PROSA POÉTICA – Sentimento Estrangeiro por Tamires Silva

PROSA POÉTICA – Sentimento Estrangeiro por Tamires Silva

 Não havia me dado conta até aquele exato momento que pela manhã ouvi pelo rádio a notícia das mortes no morro, que vidas foram tiradas e famílias destruídas. Ali a realidade me esbofeteou a face sem piedade, como não me dei conta que perdi a capacidade de sentir empatia pela dor do meu semelhante, não só isso, mas a minha letargia com relação a tudo, de como o sistema como um todo nos entorpece para a realidade que nos cerca. Nos prendemos tanto ao nosso pequeno mundo particular preocupados com contas, obrigações e preocupações familiares que não percebemos como nos tornamos pessoas mecânicas, engrenagens de uma grande máquina de produção e consumo sem tempo para observar e assimilar a dor alheia, que poderia muito bem ser a nossa. Todavia, a ideia de não pertencimento àquela realidade de perdas constantes que aqueles moradoras sofriam diariamente a cada manhã ao sair dos seus lares para trabalhar a quilômetros de casa, muitas vezes perdendo o crescimento de seus filhos, no entanto, a realidade nua e crua as obrigava a ceifar do peito esses momentos doces para o alento materno para que seus maiores bens conseguissem sobreviver à luta em uma sociedade que trata suas existências como mera estatística para pesquisa de campo.

Por TAMIRES SILVA

Pular para o conteúdo