POETAS E POETISAS Morra um pouco mais por Tonho Guede

POETAS E POETISAS Morra um pouco mais por Tonho Guede

Escuridão na memória.
Decidi esvaziar a caixa de memória
para curar a caixa de batimentos cardíacos.
Mas o nevoeiro inundou-me
a memória.
Fechando os olhos para o presente
para não sentir a chuva na bochecha
e poder
enfrentar um novo dia.
Pensei em mim mesmo
sob um sol claro que dá calor
aos ossos,
só consegui atingir a umidade
do nevoeiro do abandono
contra todos os ossos.
Nu de sentimentos e ilusões,
estou pregado no meio do presente
esperando
o trem da realidade me atropelar.
Mas o tempo que eu habito
descarrila uma curva antes,
aquela maldita curva onde
realidade e sonhos
colidem eternamente
como num dia de laço infinito
do qual é impossível fugir
de onde você nunca pode acordar.
Talvez isso esteja a morrer,
habitar eternamente no nada,
espera que os pés deem esse passo
que eles nunca empreenderão,
à espera desse novo movimento,
desesperançado que nos lançará no abismo,
no nada.
Decidi abandonar e abandonar-me.
Tentando morar no nada
que agora inunda a minha memória
e poder-me perpetuar no vácuo.
A vida não dói mais.
A caixa torácica é calma.
Escuridão na memória.
E vazio nos olhos.

Por TONHO GUEDE
Ourense – Galícia, España

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