NOSSA LITERATURA – Entrevista com  Rafael Zimichut

NOSSA LITERATURA – Entrevista com Rafael Zimichut

ENTREVISTA

Rafael Zimichut – Nascido em Caieiras/SP, é bacharel em Direito e Teologia, pós-graduado em Docência do Ensino Superior e Direito Administrativo, faz bacharelado em Filosofia e mestrado em Teologia. Escritor, Músico e Palestrante. Iniciou sua carreira literária escrevendo poemas e logo em seguida seu primeiro romance: “Antes que tudo tenha um fim”. De lá pra cá, Rafael só aumenta seu número de livros publicados e já conquistou os seguintes prêmios literários: Prêmio Ecos da Literatura, Reflexo Literário e WBR Awards.

 

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THE BARD Algo que fiquei impressionada foi com tua disciplina espartana, lembrei da teoria para se atingir a excelência: “se tens um talento e passas a exercer esse talento até completar dez mil horas, mais ou menos três horas por dia em dez anos, assim alcança-se a excelência”. A tua rotina diária na escrivaninha reflete essa teoria?

 

RAFAEL ZIMICHUT Exato, quando decidi me tornar escritor profissional busquei o máximo de informação sobre como é a rotina de um escritor e ao ler “Sobre a Escrita” de Stephen King, ele diz que obrigatoriamente os escritores têm que ler e escrever “todos os dias”, inclusive nas férias, mesmo que diminua o ritmo, mas tem que escrever para não perder o ritmo da história, então, comigo funcionou bem e como meus livros têm em média 250 páginas, consigo ter uma produtividade literária saudável de três a quatro livros por ano, por incrível que pareça, não me mato de escrever não (risos), apenas escrevo diariamente, às vezes 50 páginas, às vezes 10, mas todo dia escrevo.

Mas o mais importante é entender a regra da escrita, que são etapas, o livro não nasce pronto, mas é escrito várias vezes, revisado outras muitas vezes e sem isso em mente a rotina de escrita não funciona, e principal, o livro nunca sai do lugar.

 

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THE BARD No teu Instagram encontrei um post com dicas para escritores iniciantes, que diz: “…escreva todo dia no mínimo uma página, pois no final do ano terá 365 (Stephen King), não dê ouvidos a críticas, boas ou ruins, não te ajudam em nada (Dan Brown), escreva o que você gosta, alguém também vai gostar (Sidney Sheldon) …” enfim, tu citas até Yves Saint-Lourent. Eu vi também, acho que lá no blog, que no início de tudo pra ti, tiveste uma frustração amorosa, que fez te comprometeres contigo mesmo na construção do Rafael que és hoje. O palestrante motivacional e a reiteração do compromisso desta intima construção; se fundem, se confundem ou se complementam?

 

RAFAEL ZIMICHUT Na vida de um escritor tudo é complemento, mas ao ler as biografias de dezenas de escritores de sucesso, eu poderia não precisar passar por certos dissabores, obviamente eu precisava de um estopim e receber uma negativa de alguém que você gosta e admira despertou em mim algo que provavelmente não estaria acordado sem isso e agradeço imensamente por isso. Talvez esse tipo de mentalidade eu tenha adquirido por ser atleta e conviver o tempo todo com a frustração de não vencer em alguns momentos e superar isso, existem pessoas que chegam ao fundo do poço e acham que é o fim, eu sempre vi tudo em minha vida como um capítulo, alguns será bom, outros não tão bom, terá emoção, aventura, romance, então moldei minha vida nessas circunstâncias, nem vejo esse episódio hoje em dia como algo ruim, só como um plot twist de alguém ignorante que mudou toda a sua vida depois de um fora (risos).

Mas escrever é externar algo bom que nasceu em nós, e se fazemos algo bom e a pessoa não gosta, eu não posso me sentir culpado pela pessoa não gostar do que escrevi e eu gostaria que tivessem me falado isso quando comecei na literatura, pois tentava agradar todo mundo e minha escrita acabava ficando plastificada demais, não parecia verdadeiro, porque isso acontece? Porque uma das regras de ouro é escrever algo que você gostaria de ler e existirão pessoas no caminho que vão amar seus livros, outras serão indiferentes e existirão aqueles que não gostarão, irão tecer críticas, por vezes maldosas. Como irei reagir a isso? Não preciso reagir a nada disso, não preciso sofrer porque alguém não gostou e também não preciso me gabar porque alguém amou, só fiz o que amo e algumas pessoas irão amar junto comigo, essa é a sina do escritor.

 

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THE BARD No Brasil há um cenário social muito plural, segmentado, onde não está incutido o hábito da leitura; mas, tu vens contra a maré, como a maioria dos bons escritores, não defendes bandeiras, te preocupas com o teu leitor naquilo que seja o mais comum a todos, as questões universais. Meu raciocínio está correto, ou seja, tens esse desejo de identificação por parte do leitor e assim, fazê-lo refletir para que lhe agregue algo com a leitura de teus livros?

 

RAFAEL ZIMICHUT Isso é a troca de experiência saudável, da mesma forma que autores como Dan Brown, Sidney Sheldon, Stephen King entre muitos outros se identificam em diversas situações, sejam elas políticas, culturais, sociais, ideológicas, espirituais etc., e é muito bom quando encontramos identidade em pessoas que admiramos e isso irá refletir nas pessoas que ao ler meus livros se identificarão, um exemplo disso, quando escrevi o livro “Um drink no paraíso”, uma das personagens, Laís, tem uma doença “x” e uma leitora uma vez me mandou mensagem dizendo ter ficado sensibilizada pela personagem e como ela enfrentou a situação e aquilo a ajudou a enfrentar o seu problema, que era o mesmo da personagem. E isso aconteceu comigo também, quando li Sidney Sheldon estava em um momento muito experimental em minha escrita, mas quando li “Um estranho no espelho”, minha cabeça simplesmente abriu como se eu soubesse exatamente quem eu gostaria de ser, como eu gostaria de escrever, que tipo de personagens gostaria de criar/descrever, o seja, foi a luz que eu precisava, e quantas pessoas a gente não conhece que simplesmente tiveram essa experiência literária?

Mas ainda há um mito sobre o brasileiro não gostar de ler, se você for na Bienal de São Paulo, sempre os ingressos estão esgotados, o Brasil é um dos países que mais se lucram no mundo com livros, o que a gente não tem é a cultura de se pagar bem os escritores como acontece nos Estados Unidos e é mais fácil você encontrar editoras prestadoras de serviço do qual o autor arca com as despesas do que uma editora tradicional que investe pesado em autores internacionais e alguns poucos nacionais, mas a pluralidade é maravilhosa, pois há espaço para todos, o que falta é reconhecimento, pois temos público, temos espaço, temos autores nacionais que não perdem em nada para autores internacionais, digo com propriedade isso, pois o autor vivo que mais vendeu livros no mundo com uma única obra é coincidentemente brasileiro.

 

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THE BARD Falando em identificação, que a consequência deságua nesta entrevista, a tua revista World Book Review, tem muito a ver com a The Bard na causa do espaço e visibilidade para novos escritores, acesso gratuito, promover a acessibilidade literária; nela tens o Prêmio Literário e nós, temos o Desafio Poético e outros eventos. Na tua concepção, acreditas que são essas iniciativas independentes que de fato facilita o conhecimento da literatura e aproxima mais o público, inclusive, devido as redes sociais acaba atingindo todas as camadas de público?

 

RAFAEL ZIMICHUT a revista nasceu com o desejo de divulgar a literatura, divulgar autores e fazer com que as nossas vozes sejam amplamente ouvidas, em nosso mundo cada dia mais digital, estamos cada vez mais isolados e perdendo a essência de trocas das experiências, tudo gira em torno do quanto irá receber e quase nunca de se dar algo, a literatura me abriu muitas portas e eu pensei: Que tipo de porta tenho que abri para alguém? E porque não entrevistar, divulgar, conhecer novos autores, autores internacionais, autores nacionais já conhecidos? Todos eles têm algo a oferecer, mas eu jamais cobraria algo de alguém para participar porque a ideia da revista é a interação, conhecer e também ser conhecido e o prêmio nos deu a visibilidade natural de poder reconhecer o fruto do trabalho das pessoas.

 

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THE BARD Caro Rafael, entre te conhecer e fazer a entrevista, não houve tempo para ler pelo menos um dos teus livros, mas estão na minha lista, vou lê-los. Entretanto, gostaria que tu nos comentasse dois dos teus livros, o premiado “Nada Além do Céu” e o mais recente “O Enigma Blake”. O reconhecimento através de um prêmio traz a certeza da maturidade como escritor, como tu sentes neste patamar da tua carreira? Com relação a tua obra mais recente, tu sentes uma expectativa, uma cobrança de sucesso pela editora, público ou tu contigo mesmo?

 

RAFAEL ZIMICHUT Por eu ser discípulo de Sidney Sheldon e Dan Brown (coincidentemente Dan é discípulo de Sidney), eles dizem que o maior prêmio de um autor é o seu público em si e eu sempre foquei nisso, obviamente que ganhar é legal, e participar é incrível, mas nada disso tem tanta importância quanto os leitores te reconhecerem como um bom autor, quiçá, grande escritor, mas na minha mente ainda impera a questão de tentar me surpreender na escrita.

Quando escrevi “Nada além do céu”, estava vivendo uma situação estressante no meu trabalho e o escrevi em um caderno durante os intervalos (ainda tenho o caderno com os originais de “Nada além do céu”, “Um novo dia para amar” e “Um dia um adeus”), aquilo foi um alento, o livro ficou tão especial que as pessoas sentiram esse impacto durante a leitura, da mesma forma “O Enigma Blake” (que o considero a minha melhor obra), pois ao escrever “Crepúsculo da Escuridão”, que eu considerava a minha melhor obra até então, entrei pela primeira vez numa espécie de crise existencial como escritor pensando: Será que meu próximo livro será melhor do que esse? A resposta era sempre negativa, mas então eu percebi que não é questão de ser melhor ou não, eu escrevo porque amo escrever, e isso por si só já é algo incrível, e se você faz algo se sentindo incrível, pode fazer não só um livro melhor, mas pode alcançar um novo tipo de público, ou seja, não há perdas, e já escrevi outros dois depois de “O Enigma Blake”, um chamado: “Inimigo Oculto” que já está disponível na Amazon e em breve na UICLAP e outro que não posso falar no momento, pois está participando de um prêmio internacional de livros inéditos.

Quanto aos prêmios em si, é algo viciante que aprendi ao ler o livro do Bernardinho (Transformando suor em ouro), que é tão importante vencer quanto estar entre os primeiros, então, comecei a me inscrever nos prêmios, ganhei alguns, fui indicado para dois prêmios internacionais, e perdi outros ( e está tudo certo não vencer tudo também) foi uma porta aberta que abriu outras portas e são as experiências que estou vivendo que está fazendo com que este ano esteja sendo tão especial, é um reconhecimento? Não tenha dúvidas, mas é uma experiência melhor do que eu estava imaginando.

Mas voltando à pergunta, eu me blindei quanto a cobranças de qualquer dos lados, então, enquanto tiver ideias para escrever, simplesmente vou escrever, com essa mentalidade já se foram mais de 60 obras, quantas mais virão? Não tenho como prever, mas sempre quis chegar em 200 obras, mas só o tempo irá dizer se alcançarei esta marca.

 

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THE BARD Já findando nossa entrevista, agradecemos tua atenção, consideração e tempo doado. E por favor, deixe para nós, equipe The Bard, e para nossos leitores, uma mensagem de incentivo na busca do lugar ao sol, seja na carreira literária ou não.

 

RAFAEL ZIMICHUT Só posso ser grato a Deus por tudo o que me proporcionou, ser grato à minha família que está ao meu lado em todos os momentos, isso é o melhor dos prêmios, por vocês da revista The Bard, que sempre foram incrivelmente gentis e generosos comigo e com nossa Revista, a gratidão é uma dívida que não prescreve e sou imensamente grato pela amizade e parceria leal que tiveram comigo e nossa revista, agradecer também aos meus leitores que trocam essa experiência maravilhosa e me acompanha nessas aventuras, por vezes que ficam bravos porque mato seus personagens favoritos, ou quando deixo de matar seus vilões favoritos (risos).

Para aqueles buscam um lugar ao sol só posso falar o que me falaram nas dezenas de biografias que li, acredite no seu talento, acredite em suas histórias, acredite em você, não deixem que diga que é impossível, se é isso o que você quer, vai fundo, escreva sobre o que você gosta de ler e não o que está na moda, a vida são feitas de capítulos, então escreva cada página de forma especial que Deus escreve a sua página.

Por CLEÓPATRA MELO

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