse povo, suas culturas! Os amantes de cerveja, ao aportar no cais se banqueteariam com a época dos faraós, já que a moeda corrente, nesse tempo era a cerveja; as mulheres sentir-se-iam privilegiadas com o cuidado de pais/maridos no período de suas regras. (Os homens egípcios podiam tirar uma folga no trabalho para cuidar de esposas e filhas menstruadas); e aqueles apaixonados pelos bichanos se sentiriam em casa, nessa civilização, quem matasse um gato era punido com a morte. Por tanto, continua inspirando artistas e arquitetos, milênios depois de seu surgimento. Vamos conversar sobre arte egípcia?

 Todas as manifestações artísticas produzidas pelos egípcios, entre os anos de 3200 a.C. a cerca de 30 a.C., são concebidas como arte desse povo. A arte egípcia visava retratar fatos políticos e religiosos, para apreender a que nível se manifesta estes objetivos, se torna essencial levar em consideração a figura do faraó: soberano absoluto, dado como representante de deus na terra, aspecto divino que irá direcionar as manifestações artísticas.

 Profundamente ligada à religião (o eixo em torno do qual todo o sistema social girava) e também na ideia da morte como uma passagem para outro plano, a arte egípcia assumiu, sobretudo, a forma da pintura, escultura e arquitetura. Tendo como função de aproximar os humanos e os deuses, refletindo vários preceitos religiosos. Surge também junto a estas, a arte funerária, com as estátuas, os vasos e as pinturas que decoravam os túmulos do faraó (que tinha poderes de caráter divino), os seus familiares e também os nobres poderiam seguir existindo. Nesse sentido se fazia necessário preservar os seus corpos através da mumificação e também produzir objetos para essa nova realidade que viria.

 Seguindo um conjunto bastante rígido de normas e técnicas de produção, entre as quais se destacava a lei da frontalidade na pintura, as criações representavam os deuses e os faraós, narrando episódios mitológicos, acontecimentos políticos e momentos da vida cotidiana, enquanto refletiam a hierarquia e a organização social da época. Os artistas eram anônimos e realizavam uma tarefa que era considerada divina. O retratado era muito mais importante que o artista. Essa ideia de que o artista plástico exerce apenas um trabalho mecânico, manual, perdura até a Idade Média, assim, as obras levavam os nomes das pessoas que representavam e não de quem as produziu. Os períodos seguintes, embora tenham dado continuidade as regras, trouxeram pequenas mudanças e inovações no modo criativo dos egípcios.

 Segue um relato sucinto da história política e social do Egito: foi uma civilização bastante complexa em sua organização social, com riquíssimas realizações culturais. Era organizado em dinastias, ao todo foram seis grandes dinastias que se sucederam: monarquia Antiga ou Antigo Império (3100 a 2181 a.C., I — IV dinastias faraônicas) que se inicia com a unificação do Alto e do Baixo Egito. Seguido do primeiro período intermediário (2181 a 2133 a.C., VII — X dinastias) obscura fase de guerras civis e divisões internas, que dá início à Monarquia Média (2133 a 1786 a.C., XI — XII dinastias). O país, após a invasão dos Hicsos, passa por divisões chamadas de segundo período intermediário (1786 a 1567 a.C., XIII — XVII dinastias).

 A XVII dinastia, com seu fundador Ahmose, consegue libertar e reunificar o país, iniciando a Monarquia Recente ou Império Novo (1567 a 1088 a.C., XVIII – XX dinastias) o momento de maior esplendor da civilização egípcia. Com a XXI dinastia inicia-se um período de decadência que permanece sem alteração até a conquista pelos Romanos, nos anos 30 a.C. No Antigo Império (3200 a.C. a 2200 a.C.), a arquitetura foi marcada por grandes empreendimentos que pretendiam exibir o poder do faraó, como a Esfinge e as pirâmides de Gizé. Já no Médio Império (2000 a.C. a 1750 a.C.), a pintura e a escultura assumiram o protagonismo. Por um lado, mostravam imagens idealizadas da família real; por outro, começaram a incluir figuras do povo (como escribas e artesãos), que apresentavam uma maior expressividade e naturalidade. No Novo Império (1580 a.C. a 1085 a.C.), se intensificou alguma liberdade artística, por exemplo, através das famosas estátuas com crânios de formato mais alongado.

 Donos de uma sociedade e cultura bastante desenvolvidas, os egípcios também exploraram várias matérias complexas, como a matemática e a medicina, tendo até um sistema de escrita composto por desenhos. Desenvolvendo assim três formas de escrita: hieróglifos — considerada sagrada; hierática — mais simples, utilizada pela nobreza e pelos sacerdotes; demótica – a escrita popular. Os desenhos (pintura) eram frequentemente acompanhados de hieróglifos; como exemplo temos o Livro dos Mortos, uma coletânea de papiros que eram colocados nos túmulos. As tintas, produzidas a partir de minerais, acabaram se desgastando com a passagem do tempo.

 

 Pintura egípcia

 A pintura teria sido a primeira expressão artística desse povo. Incentivada pelos faraós, que mandavam os artistas egípcios pintarem as paredes das pirâmides e seus túmulos para que através das pinturas, retratassem sua vida. Eram marcadas por um conjunto de simbologias presentes até nas cores utilizadas: o preto representava a morte, o vermelho significava energia e poder, o amarelo simbolizava a eternidade e o azul homenageava o Nilo. São encontradas em vários locais onde essa civilização viveu. As Pirâmides do Egito, por exemplo, são repletas de pinturas e cores, que já se desgastaram por conta da ação do tempo.

 Presente na decoração de objetos e de edifícios, a pintura era um elemento importante na ornamentação dos túmulos dos faraós. Além de retratar deuses e episódios religiosos, também se focava naquele que tinha morrido, ilustrando cenas de batalha ou imagens cotidianas, como a caça e a pesca. Importa ainda salientar que estes retratos estavam longe de ser uma cópia fiel, apresentando, em vez disso, uma fisionomia idealizada. No período do Novo Império, contudo, a pintura egípcia começou a apresentar mais inovações, com mais movimento e detalhes.

 A pintura tem como uma das mais fortes características estéticas a Lei da Frontalidade, as representações das pessoas eram feitas da seguinte forma: os olhos, o peito e os ombros são representados de frente, enquanto a cabeça e as pernas ficam de lado. Essa forma de mostrar o corpo só permitia três pontos de vista: de perfil, de frente e de cima. Seguida temos também: a ausência de três dimensões; ignorância da profundidade; colorido a tinta lisa, sem claro-escuro e sem indicação do relevo;

 Acreditou-se por muito tempo que essa forma de pintar as pessoas se dava a falta de técnicas dos artistas. Porém, hoje se acredita que essa técnica era utilizada para mostrar o máximo possível o corpo humano. A decoração colorida era um poderoso elemento de complementação das atitudes religiosas.

 Vivendo numa organização social com papéis e hierarquias extremamente definidos, os egípcios criavam pinturas que exprimiam essas divisões. A hierarquia na pintura era representada pelo tamanho das pessoas, ou seja, as pessoas com maior importância no reino eram representadas maiores em relação às outras. Nesta ordem de grandeza tem-se: o rei, a mulher do rei, o sacerdote, os soldados e o povo. As figuras femininas eram pintadas em ocre, enquanto que as masculinas, em vermelho.

 

 Escultura egípcia

 As esculturas egípcias foram extremamente ricas e importantes na sua cultura, tendo proporcionando aos artistas um maior espaço para a criatividade e a inovação. Foi antes de tudo animista, encontrando sua razão de ser na eternização do homem após a morte. Foi uma estatuária principalmente religiosa, não diferente das outras artes. Faraós e os deuses eram esculpidos em posição serena, quase sempre de frente, sem demonstrar nenhuma emoção. Pretendiam com isso traduzir, na pedra, uma ilusão de imortalidade. Com esse objetivo ainda, exageravam frequentemente as proporções do corpo humano, dando às figuras representadas uma impressão de força e de majestade.

 Destinadas a substituir o faraó morto nos trabalhos mais ingratos no além, esculpiam os Usciabtis, figuras funerárias em miniatura, geralmente esmaltadas de azul e verde muitas vezes coberto de inscrições. Os baixos-relevos egípcios, que eram quase sempre pintados, foram também expressão da qualidade superior atingida pelos artistas em seu trabalho. Recobriam colunas e paredes, dando um encanto todo especial às construções. Os próprios hieróglifos eram transcritos, muitas vezes, em baixo-relevo.

 Com dimensões monumentais ou reduzidas, em forma de bustos ou figuras de corpo inteiro, estas obras apresentavam uma enorme variedade. Além dos faraós e das suas famílias, elas também se inspiravam nos cidadãos egípcios comuns (como artistas e escribas), assim como em diversos animais.

 Em alguns períodos, como o Médio Império, as normas eram mais rígidas, com representações semelhantes e idealizadas. Durante outras fases, no entanto, a escultura mantinha um olhar atento aos detalhes de quem estava sendo retratado. Assim, este tipo de expressão artística reproduzia características físicas e feições, evidenciando também o estatuto social de cada um. O Escriba Sentado, exposto no museu do Louvre, é um exemplo notório. Na peça, encontramos um homem de meia-idade que se encontra exercendo o seu ofício, como se esperasse o texto que seria ditado pelo faraó ou por algum nobre.

 Contudo, as esculturas funerárias egípcias eram as mais suntuosas e, por isso, continuam mais presentes no nosso imaginário. É o caso de imagens icônicas como a máscara mortuária de Tutancâmon e o busto de Nefertiti. Este último exemplifica o modo como os princípios da escultura foram sendo alterados com o tempo, tendo existido momentos extremamente originais.

 

 Arquitetura egípcia

 Não diferente das outras artes, arquitetura do Antigo Egito continua sendo considerada um enorme legado da humanidade, pelos seus enormes e memoráveis empreendimentos. Tem como características gerais: solidez e durabilidade; sentimento de eternidade; aspecto misterioso e impenetrável. As pirâmides do deserto de Gizé são as obras arquitetônicas mais famosas e foram construídas por importantes reis do Antigo Império: Quéops, Quéfren e Miquerinos.

 As pirâmides tinham base quadrangular eram feitas com pedras que pesavam em média duas toneladas e meia cada uma, mediam dez metros de largura, além de serem admiravelmente lapidadas. A porta da frente da pirâmide voltava-se para a estrela polar, de modo que seu influxo se concentrasse sobre a múmia. O interior era um verdadeiro labirinto que ia dar na câmara funerária, local onde estava a múmia do faraó e seus pertences. O intuito era edificar uma casa eterna, digna da sua família, onde pudessem passar essa “segunda vida”. As suas técnicas de construção eram inovadoras e, até hoje, despertam o interesse e a curiosidade de muita gente. Diferente do que se pensava, estudos mostram que as pirâmides do Egito foram construídas por trabalhadores pagos, e não por escravos.

 Junto a essas três pirâmides está a esfinge mais conhecida do Egito, que representa o faraó Quéfren, mas a ação erosiva do vento e das areias do deserto deram-lhe, ao longo dos séculos, um aspecto enigmático e misterioso. A Esfinge representa o corpo de um leão (força) e a cabeça humana (sabedoria). Eram colocadas na alameda de entrada do templo para afastar os maus espíritos. Obeliscos eram colocados à frente dos templos para materializar a luz solar.

 É importante destacar que para as construções “comuns” eles utilizavam os adobes — tijolos feitos de barro secados ao sol. As pedras eram utilizadas para as construções que deviam ser “perenes”.

 

A arte contemporânea egípcia

 Arte contemporânea no Egito é um termo usado para se referir à arte visual, incluindo instalações, vídeos, pinturas ou esculturas, desenvolvidas no cenário artístico egípcio. Está concentrada principalmente no Cairo e Alexandria, se desenvolvendo rapidamente com o surgimento de espaços para artistas e apoio do público ou do exterior. Ela é uma mistura de outras produções artísticas de períodos passados, contudo, com a sua identidade, inovações de cada artista e suas artes. As representações artísticas compatíveis com elementos da história que facilitam a compreensão da arte.

 Por meio da arte é possível nos comunicarmos com o mundo, expressamos nossos sentimentos e ideias. É cada vez maior a necessidade dos artistas de se conectarem com seu entorno e, de maneira diferente, trazer na sua obra uma reflexão permanente sobre o momento que vive. Se no Egito Antigo a arte ficava restrita a uma parcela da população e também confinada em monumentos mortuários, agora está acessível para todos: nas ruas, além de museus, galerias, etc.

 Alguns locais podem até trazer referências a arte do Egito antigo, como as pirâmides, mas idealiza-se o espaço de uma forma diferente. O espaço vazio predomina, para que as pessoas possam se aproximar, passar e apreciar a obra de arte. Desse modo, a cultura egípcia conserva elementos da antiguidade, mas evoluem com as inovações de maneira crescente até a atualidade.

Por BETÂNIA PEREIRA

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