PROSA POÉTICA – Geologia do ser por Mari Ventura

PROSA POÉTICA – Geologia do ser por Mari Ventura

 Mil vontades me despertam ao amanhecer, na minha cabeça acontecem mil dias em um segundo, me perco entre ousadia e timidez. As vezes minha fúria de sobrevivência me impede de ir, eu até sei o caminho, mas os rótulos não me deixam passar. Ao invés de pontes, faço montes e esses são deslizantes, escorregadios e às vezes provocam abalos. E me pergunto: onde vou com tanta pressa? O que busco nessa correria? Me escondo ou me revelo?

 Mas não estaciono. Sigo em frente. Há percalços, terremotos, desilusões, mesmo assim não deixo de habitar a minha terra, sei que há mil jeitos de acessá-la, não me seguro nas certezas, pelo contrário me agarro às sombras e habito ali, onde mora o medo, no epicentro da minha paisagem.

 Uso e abuso das alianças que fiz comigo, algumas já quebradas, mas ainda vivas. Por outro lado, há sabedoria em mim, compreensão e há uma senhora que me sustenta, e faz acreditar na vida.

 Há em mim um solo sagrado, uma paisagem poética cheia de letras pintadas de sangue, mas esse sangue não é frio, é correnteza, vinho que embriaga, mas também acessa torrentes de lucidez.

 Sou uma mulher em labaredas, que antes de si, quer salvar o mundo inteiro.

Por MARI VENTURA

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