Manoel J. Castanho é jornalista e pós-graduado em finanças. Participou de várias antologias literárias, premiado com a Láurea Cultural Hipólito José da Costa. Escreve poemas em português, espanhol e italiano, tendo sido semifinalista do concurso Calma Infinita, do Centro de Estudos Poéticos de Madri. É pai do Travessura e do Tempestade e sonha com um bom natal…
Sonho com um bom natal…
Minhas primeiras lembranças de natal estão muito associadas a momentos de paz. Depois do nosso momento em família, as luzes da nossa árvore eram ligadas e as da sala desligadas. Aquele pinheiro não era grande; devia ter entre 1 e 1,5 metro de altura, com sua pequena estrutura plástica, que enfeitávamos com festão dourado ou prateado, algumas bolas coloridas e passarinhos vermelhos. Uma pequena guirlanda, talvez com uns 30 centímetros ou menos, também tinha passarinhos e luzes coloridas ao seu redor, e era colocada ao pé da árvore. Eu poderia ficar horas olhando o movimento das luzes e ainda posso ouvir, se fechar os olhos, as músicas tocadas por aquele enfeite.
Já nos últimos anos de infância as memórias estão relacionadas aos enfeites de natal na cidade de Brasília. Era um tempo em que várias fileiras de lâmpadas desciam do alto de cada ministério e passavam sobre o Eixo Monumental, presas do outro lado da avenida. Algo semelhante era feito no Congresso Nacional, e tenho alguns cartões-postais que mostram os enfeites daquele tempo. A torre também tinha fileiras de lâmpadas ao redor, descendo desde o alto até o chão e fazendo movimentos piscantes que poderíamos olhar durante um longo tempo.
Imagem de OleksandrPidvalnyi por Pixabay
Mais tarde, na adolescência e juventude, as memórias natalinas estão relacionadas às visitas dos meus tios André e Marta. Sempre morei longe dos demais familiares; por isso, aquelas visitas era um acontecimento. O André era meu tio preferido; infelizmente ele nos deixou muito cedo. Encontrei uma forma diferente de felicidade vestindo-me de Papai Noel, tanto em ações sociais (e foi particularmente marcante a visita que fizemos a um orfanato) quanto em nossas comemorações de família.
Os anos passam e, gradualmente, a magia se vai. Não, a do natal, mas a da vida. Aprendemos que o natal, no Brasil, começa rigorosamente no dia 13 de outubro. Hoje aparentemente somos mais pobres, mesmo tendo mais recursos. O pinheiro da minha casa tinha mais de dois metros, mas tinha que brigar para colocar luzes coloridas porque a ex-esposa as associava mais ao carnaval do que ao natal. Não o sentia como se fosse meu. E pouco vejo as pessoas enfeitarem o exterior de suas casas como antes (houve um tempo em que, no meu bairro, havia um concurso para escolher a rua mais enfeitada). Ainda há enfeites interessantes, como aquele prédio com luzes imitando uma vela ou aquele shopping iluminado como se fosse uma caixa de presente, mas existe aquela sensação de que não é igual (exceto pela música Então é Natal). Às vezes fico com a sensação de que o natal passou e eu não vi direito por onde ele foi.
Os anos se passaram e meu primeiro filho nasceu num mês de dezembro — e “por toda a terra nasce uma nova manhã”, como diz a canção. Sempre falo para ele que esta é a época mais bonita do ano. Dois anos depois nasceu o segundo — e, quando achei que começaríamos a construir nossas próprias lembranças familiares de natal (aquelas que, para mim, não são como as da minha infância, mas que seriam os natais inesquecíveis na memória deles), veio o divórcio, a família se desmanchou e a distância faz com que eu tenha metade destas datas sem meus meninos que são meus amores.
A vida nos faz desiludidos, mas, o natal renova as esperanças. Tempo atrás entrei num namoro, a filha dela dizia que poderíamos nos casar após passarmos dois natais em família. Não estamos mais juntos, mas ainda imagino este natal, com um pinheiro, que seja enfeitado do nosso jeito, meus filhos e os dela em volta da mesa e a emoção do sonho tornado realidade quando, ao fundo, tocar a canção:
Imagem de Tim Douglas por Pexels
“Sonho com um bom natal.
Com boas festas a dizer.
E este dia, saibam, será.
Um natal para não mais esquecer”.
Por LILIAN BARBOSA