PROSA – Tempos verbais por Thamires Cantareli

PROSA – Tempos verbais por Thamires Cantareli

Ainda é difícil de acreditar:
Um dia “ser” e no segundo seguinte “era”
Conjugações verbais esquisitas… Parece irreal
Deveria ter um nome para o sentimento de ausência repentina de uma pessoa.
Será que o luto é sobre quem se vai ou sobre quem fica? É sobre a morte do outro, ou sobre a morte de um pedaço seu? A falta que o outro fará no mundo ou a falta que o outro te fará?
Não entendo direito sobre partidas, ainda mais as repentinas. Mas entendo um pouco sobre a língua materna e me recuso a acreditar que um tempo verbal se torne outro em questão de segundos.
Deveria haver uma transposição dos tempos contínuos para a flor do Lácio, talvez assim conseguíssemos prolongar alguns dos momentos que parecem infindáveis:
– A dor da confirmação com o ar não voltou aos pulmões
– O momento em que o cérebro fica nublado por alguns segundos tentando processar o que aquilo significa.
– O momento seguinte de dor anestésica até a dor dilacerante
– O momento de reflexão sobre a vida e sobre tudo o que ela significa
Toda essa explosão neural, em diferentes modos: imperativo, subjuntivo, indicativo até que por fim, o verbo vá para a forma nominal, uma coisa, um particípio, um pretérito. “Morto”.

Por THAMIRES CANTARELI

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