PROSA POÉTICA – Uma jangada na manhã de domingo por Edna Lessa

PROSA POÉTICA – Uma jangada na manhã de domingo por Edna Lessa

Vesti-me de esperança enquanto caminhava na areia da praia. Absorvi a vida em cada imagem refletida diante de meus olhos e respirei gratidão. Nenhum movimento se perdeu, tudo foi observado e sentido intensamente pela poetisa que buscava no mar o refrigério para suas dores.

Enquanto divagava em meus pensamentos percebi que não estava sozinha. Vi crianças jogando bola na praia; famílias que bebiam e conversavam alegremente, mulheres que dançavam ao som de uma música animada; um casal que caminhava de mãos dadas sem preocupação com o tempo e um adolescente que corria para alcançar o seu cachorro. Pessoas congregavam e se divertiam por toda parte.  Havia vida em abundância e senti o ritmo, a cor e o movimento de um domingo abraçado pelo sol reluzente. Entre tantos encantos, algo impressionante chamou minha atenção: a perseverança de cinco pescadores que tentavam retirar a jangada do mar. Percebi que nunca tinha parado para pensar na forma em que jangadas entravam e saiam do mar e que o esforço empregado neste ato era desmedido.

Por minutos fiquei a observar aqueles homens queimados pelo sol e resistentes por natureza. Anônimos na terra, mas heróis no mar. Capturei-os na memória e registrei cada pequena vitória impulsionada pela força sincrônica de seus corpos, que tentavam a todo custo retirar a jangada, com a pescaria que alimentaria centenas de pessoas, do mar. A conta não batia. Cinco homens apenas para uma jangada de médio porte e parecia impossível o que estava acontecendo. Eu queria aplaudi-los e falar sobre como eles me ajudaram nesta manhã de domingo. Meus problemas pareciam tão pequenos! Aproximei-me um pouco mais e meu olhar espantado, era correspondido. Eles pareciam tão curiosos com minha presença, quanto eu com a resiliência deles.

 – Eu os ajudaria se pudesse…. Pensei, enquanto me aproximava um pouco mais.

Um deles, com olhos azuis da cor do mar, como se estivesse ouvindo meus pensamentos perguntou sorrindo: – Quer ajudar?

 – Sim, sim! Eu os ajudarei com meu superpoder! Sorri e continuei andando.

Ele sabia que eu não tinha superpoder algum. Porém, segui com a certeza de que eles o tinham. Sem pretensão alguma, com a cena da jangada, me ensinaram que o superpoder estar em fazer a travessia com leveza e em ancorar o coração nos aprendizados que a vida ensina.

Por EDNA LESSA

Pular para o conteúdo