MITOLOGIAS E CRÔNICAS – Folclore Brasileiro

MITOLOGIAS E CRÔNICAS – Folclore Brasileiro

Olá, meus queridos leitores, estamos mais uma vez com a nossa coluna e nessa edição especial, vamos dar uma pausa na mitologia grega e falar sobre umas das culturas mais ricas do mundo: o Folclore Brasileiro. Se você já conhece, será uma oportunidade para aprofundar o seu conhecimento, se não conhece, será uma viagem em lendas, mitos e historias incríveis. Desbravando as regiões do Brasil através dessas histórias incríveis.

 

O QUE É FOLCLORE?

 Folclore é o conjunto de manifestações culturais e tradicionais de uma região que muitas vezes, foram aprendidas oralmente e sem formalismos e transmitidas de uma geração para outra.

Nelas se incluem costumes, formas de cultivo, culinária, conhecimentos sobre chás, artesanato, histórias contadas pelos avós, formas de pensar, danças, canções para adormecer as crianças e brincadeiras.

 

Origem do Folclore:

A palavra folclore surgiu do aportuguesamento da junção das palavras inglesas folk, que significa “povo”, e lore, que significa “conhecimento”.

A expressão folk-lore foi usada pela primeira vez pelo folclorista britânico William John Thomas no dia 22 de agosto de 1846. E em 1951, essa mesma data foi escolhida para comemorar o folclore brasileiro, lembrando que essa data é usada em vários países. 

 

História do Folclore brasileiro

Os estudos sobre o folclore brasileiro começaram a se consolidar a partir do século XX. Hoje, o patrimônio folclórico é protegido pela Constituição de 1988, nos artigos 215 e 216.

O folclore brasileiro é formado por contos, canções, lendas, adivinhas, canções, trava-línguas, entre outros. Esses elementos se incluem na cultura popular brasileira e foram consolidados no século XX, com o Modernismo.

Por conta da diversidade cultural do Brasil, o folclore no país conta com influências europeias, africanas e indígenas.

O folclore brasileiro só ganhou força no Brasil a partir do século XX, mesmo que os estudos tenham iniciado no século XIX. Esse fortalecimento contou com o apoio do Romantismo e se reforçou durante o Modernismo. Os estudos folclóricos passaram a ser vistos como uma forma de valorizar a cultura nacional.

Com a expansão dos estudos, surgiu o I Congresso Brasileiro de Folclore, em 1951, no Rio de Janeiro. Na ocasião, foram debatidos o que deveria ser considerado parte do folclore brasileiro. Em 1958, durante o governo de Juscelino Kubitschek, foi criada a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro (CDFB), com o objetivo de preservar os movimentos folclóricos brasileiros.

Apesar disso, durante a Ditadura Militar, os estudos foram interrompidos e voltaram a ser retomados somente em 1976. Mesmo assim, as discussões folclóricas se restauraram em 1990, com o VII Congresso Brasileiro de Folclore, que aconteceu em Salvador.

Agora que você conheceu um pouco da história do folclore. Vamos ao que interessa!

A região norte do país é uma das mais que tem influência da cultura indígena.  Suas lendas são baseadas em seres extraordinários que protegem a mata e os animais. Outras para prevenir os índios mais novos de se aventurarem no meio da mata fechada ou fossem em lugares que eram perigosos.

Boa leitura…

 

Mitos e Lendas: Região Norte

 A região norte do país é uma das mais que tem influência da cultura indígena.  Suas lendas são baseadas em seres extraordinários que protegem a mata e os animais, outras para prevenir os índios mais novos se aventurassem no meio da mata fechada ou fossem em lugares que eram perigosos.

 

Vitoria Regia, a lenda da estrela d’agua

Reza a lenda que a lua, Jaci, assim era seu nome entre os índios da região amazônica, era um deus muito namorador e que de tempos em tempos descia a terra e escolhia uma jovem para se tronar uma estrela ao seu lado. 

Imagem de Lecristina por Istock

Com o que a lua não contava era com o amor da índia Naiá, que sonhava um dia se tornar uma estrela, para ficar junto se seu grande amor. Todas as noites a bela jovem aguardava para se juntar a Jaci, mas ele nunca veio buscá-la, triste por não ser uma das escolhidas, Naiá correu sem rumo pela mata, até chegar a um lago, vendo o reflexo de seu amado Jaci, nas águas, ela pulou sem pensar duas vezes, achando que seu amado tinha vindo buscá-la.

Porém, com as águas fundas do lago, Naiá se afora. Jaci compadecido de sua morte e se seu amor, a transforma na Vitoria Regia a estrela da água que só floresce a noite.

 

Mapinguari, o monstro da Amazônia

Já ouvi falar de bicho feio, mas o Mapinguari é de dar medo em qualquer um. Algumas histórias contam que o monstro da floresta tem quase 2 metros de altura o corpo coberto de pelos, outros dizem que sua carapaça é parecida com a do jacaré, que tem apenas um olho e que sua boca enorme fica na altura do estomago pouco acima do umbigo e para completar essa figura bizarra, ele possui cascos de burro voltado para trás (Daí a origem do seu nome indígena Mapinguari, ou seja, “aquele que tem os pés virados”.). A lenda conta que os índios quando chega a uma idade bem avança sofre algum tipo de metamorfose e se transforma nesse bicho horrendo.

Eles vagam sozinhos pela floresta deixando um rastro de destruição por onde passam e que seus gritos são parecidos com os de caçadores. Contam que se alguém responder aos seus gritos, ele vai atrás e ranca a cabeça de sua vítima e engole, por sua bocarra. Não deve ser uma cena nada agradável.

Os antropólogos não descartam a possibilidade de haver aqui algum simbolismo psicológico ancestral do tipo “aí está o que acontece quando o sujeito vira bicho e perde a cabeça” –, mas o mais provável mesmo é que o Mapinguari simplesmente goste de comer cérebro. 

 

Caipora, protetor das matas

Para muitos estudiosos, o Caipora (ou Caapora) é uma simples derivação do Curupira. Caapora, em tupi, significa “habitante do mato”, denominação fiel deste ser que nos primórdios da colonização portuguesa, foi ignorado pelos jesuítas.

Tão hábeis em recensear os mil disfarces de que se valeu o Diabo para introduzir-se nas matas brasileiras. Pertencente à mesma classe dos entes protetores da floresta. Ele desenvolveu, contudo, um tipo próprio bastante diferenciado do Curupira: enquanto este se apresenta como um moleque franzino e de pés invertidos, o Caipora toma a figura de um brutamontes com o corpo coberto de pelos e montado num gigantesco porco-do-mato.

Em outros momentos é contado que caipora é uma mulher, uma índia. Em ambas as lendas o caipora é um protetor das matas e animais, tendo o poder de ressuscitar animais que foram abatidos por caça.

Para mim, a caipora sempre será uma índia de tamanho pequeno de pele avermelhada, com roupas que mistura as origens africanas, já que várias de nossas lendas tem base na matriz africana e cabelos vermelhos que sempre fala por rimas.

Quem aí tiver mais de 30 anos, com certeza vai se lembrar desse personagem do extinto programa de TV, Castelo Rá-Tim-Bum, exibido pela TV Cultura. Sempre terei em minhas memórias essa imagem dessa celebre criatura das matas amazônicas.

 

A Lenda da Mandioca

Acredito que seja do conhecimento da maioria que a mandioca é um alimento genuinamente brasileiro, para ser mais exata, ele vem do norte do Brasil, sendo cultivado pelos índios como um de seus principais alimentos, pré-colonização.

Em minhas pesquisas encontrei duas versões bem interessantes, uma acredito que seja do conhecimento de todos e a outra, nem eu fazia ideia. Entretanto, para ampliar nossos conhecimentos, resolvi trazer as duas versões.

 Reza a lenda Tupi que certa vez uma índia, teve uma linda filha chamada Mani. Mani, era uma menina alegre e adorada por todos. Era a alegria da sua tribo, contudo, certo dia ela não conseguiu se levantar, parecia estar muito doente. O pajé da tribo foi chamado, mas nada pode fazer para salvar a jovem índia.

Sua mãe desolada, enterrou a filha dentro de sua oca, o que era costume de algumas tribos, ao enterrar sua filha, a índia percebeu um sorriso tranquilo e sereno na criança. Era como se dissesse que estava tudo bem.

Após alguns dias no local onde teriam enterrado Mani, começou a nascer uma planta até então, desconhecida para os índios. Era uma planta viçosa e bonita, assim como a indiazinha. Na esperança de ser sua filha viva, a mãe cava no local, mas no lugar de sua filha, encontra a raiz que serviu de alimento para aquela tribo. Por isso o nome mandioca; é a junção de Mani e oca. Linda história!

A outra versão não é tão “romantizada”.  Conta a lenda de um casal de índios que teve dois filhos: o pequeno Zôkôôiê e uma menina chamada Atiôlô. O pai Zatiamare, adorava seu filho, porém desprezava a filha.

Isso a deixava muito triste e inconsolável. Sabendo que nunca teria o amor de seu pai, a pequena Atiôlô, pede a sua mãe que a enterre viva, quem sabe assim seria útil para o seu povo.

Depois de muita insistência a mãe concede o desejo da filha. Assim, a mãe a enterra na mata. De tempos em tempos a mãe ia visitar o tumulo da filha e cuidar da terra em volta, sempre a mantendo cuidada e irrigada.

 Com esses cuidados a índia Kôkôtêrô, percebeu que começou a nascer uma planta muito bonita e viçosa, a mandioca, um alimento gostoso e nutritivo que supriu as necessidades daquela tribo.

Eu não encontrei evidência de tal, mas para mim, a primeira versão foi suavizada pelos colonizadores, a fim de criar uma história mais bonita e que chamasse mais a atenção do que o desprezo de um pai para como uma filha.

 

Amazonas, as índias guerreiras

Quem diria que em terras tupiniquins haveria mulheres guerreiras, dotas de habilidades de luta e eximias arqueiras. E vou ainda mais longe, essa tribo só de mulheres é que possivelmente foi o motivo do rio amazonas ter esse nome. 

Algum tempo atrás eu tinha lido o assunto, mas acabei não dando muita importância, na época até achei que seria algum erro ou alguma história mal contada. Mas, agora pesquisando a fundo as lendas brasileiras, descubro que as lendas são verdadeiras.

Segundo alguns relatos, as índias guerreiras existiram mesmo, mas infelizmente a história delas sofreu muitas alterações, principalmente dos expedicionários espanhóis.

Na lenda, as Icamiabas eram mulheres altas, musculosas, de pele clara, cabelos compridos e negros, (provavelmente parte dessas características foram modificadas, pelo eurocentrismo, pois, sabemos bem, as características dos índios brasileiros).

 Foram encontradas quando expedicionários espanhóis, liderados pelo espanhol Francisco Orellana, chegaram em 1542 à região que hoje é conhecida por Amazônia. Eram conhecidas pelos povos indígenas como Icamiabas, mas devido os seus costumes, logo foram associadas às guerreiras Amazonas, da mitologia grega.  

Segundo Frei Gaspar Carvajal, essas mulheres lutavam nuas, com apenas os arcos cobriam “suas vergonhas” e lutavam como homens, habilidades de luta que ele jamais tinha visto. Tanto que elas saíram como vencedoras no embate que tiveram contra os espanhóis as margens do rio Nhamundá.

Outro relato que se assemelha as guerreiras gregas é a forma que as Icamiabas se reproduziam, aí já não sabemos se é real ou apenas invencionismo dos colonizadores. Uma vez por ano, guerreiros de tribos vizinhas eram convidados para um “festival da lua”, (deusa que as índias adoravam), para terem relações sexuais com elas. Após o nascimento das crianças, os meninos eram entregues as tribos dos guerreiros e as meninas ficavam para ser treinadas.

Independente dessas histórias serem reais ou não, acho muitíssimo valido repercutir essa lenda como todas as outras que temos espalhadas pelo nosso país. Acredito que como estamos vivendo um momento de empoderamento da mulher, uma mitologia como essa poderia fazer a diferença para várias meninas de todo o país.

 

Boto Cor de Rosa, o Homem-Boto

Como a lenda acima, acredito que a lenda do boto foi muito influenciada pelos colonizadores, até para explicar o “surgimento” de mulheres gravidas, que não sabiam quem era o pai de seus filhos.

Reza a lenda que em noites quentes de baile, nas cidades ribeirinhas, o boto cor de rosa, se transformava em um galante rapaz, vestido de roupas brancas e com um chapéu de mesma cor, que por nada ele tirava da cabeça, contam que era para esconder o orifício de respiração do boto. Seu único objetivo depois que sai do seu habitat e seduzir as moças principalmente as consideradas puras e castas, e engravidá-las. Ninguém sabe explicar se as crianças nascidas têm algum elemento de seu pai boto.

O olho seco do boto-tucuxi é usado até hoje como talismã para atrair o amor das mulheres que se recusam a cair na lábia dos homens despidos de qualquer encanto.

 

Mitos e Lendas: região Nordeste

Confesso que fiquei impressionada com as lendas do nordeste, uma mistura de crendices populares regionais e muita influência dos negros escravizados que foram trazidos para o Brasil. Por tanto se deu uma mistura muito interessante.

 

A lenda da Cabra-Cabriola

A Cabra Cabriola é um ser imaginário da mitologia infantil portuguesa, trazida para o Brasil durante a colonização. Ela é a personificação do medo, um animal em forma de cabra, de hálito fétido, olhos flamejantes. Um animal frequentemente de aspecto monstruoso comedor de crianças sendo elas desobedientes ou não.

Reza a lenda que a cabra saia pulando por aí (cabriolando) em busca de desavisados ou até mesmo invadindo as casas, cujas mães por algum motivo não se encontravam.

Havia uma mulher que tinha três filhos, e saindo toda noite para trabalhar, ela advertia os filhos sobre a astucia da cabra Cabriola e que não era para abrir a porta senão a ela própria, cuja voz e toada particular, as crianças conheciam perfeitamente.

 Certa noite, sabendo que as pobres crianças ficavam sozinhas em casa, a cabra Cabriola tenta enganá-las imitando a voz da mãe e pede para abrir a porta, porém a molecada foi mais esperta.

– Fora, Cabra maldita! Bem sabemos que não é a nossa querida mamãe!

O que fez a cabra sair furiosa bramindo:

Eu sou a Cabra Cabriola,
Que come meninos aos pares,
E também, comerei a vós,
Uns carochinhos de nada.

Contudo, o monstro era esperto e não iria renunciar à suas presas tão, fácil. Ela ficou à espreita, esperando a mãe voltar, só para aprender como ela fazia para adentrar a casa.

No dia seguinte vai à casa de um ferreiro, (quem em sã consciência ajudaria uma cabra que faz mal a criancinhas) manda bater a língua na bigorna, e conseguindo assim modificar a sua voz tornando-a igual à da mãe dos meninos, voltando a casa naquela mesma noite ela bate à porta cantarolando a conhecida toada:

Filhinhos, filhinhos
Abri-me a porta,
Qu’eu sou vossa mãe;
Trago lenha nas costas,
Sal na moleira,
Fogo nos olhos,
Água na boca,
E leite nos peitos
Para vos criar.

As crianças contentes achando que era sua adorada mãezinha, abrem a porta e se deparam com o pior dos seus pesadelos. Porém já era tarde demais e foram devorados.

 

A lenda da Princesa de Jericoacoara, a cidade encantada

Jericoacoara, no Ceará, possui uma lenda sobre uma antiga cidade encantada que existia no local onde está hoje localizado um farol.

A Princesa de Jericoacoara é uma criatura da estirpe das princesas encantadas, guardiãs de tesouros em grutas ou cavernas, que tanto faz sucesso pelo mundo.

Porque não também não ter a nossa princesinha encantada. Porém os feitiços por aqui são bem maléficos: a princesa, outrora bela e deslumbrante, está agora transformada numa serpente, mantendo o rosto e as pernas humanas. Que coisa horrenda!  

Para desencantá-la, é preciso a coragem de um homem de verdade, disposto ao martírio, pois somente com o sacrifício de uma vida humana ela poderá retomar sua antiga forma.

Segundo a lenda nenhum homem foi corajoso suficiente para se sacrificar e salvar a jovem donzela, ou seja, o castelo e a serpente ainda estão lá esperando seu bravo cavaleiro de armadura reluzente.

 

Quibungo, o bicho papão?

 Quibungo é um dos personagens mais assustadores do nosso folclore, embora também não seja criação nativa das terras baianas, onde costuma atuar, mas uma adaptação do antiquíssimo bicho papão e de outros personagens assemelhados, espalhados por todo o mundo.

Devorador permanente de crianças, essa criatura é diferente de todas que vamos ver por aqui, ela tem uma bocarra em suas costas, que ao se abaixar ela engole por inteiro a criança. Na África esse monstro era usado para disciplinar aqueles que não obedeciam aos pais, ou que por algum motivo eram malcriados.

O Quibungo é um duende dos negros bantos, trazido pelos negros escravizados, que se espalharam por toda a parte, porém sua lenda ficou mais conhecida na Bahia. Dizem que o Quibungo é uma transformação do negro velho como o Mapiguari. Com exceção dos monstros fantásticos, esse é vulnerável a armas humanas.

 

A Lenda da Perna Cabeluda, o terror de Recife

Conheça a criatura da noite que tirou o sono das crianças e adultos que nunca admitirão, na capital pernambucana dos anos 1970.

Exatamente o que diz o nome: uma perna cabeluda. E nada mais. Decepada e se movendo aos pulinhos, ela ainda assim era capaz de matar com seus poderosos chutes, rasteiras, enfim, coisas que uma perna é capaz.

A lenda, que tirou o sono das crianças (e adultos que nunca admitirão), no Recife dos anos 70, cresceu a partir daí. Alguns alegavam que o pé tinha unhas grandes e podres. Outros, que o pedaço de corpo não era sequer humano. As vítimas eram pegas de súbito na madrugada e sofriam ataques nas ruas – e, mesmo caídas, continuavam a ser surradas.

A lenda se tornou símbolo da cultura recifense e durante anos levou crianças a olhar debaixo da cama antes de dormir. Porém, ao contrário da maioria das lendas, essa é uma cujo autor conhecemos: Raimundo Carrero, jornalista do Recife e autor de obras literárias premiadas.

Nos idos da década de 1970, Carrero, que trabalhava no Diário de Pernambuco, afirma que um companheiro de redação chegou afoito ao trabalho durante a noite. Dizia ter visto, embaixo da cama que dividia com a esposa, uma perna cabeluda. “Mas e o tronco?”, indagaram os amigos, “Não tinha”, respondeu, com toda a sinceridade. os jornalistas da época eram boêmios e gostavam de contar histórias mirabolantes uns para os outros. Era uma piada desde o começo. O relato ganhou status de estrela com um empurrão do regime político da época.

“Como vivíamos sob a ditadura militar e muito conteúdo não podia ser publicado devido à censura, o então editor do Diário de Pernambuco, e hoje ministro do Superior Tribunal de Justiça, Og Marques Fernandes, incumbiu a mim uma coluna policial com casos tido como absurdos. Surgiu aí a história da Perna Cabeluda”.  Relato do autor da perna cabeluda

 O sucesso foi imediato. No dia seguinte, a Perna já era citada em programas radiofônicos de grande alcance. Pessoas machucadas – às vezes com ossos quebrados – apareceram dizendo ter sido atacadas pelo membro que agia de forma totalmente autônoma.

Depoimento da leitora Vania Albuquerque, sobre a lenda da perna cabeluda

Essa história eu conheci quando era criança e minha lembrança era que eu morria de medo. Lembro que na hora de ir dormir colocava um terço na cabeceira da cama como forma de proteção. A história da perna cabeluda é bem louca, pois não se concebe uma perna andando sem o corpo. Mas na minha inocência de criança achava que era possível e morria de medo.

Com relação ao folclore brasileiro acho muito rico e o povo brasileiro como sempre supera todas as expectativas no quesito criatividade, crendice e superstições. Adoro ler o folclore de outros estados. É muito enriquecedor.

 

A Mulher de Roxo, Lendas Baianas

A Mulher de Roxo, Jayme Figura e outros personagens, nasceram a partir das matérias publicadas no grupo do Facebook, a Bahia tem muitas histórias. Uma simples ideia de um professor de história, acabou caindo na graça do pessoal na internet, e com isso começou um resgate da cultura e lendas locais.

Diariamente milhares de membros interagem no grupo, sobre as personalidades, lendas urbanas de Salvador e outros assuntos relacionados à História da Bahia. A partir de curtidas e comentários algumas dessas personalidades são escolhidas para virar uma peça teatral. Isso que é resgate da história!

São muitas histórias e uma melhor que a outra, mas para compor essa edição sobre folclore brasileiro, eu escolhi a história da mulher de Roxo.

E disponibilizarei um link, para que você possa aproveitar um vídeo clip feito em homenagem a história dessa mulher tão misteriosa.

Na lenda da Mulher de Roxo, a figura sempre presente na Rua Chile (rua que até os anos 80 era comercial e um dos mais badalados da cidade), algumas pessoas sentiam medo da mulher misteriosa que parecia uma bruxa, com os seus cabelos desgrenhados, olhos alucinantes e terríveis, com sua bata enorme e roxa.

A verdade é que essa mulher existiu, e pelos seus costumes habituais, acabou se tornando uma figura lendária e mitológica marcada na mente e cultura do povo de Salvador.

Nascida em 1917, alguns dizem que ela vinha de uma boa família, era instruída e teria enlouquecido por conta de uma desilusão amorosa. Sempre de roxo e com roupas que lembravam o hábito usado por freiras, ela costumava perambular pela Rua do Chile e imediações tanto em dias chuvosos como em dias de sol. Bastava as portas dos comércios abrirem que ela estava lá a caminho da entrada da Slopper. Andando de um lado para o outro, falando sozinha e sempre pedia dinheiro com muita educação.

Além da sua roupa roxa, andava descalça, com um torço e um crucifixo enorme. Nesse combo de vestes, ela dava o ar de santa, uma certa loucura, e a impressão de ser meia andarilha e mendigo.

Algumas vezes, já desfilou com uma roupa de noiva, com buquê, véu e grinalda. Todo esse ar contraditório despertou na população uma mistura de sentimentos que variam entre medo e respeito, pena e carinho.

Essa mulher, conhecida como Florinda, já cedeu uma entrevista exclusiva para o jornalista Marecos Navarro, tornando esse documento um dos mais raros para ouvir a voz dela.  Sua história acabou sendo fonte de inspiração para documentários e filmes como o de Glauber Rocha, chamado O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1969).

Inclusive, Jack Reis afirma já ter encontrado a mulher de roxo algumas vezes, “Enquanto eu andava pelas ruas, conhecendo a cidade, vivenciando, indo ao cinema ou indo aos shows de rock do movimento Punk, me batia muito com a mulher de roxo. Intrigante, com sua calma… E eu perguntava ao meu pai: o que ela fez? Quem é ela. É a pergunta de todo adolescente.” afirmou Jack Reis, professor de filosofia.

Hoje, dona Florinda ou a dama de roxo, é apenas uma lembrança. Se ela foi uma famosa ou anônima, presa em si mesma, a verdade é que ninguém conheceu a sua verdadeira história. Mas ela conseguiu permanecer no imaginário popular como uma personagem lendária!

Morreu em 1997, aos 80 anos e foi sepultada como indigente

 Vídeo Clipe Banda Cascadura e Pitty

 

Mitos e Lendas: Região Centro-Oeste

Devo confessar que conheço pouco a região centro-oeste do nosso país, mas admito que fiquei encantada como algumas lendas da região.

 

Lenda da Mãe-do-Ouro

A mãe-do-ouro, é um mito ligado ao ciclo do ouro, que tem como cargo guardar as jazidas de ouro que não podem ser exploradas. Em algumas histórias ela é caracterizada como uma bela mulher com cabelos longos e reluzentes, sempre vestida de branco e em outras contas que é uma bola de fogo.  Também guarda as esposas maltratadas pelos seus maridos e qualquer um que sofra injustiça.

Conta-se que um negro escravizado, cujo senhor era malvado, chorou amargamente no dia que não achou nenhuma pepita de ouro. A Mãe-do-Ouro se compadeceu dele e acabou indicando um local onde ele poderia extrair uma grande quantidade do metal. Em troca, ele não poderia revelar onde havia encontrado aquela riqueza.

Ao levar o ouro para o senhor, este ficou encantado e imediatamente exigiu que o escravo contasse onde estava todo aquele metal. Como ele recusava se, o senhor mandou açoitá-lo e diante do castigo, o negro revelou onde estava a mina de ouro.

Ao chegar ali, os escravos se puseram a cavar o chão. No entanto, ouviu-se um grande estrondo que parecia um terremoto. Um deslizamento de terra matou a todos que estavam ali, inclusive o senhor malvado.

 

Pai do Mato, protetor

Em mais uma lenda brasileira temos uma mistura de culturas oriundas de outras nações. Algumas pessoas que já afirmaram ter visto o pai do mato, o descreve como o deus Pã da mitologia grega; cabelos desgrenhados, unhas muito compridas, pernas de cabrito, traz no queixo uma irritante barbicha à Mefistófeles, e a sua cor é escuro-fusca, confundindo-se com a do suíno preto enlameado, e que também é um protetor dos bosques.

Dizem que anda quase sempre nos bandos de queixadas, cavalgando caititus, uma espécie de porco do mato. Outra característica que o faz ser temido é seus urros aterrorizantes que podem ser ouvidos a longas distancias, sua urina é azul; então caso você veja na mata uma poça de cor azulada, pode ter certeza de que o pai do mato está por perto a espreita observando quem possa fazer algo que ele desaprove.

À noite, quem passa na mata ouve também sua risada. Engole gente. Bala e faca não o matam, é trabalho perdido. Só se acertar numa roda que ele tem em volta do umbigo.

Em alguns Reisados, aparece uma personagem representando o entremeio do Pai-do-Mato, sob a forma de um sujeito feio, de cabelos grandes. São comuns as expressões entre as mães de família, referindo-se aos filhos que estão com cabelos grandes, sem cortar: “Está que é um Pai-do-Mato”, “você quer virar um Pai-do-Mato?”, No Reisado, canta-se no entremeio do Pai-do-Mato:

Ó que bicho feio

Só é pai do mato

 

Romãozinho e suas malvadezas

Confesso que já conheci muita criança travessa, mas esse Romãozinho, com certeza dá aulas de maldades.

Reza a lenda que ele já nasceu com a maldade em si, sempre aprontando, maltratando animais, destruindo plantas, era o terror da vizinhança.

Seu pai que era um humilde lavrador, trabalhava nas fazendas próximas, certo dia sua esposa não pode levar seu almoço, por isso pediu seu filho que fizesse a gentileza., de má vontade o garoto aceitou a missão.

Para se vingar da mãe no meio do caminho ele comeu toda a galinha, juntando os ossos, ele leva o restante para o pai.

Quando o velho viu o monte de ossos ao invés de comida, perguntou que brincadeira sem graça era aquela.

“Foi isso que me deram?”

“Acho que minha mãe comeu a galinha com um homem que vai lá, quando o senhor não tá em casa, aí mandaram os ossos…”

Louco de raiva, acreditando no menino, largou a enxada e o serviço, voltou para casa, puxou a peixeira e matou a mulher.

Morrendo, a velha amaldiçoou o filho que estava rindo:

“Não morrerás nunca. Não conhecerás céu ou inferno, nem descansarás enquanto existir um único ser vivo na face da terra…”

O marido morreu de arrependimento. Romãozinho sumiu, rindo ainda.

Desde então, o moleque que nunca cresce, anda pelas estradas, fazendo o que não presta. Quebra telhas a pedradas, assombra gente, tira choco das galinhas. É pequeno, pretinho como o Saci-pererê, vive rindo, e é ruim.

Não morrerá nunca enquanto existir um humano na terra, e como levantou falso testemunho contra a própria mãe, nem no inferno poderá entrar.

O menino, também vira uma tocha de fogo, que fica indo e vindo pelos caminhos desertos. Alguns dizem que ele é o próprio Corpo-Seco, isto é, alma de gente tão ruim que nem o céu nem o inferno o deixaram entrar, por isso vaga pelo mundo assustando as pessoas.

 

Diabinho da Garrafa

Quem aí quer saber como faz um pacto com o diabo?

“… Do dedo mindinho de seu dono, todos os sábados, deve ser dada para alimentar o pequeno demônio aprisionado dentro da garrafa.”

Enquanto está preso, o Gramunhão, outro nome para o diabinho, traz prosperidade ao seu dono e o protege de coisas ruins.

Regras para se conseguir fazer o pacto com sucesso e ter suas luxurias realizadas:

Primeiro em uma folha de papel virgem, com o seu sangue, você escreve o seguinte texto:

“Eu, com o meu próprio sangue do meu mínimo, faço escritura a Lúcifer, imperador do inferno, para que ele me faça tudo quanto eu desejar nesta vida, e se isto me falhar, lhe deixarei de pertencer.”

Aqui que a brincadeira fica complicada, será necessário um ovo fecundado pelo próprio demônio. Em algumas regiões, dizem que o ovo tem que ser botado por um galo preto, em outras regiões já afirma que na noite da Sexta-Feira Santa, o primeiro ovo que uma galinha botar, colocá-lo debaixo do braço esquerdo, ir em uma encruzilhada a meia noite, e deixar o ovo chocar durante 40 dias. Após chocar, você o coloca na garrafa, mas não esqueça de alimentá-lo.

Essa lenda era predominante em Portugal, e sua fama chegou ao Brasil, pelos rituais de São Cipriano encontrados no Livro de Capa Preta, mas há também quem diga que tenha traços do conto alemão O gênio da garrafa, registrado pelos irmãos Grimm, História de um menino pobre, que após libertar um gênio do mal de uma garrafa, consegue aprisioná-lo e utilizando de sua esperteza.

O conto O demônio da garrafa, escrito pelo britânico Robert Louis Stevenson, foi caseado numa peça de teatro, que por sua vez pode ter sido inspirada por narrativas europeias envolvendo pactos, garrafas e entidades de má índole, fazendo com que fossem ficando cada vez mais conhecidas na Inglaterra e se propagando pelo mundo.

No Brasil além de inspirar vários contos, o diabinho foi parar nos horários nobres da TV brasileira aparecendo em algumas teledramaturgias. Uma das mais famosas foi a novela Paraiso de 1982, cujo dono é o personagem Eleutério. Renascer em 1993, um grande sucesso na época, que trouxe o inocente Tião Galinha, que é levado a creditar que o coronel José Inocêncio conseguiu alcançar o seu sucesso por ter o seu diabo como amuleto.  

 

Mitos e Lendas: Região Sudeste

Sudeste, estou em casa, na minha região, como boa mineira que sou. Desse modo será um prazer falar um pouco sobre as principais lendas por aqui. A região sudeste tem uma forte influência portuguesa e por consequência influência religiosa.

 

Missa dos mortos

Particularmente acho essa lenda muito fofa! Para uma escritora como eu que adora brincar com o sobrenatural, foi um prato cheio conhecer essa lenda que irei dividir com você.

No ano de 1900, na cidade de Outro Preto, uma das cidades históricas mais conhecidas de Minas Gerais, havia uma igreja; Igreja de Nossa Senhora das Mercês de Cima, que era cuidada pelo Zelador João Leite.

Certa noite de lua clara, João ouviu barulhos vindos da igreja, temendo que fosse um assalto, nas sombras,  foi até a igreja e viu que estava sendo celebrada uma missa, sem se lembrar de alguma missa, muito menos naquele horário, assim, ele resolve investigar; no púlpito havia um padre e nos bancos vários fieis, porém, por causa do ambiente escuro, o zelador não via o seu rosto de ninguém, até acender o candelabro e ver que todos ali presente, estavam mortos e que a porta que dava para o cemitério municipal estava aberta.

Vendo aquela cena horripilante o pobre zelador correu para o seu quarto e lá ficou até o dia amanhecer.

Imagina você entrar em uma igreja e se deparar com várias almas celebrando uma missa, eu sairia correndo sem olhar para trás.

 

Lenda da Mula sem cabeça

Toda mulher que se envolver com padres, sacerdotes, sofreriam a maldição da mula sem cabeça.

Conhecida praticamente em toda américa latina, chegou ao Brasil com os portugueses e espanhóis. Toda mulher que se envolvesse com o clérigo estaria condenada a virar um animal, que no lugar da cabeça teria labaredas de fogo.

Condenadas a vagar por sete vilarejos e espantar e matar quem aparecesse em seu caminho, há quem diga que esse animal soluça como um ser humano, é sinal do arrependimento por se envolver com homens devotos a religião.

A maldição só poderia ser quebrada se alguém com coragem suficiente arrancasse o freio de ferro que tem em volta de seu pescoço, ou que fizesse o animal derramar sangue, mesmo que seja uma gota se quer. Mas nunca teve alguém coragem suficiente para tal.

Como muitas lendas de cunho religioso, serve apenas como ensino moral, para que mulheres e homens seguisse os dogmas da igreja e não saíssem da linha.

Há quem diga que a lenda foi disseminada por conta do meio de transporte dos padres no Brasil no século XVII.

 

Lenda da Amorosa

A lenda da Amorosa é uma lenda original do Rio de Janeiro, mais especificamente de Conceição de Macabu, que conta a história de dois índios, Ipojucam e Jandira.

Os dois índios apaixonaram-se, ficaram noivos e na véspera do casamento, Ipojucam ofereceu uma grande caça a Tupã, divindade indígena, para que a cerimônia fosse abençoada.

Anhagá, deus da morte que invejava as habilidades de caça do índio, apareceu para ele sob a forma de onça e o desafiou para uma luta.

A onça foi fatalmente ferida. Descontente, Anhagá ressuscitou o animal, que foi perseguido por Ipojucam até chegarem perto de uma cachoeira onde estava Jandira.

Sob a forma de onça e com a intenção de atingir Ipojucam, Anhagá decidiu atacar a índia, mas acabou mais uma vez derrotado.

O sentimento de humilhação de Anhagá fez com que ele se transformasse em uma tromba d’água e arrastasse Jandira e Ipojucam para o fundo da cachoeira, que passou a se chamar Cachoeira da Amorosa.

 

Lenda do Chibamba

O Chibamba é um remanescente dos rituais negros da África, que se transformou em Cuca, ou Negro Velho, e se tornou encarregado de fazer dormir à força as crianças. É uma espécie de Bicho Papão mineiro, cujo papel é adormecer as crianças pelo medo.

Fantasma do ciclo das assombrações criadas para assustar crianças, para fazer parte dos seus pesadelos noturnos. Amedronta as crianças que choram, as teimosas e as malcriadas.  

Considerado uma variação do Bicho-papão, o Chibamba é também conhecido como “espírito das bananeiras”, pois assim como faziam os africanos em alguns de seus rituais, o Chibamba se veste com folhas da planta.

Chibamba anda envolto em longa esteira de folhas de bananeira, ronca como se fosse um porco e dança de forma compassada enquanto caminha.  Às vezes, em meio à sua peculiar caminhada, dá uma paradinha seguida de um giro.

Há uma quadrinha que diz:

Ê vém o Chibamba, nêném, ele papa minimo, cala a boca!…

Os africanos costumavam ornamentar o corpo com folhar de bananeira em alguns de seus rituais (pesca, caça, colheita etc.) Por vezes eram mostrados às crianças como criaturas que viriam atormentá-las sempre que elas não quisessem dormir.

O nome é um vocabulário africano, na verdade de origem Bantu, e teria como significado uma espécie de canto ou dança africana à exemplo do Lundo.

 

 A lenda do Lobisomem

O antropólogo brasileiro Luís da Câmara Cascudo traçou as origens da lenda do lobisomem. Portanto, a lenda do lobisomem é encontrada na mitologia grega, sendo depois transportada para o mundo romano.

Nesse sentido, existe uma lenda da mitologia grega narrada sob diferentes versões que trata a respeito de Licaon, um rei mítico de uma região da Grécia chamada Arcádia.

Existe duas vertentes para essa lenda; uma que Licaon desagradou a Zeus, o deus do panteão grego, e por isso o amaldiçoou, com a maldição da licantropia, fazendo que ele fosse transformado em um lobo. Uma das versões fala que Licaon teria tentado matar Zeus.

Com a expansão das terras romanas, a lenda do lobisomem espalhou-se pela Europa e adaptou-se à cultura de cada local. A influência cristã fez com que a licantropia deixasse de ser uma maldição de Zeus e se tornasse uma punição pelos pecados. Na Rússia, por exemplo, acreditava-se que os lobisomens eram pecadores cumprindo a penitência pelos seus erros.

A lenda do lobisomem chegou ao Brasil pela influência da cultura portuguesa durante a colonização. Não se conhece nas nossas lendas indígenas algum silvícola que, nas noites de lua cheia, tenha virado lobo para ir saciar a sua sede de sangue humano.

Existem algumas semelhanças entre a versão portuguesa e a brasileira, mas também algumas diferenças; em Portugal, a crença popular acreditava que o lobisomem era um homem pálido e magro que poderia ser amaldiçoado com a licantropia como punição pelos seus pecados. Falava-se também que o lobisomem poderia ser o homem nascido de um incesto. Outros boatos contam que o caçula de uma família de sete filhos homens será, infalivelmente, um lobisomem, assim como a sétima filha de sete irmãs está fadada a ser bruxa.

Contudo é inegável que em todas essas versões, o indivíduo tem as mesmas características: magérrimo, anêmico, preguiçoso e parece sempre está doente. Tanto que vemos esses aspectos bem apresentado na obra brasileira “o Coronel e o Lobisomem” do autor José Candido de Carvalho, adaptado para as telas em 2005. Confesso que ainda não li o livro, mas o filme despensa comentários. E como já sabemos que o livro é sempre melhor que suas adaptações, por tanto, podemos esperar uma verdadeira obra prima da literatura nacional.

No Brasil acreditasse que a única forma de matar esse feroz homem-lobo é um uma bala revestida com cera da vela usada na missa do galo, já em suas versões europeias ele pode ser morto por bala de prata ou fogo.

Uma forma de quebrar a maldição é fazer que o lobisomem sagre um pouco. Mas quem com coragem suficiente para chegar perto dele o bastante para esfaqueá-lo?

 

Mitos e Lendas: Região Sul

Do Sul, eu conhecia apenas o negrinho do pastoreiro, acredito que seja uma das mais famosas, desse modo, desbravaremos juntos, essas graciosas e assustadoras lendas.

As lendas da região sul misturam as tradições indígena, africana, europeia e são usadas para explicar os costumes dos seres humanos e o comportamento dos animais.

 

Negrinho do Pastoreio

Nas distantes terras do sul, havia uma bela fazenda, com um gado bem cuidado e uma orla de cavalos, o orgulho de seu proprietário, cuja maldade se era conhecida por todos. Ali se sentia o poderoso, tratava todos com uma crueldade sem tamanho. Diziam que seu filho era tão perverso quanto ao pai.

Além de suas cabeças de gados, havia os negros escravizados, dentre eles o que todos conhecia como Negrinho, pois não tinha nome, não foi batizado. Em sua inocência de criança, dizia que sua madrinha era a Nossa Senhora, sua protetora. Sempre que podia o pobre garoto ia até capela acender uma vela e rezar por sua proteção.

Na versão conhecida dessa lenda, foi que certa noite os cavalos baios do fazendeiro fugiram, e o pobre neguinho teve que passar a noite procurando para não ser açoitado. Em outra versão; foi o gado que fugiu.  O jovem escravizado foi apontado como culpado do ocorrido, como castigo foi açoitado até perder o rumo e foi obrigado a procurar os animais. Mesmo machucado ele foi atrás dos animais, conseguido reunir todos eles antes do nascer do sol.

O jovem sinhozinho que gostava de fazer maldades com o Negrinho, soltou novamente os animais e avisou seu pai que o pequeno garoto não tinha cumprido a tarefa, o fazendo em sua cólera, bate mais uma vez nele e fala que ele tem que reunir novamente os animais.

Antes de ir à procura do gado, negrinho faz uma prece pedindo ajuda de sua madrinha. Com muita dificuldade o garoto sobe em um dos baios para procurar os bois, já que estava muito machucado, com a ajuda do cavalo e iluminando o caminho com uma vela ele tenta reunir os animais. Contudo, dessa vez ele não consegue terminar o serviço, pois dorme no meio do caminho por cauda da dor e cansaço.

Mas uma vez a pobre criança é açoitado e como castigo é amarrado em um formigueiro até a morte. Seus suspiros finais, ele clama pela Santa, que sensibilizada com seu sofrimento, o liberta e salva.

Atormentado por pesadelos, o poderoso fazendeiro vai até o formigueiro para ver se o garoto ainda estava vivo.

O que ele vê mudou sua vida para sempre; Negrinho sã e salvo, sem um ferimento se quer e ao seu lado Nossa Senhora, arrependido o fazendeiro se ajoelha e pede perdão.

Desse dia em diante, dizem que se você perder um objeto e pedir com fervor para o Negrinho do pastoreio ele ajuda a encontrar.

 

Lenda das Bruxas da praia de Itaguaçu, a ilha da magia

A ilha de Florianópolis é conhecida como ilha da Magia, pois dizem que muitos seres sobrenaturais povoam aquelas praias e são responsáveis por vários fenômenos estranhos. A praia de Itaguaçu, por exemplo, tem formações rochosas bastante curiosas.

Parte do folclore catarinense se deve à colonização açoriana. Segundo a lenda, durante a inquisição na Europa, as bruxas foram obrigadas a fugir para ilhas distantes e desabitadas para recomeçar a vida. E muitas foram para a ilha de Açores e acabaram pegando uma carona durante a colonização no Brasil.

Certo dia, as bruxas que viviam por ali resolveram dar uma festa, o lugar escolhido foi a Praia de Itaguaçu. E convidaram vários amigos, como a Mula-sem-cabeça, o Curupira, o Saci, o Lobisomem e muitos outros. Só não chamaram o diabo, pois esse fedia a enxofre, furioso, ele transformou as feiticeiras em pedras e elas estão ali até hoje, esperando que a raiva do coisa-ruim passe e as converta em bruxas novamente.

 

Lenda da Erva Mate

 Há mais ou menos 1000 anos antes da Era Cristã, muito antes dos europeus a conhecerem, a erva-mate já era consumida pelas populações indígenas Incas e Quíchuas na região onde hoje é conhecida como Peru, no Paraná pelas etnias Guarani, Kaingangue e Xetá. Para os índios, o consumo da infusão de folhas da erva, que também poderia ser consumida sendo mastigada, era um elixir de força e vitalidade, uma vez que, a planta possui propriedades nutricionais que estimulam o metabolismo humano. Entre as várias lendas indígenas para contar o surgimento do mate, a mais conhecida delas é a lenda de Caá-Yari, a deusa protetora dos ervais. 

Um velho guerreiro já cansado de suas batalhas e percebendo que a juventude e vitalidade não são mais suas companheiras, resolve se instalar em uma pequena choupana no meio da mata, sua filha Yari, vendo que o pai já não é mais o mesmo, resolve desistir de viver junto a tribo e constituir família, para cuidar do velho, mesmo a contragosto o velho guerreiro, concorda com benevolência de sua bela filha.

Certo dia, perto do anoitecer um forasteiro pede abrigo na choupana. Sem pestanejarem pai e filha dão abrigo ao homem, oferecendo lhe um pouco de comida, e um lugar para descansar perto da fogueira. Após a refeição, Yari entoa uma antiga cantiga guarani, que faz o visitante logo pegar no sono.

Pela manhã, agradecido por tamanha hospitalidade, o estanho confessa que foi um enviado do deus Tupã, as preces do velho para recuperar sua energia e vitalidade foram ouvidas, então entregou ao velho uma pequena muda e explicou que as folhas daquela arvore, poderiam se transformar em um elixir vitalizante, bastava fazer uma infusão das folhas secas e trituradas.

A muito tempo o velho índio não sorria tanto e em homenagem a bela índia o mensageiro de Tupã, transformou a bela Yari, em uma deusa protetora da erva mate. 

 

Lenda do Ahó Ahó, a ovelha chifruda

Provavelmente está lenda foi criada pelos padres jesuítas para convencer os indígenas de permanecer nas missões e não voltarem para suas aldeias. Assim, aproveitavam para demonizar a floresta e mostrar que a única salvação vinha de Jesus Cristo. Esta história está estendida entre todo o território pertencente aos guaranis.

Ahó Ahó ou Ovelha Chifruda é uma criatura monstruosa que devora pessoas. 

A lenda faz parte do folclore da região sul e provavelmente foi difundida pelos padres jesuítas durante o tempo das Missões entre os índios guaranis. Conta-se que o Ahó Ahó era um monstro parecido a uma ovelha, porém bem maior, robusto, com grandes chifres, dentes monstruosos e que jogava fumaça pela boca, que espreitava os homens para devorá-los. 

Os ahó ahó sempre andavam em bando e se chamavam entre si através deste som “ahó ahó”, daí seu nome. Eles buscavam os desavisados que andavam longe das reduções mantidas pela Companhia de Jesus. O único jeito de escapar era subir numa palmeira, considerada sagrada, por causa do Domingo de Ramos. Conta a lenda que foi as folhas dessa planta que aclamou Jesus no domingo de Páscoa. Com isso, o grupo perdia o rastro e abandonava a caça. Se a vítima subisse numa árvore de espécime diferente, o Ahó Ahó cavava as raízes até derrubar o pau e poder devorar sua presa.

Espero que você tenha gostado dessa seleção de lendas brasileiras, tentei fugir um pouco das lendas convencionais e mostrar algumas lendas pouco conhecidas ou até mesmo algumas lendas urbanas, que particularmente eu adoro. Nosso país é rico em cultura e histórias extraordinárias. Aqui todos os povos se misturam e se transforam em um só.

Por LADYLENE APARECIDA

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