Da rua ouvia-se o som de tambores, e a cada minuto o barulho ficava mais alto; já era madrugada e não havia motivo para toda aquela balbúrdia do lado de fora. Curioso, um genérico morador interiorano afastou um pouco as cortinas para que pudesse espiar o que acontecia na rua pela estreita fenda. “Dum dum dum”, ouviu-se o barulho do tambor, dessa vez, dentro do quarto. O homem tomou um baita susto e nem chegou a ver o que sucedia lá embaixo; seu coração foi a mil e parecia que infartaria naquela noite. Ele tomou coragem, decidiu afastar as cortinas rapidamente e todos os ruídos cessaram; ficou estupefato, começou a achar que poderia ser coisa da própria cabeça, então, tomou um calmante, deitou-se e desligou a luz.
“Dum dum dum” soou o tambor, naquele momento muito próximo aos ouvidos dele, fazendo que ele acendesse o abajur o mais rápido possível. Não viu nada, como não conseguia dormir, decidiu ligar a televisão e levou uma surpresa ao perceber que a maçaneta da porta estava girando sozinha. A porta abriu-se e ele não viu ninguém, mas, estapafurdiamente, um véu finíssimo e branco que rastejava no chão entrou no quarto. O homem não o percebeu entrando, sendo surpreendido pelo tecido que esbarrou em uma de suas pernas quando começou a girar e se elevar, tornando visível uma mulher com uma luz saindo de sua testa, sendo visível embaixo do pano.
A pândega parecia ter começado. Naquela hora foi possível escutar uma música sem qualquer melodia sendo tocada com instrumentos de sons atípicos enquanto uma corda feita de véus semelhantes e unidos por nós entrou na alcova de maneira muito mais espalhafatosa. Os véus desfizeram os nós entre si e passaram pelo mesmo processo do primeiro pano, posteriormente, começaram a dançar e a música ficava cada vez mais alta.
O homem não sabia mais o que fazer diante daquela situação e encolheu-se em posição fetal enquanto ouvia sussurros de várias vozes que diziam coisas ininteligíveis. Quando já não havia jeito de resolver aquilo, os véus começaram a se fundir em um só enquanto a música diminuía. O grande tecido, nadando no ar como um majestoso peixe betta, uniu suas pontas e transmutou-se em uma grande ameba cristalina com uma membrana furta cor que estendeu seus pseudópodes e envolveu o homem dentro de si, ele, exausto, parou de relutar e finalmente encontrou o nirvana, assim, dormindo tão bem quanto nunca antes.
Por LIZÉDAR BAPTISTA