NAU LITERÁRIA – Entrevista com Carlos Braga

NAU LITERÁRIA – Entrevista com Carlos Braga

Carlos Braga é mineiro da cidade de Bom Despacho, casado, pai de duas filhas, Major da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais, com formação superior em Carreira de Estado, portanto, sem uma titulação no ambiente do sistema civil de ensino, pois trata-se de cursos de graduação de interesse do Estado, assim como o são os cursos do Instituto Rio Branco que formam o Corpo Diplomático Brasileiro, são titulações que pertencem ao Estado e não ao indivíduo, podendo ser exautoradas em processos próprios.

Foi membro do Conselho Diretor da Fundação de Educação Superior de Roraima – Universidade do Estado de Roraima e Membro do Conselho Estadual de Trânsito de Roraima. Vice-Diretor, Coordenador Pedagógico e Professor do Instituto Superior de Segurança e Cidadania da Universidade do Estado de Roraima. É Acadêmico-Correspondente da Academia Maranhense de Ciências, Letras e Artes Militares – AMCLAM. É, também, cidadão com dupla nacionalidade, sendo brasílico-português.

 

ENTREVISTA

 

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REVISTA THE BARD – Magna Aspásia Fontenelle, entrevista o escritor Major Carlos Alberto da Silva Santos Braga!

De que maneira a literatura, entrou na sua vida?

CARLOS BRAGA – Senhora Magna Aspásia Fontenelle, o meu muito obrigado pela oportunidade de me expressar através da Revista The Bard!

Como a maioria das pessoas, que ingressou no ambiente escolar nas décadas de 1960 e 1970, tenho origem em famílias com parcos recursos financeiros e, a felicidade, residia em ir para uma biblioteca e ler os livros que se podiam emprestar. Anos depois, no início da década de 1990, por ocasião do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu Especialização em Trânsito na Universidade Federal de Uberlândia, tive a oportunidade de conviver com muitos Professores e Professores-Doutores que me incentivaram no aprofundamento literário e na hipótese da construção das ideias.

Afinal um curso de pós-graduação é um ambiente propício à validação, pois construindo problemas, hipóteses, teses e antíteses, chegamos à síntese, que em suma se apresenta como um exercício da validação. É a validação, uma habilidade, que se estrutura na compatibilidade do conhecimento, sendo o validador aquele que estrutura a validação, não cabendo aqui uma formação específica, qualquer formação superior, no exercício da práxis, demanda a arte de validar. Assim, através da literatura, me tornei um validador.

Para quem não conhece adequadamente o ambiente de educação, pensar sobre a existência de um curso superior de validação, manifesta-se como um pensar grotesco. Seria o mesmo que exigir de Jean-François Champollion, a frequência a um curso superior de validação, em uma Universidade qualquer, antes de decifrar os hieróglifos egípcios. Foi justamente a sua habilidade em conjugar os esforços e as competências adquiridas nos demais cursos superiores, que permitiu a ele ser considerado o Fundador e Pai da Egiptologia.

 

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REVISTA THE BARD – Qual foi teu trabalho que marcou o início de tua vida como escritor?

CARLOS BRAGA – Após terminar o Curso de Pós-Graduação Lato Sensu Especialização em Trânsito na Universidade Federal de Uberlândia, fui trabalhar na Divisão de Pesquisa da Academia de Polícia Militar de Minas Gerais, era o responsável pelas publicações da PMMG e pela Biblioteca daquela Academia. Me encantei pela essência de uma Instituição de Educação Superior, sobretudo, pela produção científica. No ano de 1993 comecei a escrever sobre os Comandos da Academia de Polícia Militar, um recorte histórico das ideias, dos símbolos e do conhecimento que aquela Instituição produzia, me tornei um historiador.

Tornar-se historiador é uma habilidade decorrente do conhecimento acumulado, consubstanciado pela formação profissional própria e investigativa, como bem define a Classificação Brasileira de Ocupações, pois é habilidade recorrente nas ciências sociais – a minha graduação encontra-se na área das ciências sociais. Me tornei um historiador e não um professor de história, pois o professor de história é aquele profissional com formação no curso superior correspondente. 

A obra “A Academia de Polícia Militar de Minas Gerais: Uma abordagem através dos seus vários comandos” (1998), torna-se a minha avant-première no ambiente literário.

 

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REVISTA THE BARD – O que te inspira a escrever?

CARLOS BRAGA – Muito do que somos e procuramos ser, devemos principalmente às pessoas que nos emprestam parte significativa de suas vidas, para nos ensinarem a encontrar o melhor caminho que nos tem permitido chegar aonde nos encontramos.

Sem essas pessoas nós, com toda a certeza, não teríamos conseguido construir uma hipótese de direcionamento nas ordenações das ideias e dos estados de consciências que nos possibilitaram alcançar a realidade que hoje vivemos.

Aprendemos a perceber que, muitos de nós, nos cercamos de um estado de ânimo, compatível com o entendimento que temos da realidade e que ao final, nada mais é do que a própria expectativa na busca de uma vida melhor. Mas não apenas uma vida particular e sim uma vida da coletividade, uma vida cujo somatório de emoções, frustações, ansiedades, alegrias e tristezas é comum a todos, onde em maior ou menor escala acabamos por sentir as mesmas manifestações de inquietação em nossas almas.

E são justamente as expectativas das pessoas, que me inspiram a escrever.

 

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REVISTA THE BARD – Cite tuas obras e qual você considera mais relevante, por quê?

CARLOS BRAGA – História (in)Completa da Academia de Polícia Militar de Minas Gerais: símbolos, ideais e conhecimento (2021). Na obra apresento a minha relação com o ambiente acadêmico e o significado daquela Instituição na minha formação profissional e humana, bem como, a validação do marco temporal expresso na Porta Neocolonial do Prado Mineiro, edificada no ano de 1922, para as festividades dos 100 anos da Independência do Brasil no Estado de Minas Gerais. É uma obra que incorpora a produção “A Academia de Polícia Militar de Minas Gerais: Uma abordagem através dos seus vários comandos” do ano de 1998 e os trabalhos posteriores relativos à Instituição de Educação Superior da Polícia Militar de Minas Gerais.

Família Braga da Silva: a história da construção do nome e a cidade de Bom Despacho no Estado de Minas Gerais no Brasil (2022). É uma homenagem à família paterna, relata a saga dos Rodrigues, nativos da cidade de Braga em Portugal e as imagens associadas ao cotidiano dos povos minhotos que vão contribuir para a formação da cidade de Bom Despacho e dos nomes de famílias que nela vivem.

O Contigencialismo: O Paradigma do Estabelecimento (2023). O livro que me define.

Raízes do Coração: Uma História Familiar. No prelo e com lançamento previsto para  o mês de janeiro de 2024, é uma homenagem à família materna.

Apesar de todas as minhas obras individuais, a que mais me atrai a atenção é um trabalho de conclusão do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, realizado na Fundação João Pinheiro em Belo Horizonte no ano de 1995, em conjunto com Solimar Rodrigues Pereira e Eduardo de Oliveira Chiari Campolina, onde abordamos os Cursos de Pós-Graduação na Instituição de Educação Superior da PMMG: Estratégias para Otimização.

Na conclusão do trabalho verificamos que os aspectos normativos daquela época impediam que os Cursos de Pós-Graduação, realizados na Instituição de Educação Superior da PMMG, fossem reconhecidos como Cursos de Pós-Graduação, pois afrontavam os ditames da Resolução nº 12/83 do então Conselho Federal de Educação, quer sejam nos aspectos relativos aos corpos docentes, quer sejam nos aspectos relativos aos corpos discentes.

Foi um trabalho avaliado por uma banca composta por quatro membros, sendo eles: um Professor-Doutor que era o Vice-Reitor da Universidade do Estado de Minas Gerais; um Doutor Honoris Causa da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais; um Professor-Doutor da Fundação João Pinheiro; e o Chefe da Primeira Seção do Estado-Maior da Polícia Militar, hoje Juiz do Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais.

É um trabalho histórico e de validação e muito significativo para o exercício prático sobre legislação de ensino.

 

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REVISTA THE BARD – Qual dos teus livros te define?

CARLOS BRAGA – Creio que seja “O Contigencialismo: O Paradigma do Estabelecimento”, pois é fruto das expectativas das pessoas que me inspiram a escrever. Aborda a questão do mundo atual e tenta, a partir do exercício de validação, acrescentar conhecimentos à rotina das pessoas.

É ele, o livro, um apanhado de artigos produzidos ao longo de vários anos e publicados no espaço virtual PontoPM, cujo Gestor Principal é o Professor e Coronel Veterano da Polícia Militar de Minas Gerais Isaac de Oliveira e Souza, é um exercício de ponderação e respeito pelas ideias. Oportunidade em que aqui, manifesto o meu respeito e gratidão ao Coronel Veterano da Polícia Militar de Minas Gerais Isaac de Oliveira e Souza.

 

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REVISTA THE BARD – Tem sonhos literários? Quais?

 CARLOS BRAGA – Muitos. Ainda pretendo publicar um livro sobre o Conhecimento e aprofundar nos escritos sobre o ensino militar, cujo objetivo é o direcionamento numa temática que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação trata como matéria de legislação específica.

Tentar demonstrar que ao tratar o ensino militar, em lei própria, não é pretensão do legislador dizer que é permitido criar figuras já descritas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, ao tratar, por exemplo dos cursos de pós-graduação lato sensu e stricto sensu, os ditames são os descritos na lei federal.

A lei do ensino militar é semelhante à normativa subordinada à lei de trânsito, quando a norma federal define limites máximos de dimensões e pesos dos veículos que trafegam nas rodovias federais, o Estado não pode estabelecer para as suas rodovias limites maiores do que os previstos para a esfera federal, apenas limites iguais ou inferiores, afinal um sistema rodoviário é semelhante ao sistema circulatório do corpo humano, temos veias, artérias, vasos e todos se comunicam.

Com o ensino militar, para que tenha eficácia no sistema civil de ensino, deverá guardar proporções aos critérios já estabelecidos na lei federal, não pode estabelecer limites inferiores ou contraditórios, de outra forma é retrocesso, deixa de configurar um nicho e se transforma numa falácia, gerando prejuízos pessoais e institucionais, além do descrédito junto às demais instituições de ensino superior.

 

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REVISTA THE BARD – Já deixou de escrever para não magoar uma pessoa muito próxima?

CARLOS BRAGA – Sim. Sempre que tenho a intenção de aprofundar sobre determinado tema lanço a ideia e absorvo as expectativas e os conhecimentos próprios de cada um. Aperfeiçoo o que for possível e descarto as incompreensões.

Recentemente passei por uma situação análoga, onde procurei jogar uma hipótese de construção de um pensamento e foi muita mal-recebida. A pessoa se sentiu ofendida e deixou transparecer a sua ira. Foi como se eu tivesse arrancado o filho do seu ventre.

Como tudo na vida são oportunidades, apaguei tudo e me afastei, creio que num ambiente de construção de ideias a prevalência é pelo respeito.

 

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REVISTA THE BARD – Deixe uma mensagem para os leitores da Revista The Bard!

CARLOS BRAGA – Vivemos um mundo imediatista, onde o virtual tenta preencher o nosso tempo, somos bombardeados com excesso de informações e descartamos parte considerável do nosso conhecimento porque acreditamos que, a qualquer momento, a nossa dúvida será sanada por um Algoritmo – a Inteligência Artificial. 

Aproveite a oportunidade dada a nós pela Revista The Bard, pois como o seu idealizador a construiu, é um espaço multicultural, multilinguístico e multiartístico que cria uma oportunidade diferenciada para escritores e artistas em geral com o objetivo de oferecer a todos o acesso às discussões dos temas contemporâneos, com participação integralmente voluntária.

A Revista The Bard é, com certeza, uma oportunidade de crescimento e valorização cultural, sirva-se dela.

Muito obrigado à Senhora Magna Aspásia Fontenelle. Obrigado aos Senhores Editores da Revista The Bard e de forma especial, o meu obrigado aos leitores da Revista The Bard.

 

LIVROS

 

Por MAGNA ASPÁSIA

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