Olhando para fora de seu apartamento através da janela do quarto, tem uma mulher de 50 anos sentada na cama, pensando na própria vida. No que deixou de realizar e no que pode fazer. Ela tem frustrações, só não se sente bem ao pensar nelas. Porque na verdade, ela ainda tem dúvidas e medos. Sobretudo de encarar a realidade de muitos fatos, que a levaram até essa sensação de que falta-lhe alguma coisa.
Dinha é a caçula de 8 filhos, sempre foi muito protegida pelos pais, irmãs e irmãos. Ela teve oportunidade de estudar, de fazer uma graduação numa época em que poucas pessoas como ela entravam numa universidade.
Ela sempre foi considerada bonita, nunca teve problemas em arrumar namorados. Cansou de ouvir falarem de sua beleza exótica, pele da cor do pecado, traços finos e corpo escultural. Dinha se achava a própria “mulata exportação “! Quanta ilusão! Escutou tanto que percebeu que seu casamento começou em cima dessas ideias equivocadas sobre beleza e amor. Por isso, se separou! Na próxima semana , vai assinar o divórcio e tem planos de sair do Brasil. Logo vai se aposentar e nada a prende aqui. Seus pais morreram, filhos, não teve. O marido a convenceu a esperar o momento mais calmo, que nunca chegou. Talvez, ela tivesse gostado de ser mãe e quem sabe , avó. Apenas, talvez!
Não adianta se lamentar por isso, ela pensava. Afinal, foram minhas escolhas. A prioridade agora é ser real e ponderar mais. Nunca deram-lhe tempo pra refletir muito antes de tomar decisões. A vida sempre a empurrou e ela temia perder o trem das oportunidades! Nesse ritmo, ia andando para os lados sem muita vontade. Quantas vezes esteve na dúvida se avançava ou retrocedia.
De uma coisa ela tem certeza: quer amar de novo! Ou melhor, descobri se amou quem viveu ao seu lado por 26 anos ou fora uma ilusão. Sua maior ilusão. Essa é uma de seus grandes entraves: a incerteza do amor. Dizem que ela está velha pra isso! Ouviu falar que ela perdeu o juízo e se tornou sem noção.
Ela agora desvia o olhar da janela e mira seu reflexo no espelho do guarda-roupa. O que os outros dizem não tem mais a importância de antes. Ela está enxergando em si mesma, um leque de possibilidades. Ela quer viajar , principalmente para dentro de si.
Por RENATA LIMA