O ex-jogador Pierre, campeão da Libertadores pelo Atlético Mineiro em 2013, tem 1,73 de altura. Jamais vou me esquecer disso.
Mais do que isso, caro leitor, jamais vou me esquecer de que ele não tem 1,82 e do dia em que meu pai me deu essa informação.
O ano era 2011. Neymar no Santos, Ronaldinho no Flamengo, Brasil arrebentando no sul-americano Sub-20 e eu, então com 9 anos, amando tudo aquilo.
Na entrada da mercearia da Dona Ceiça, um cartaz fez meus olhos brilharem. Ele anunciava o lançamento do almanaque do Brasileirão daquele ano.
Fui correndo para casa. Pedi a minha mãe para comprar o álbum e alguns pacotes de figurinhas. Dona Rosana, que sempre achou bonito o meu amor pelo futebol, me deu o dinheiro sem pensar duas vezes.
O formato do álbum e o material usado em sua confecção lembrava o de um gibi da Turma da Mônica. Dentro de cada pacote vinham três figurinhas e uma carta, estilo Yu-Gi-Oh! Quem viveu sabe.
Passei a andar agarrado com aquele negócio para cima e para baixo, ansioso para mostrá-lo ao meu melhor amigo: meu pai.
Seu Patrick, que até hoje está sempre disposto ame ouvir falar sem parar sobre tudo o que me entusiasma, jogava uma partida de Bomba Patch (que saudade!) enquanto eu lia em voz alta as informações contidas no meu novo brinquedo favorito.
Eu estava na página dedicada a Sociedade Esportiva Palmeiras quando li para ele algo que nunca vou me esquecer.
— Lucas Pierre Santos Oliveira, volante, um e oitenta e dois.
— Um e oitenta e dois?
— Sim.
— O Pierre do Palmeiras?
— Sim, pai. Tá! Escrito aqui.
Meu pai pausou a partida, olhou para mim e me pediu que eu lhe mostrasse o álbum.
— O Pierre não tem um e oitenta e dois nunca. Ele deve ser um pouco mais alto que eu. Amanhã te dou um presente. Você gostará.
No dia seguinte, meu velho chegou em casa com o almanaque oficial do Campeonato Brasileiro de 2011 e dez pacotes de figurinhas. Foi um dos dias mais felizes de toda a minha infância.
Hoje, aos 22 anos, sei que desde o início meu pai tinha conhecimento de que o álbum da mercearia-assim como todos os produtos de futebol que eu tinha na época-não era licenciado. Nasci numa família pobre e nunca fomos o público alvo das lojas oficiais dos clubes. Gastar um quarto do salário numa camisa? Nem se fosse autografada pelo próprio Charles Miller!
O que o meu velho não admite de nenhuma maneira desde aquela época é a displicência. Ou pior: que desafiem a sua inteligência. Qualquer um que já viu um jogo do Pierre sabe que ele não tem 1,82. Negar isso é brigar com a imagem. É absurdo!
Você, caro leitor, há de concordar comigo que tem muita gente com um vício patológico por brigar com imagens. Jogador de futebol, político, delegado de polícia, aquela sua vizinha meio xarope. A imagem já está agonizando de tanto apanhar.
Era de se imaginar que hoje, com centenas de câmeras por todos os lados, acesso rápido a informação, agências de checagem de notícias e o escambau, ninguém se atreveria a dizer que fez o que não fez, viu o que não viu, que sabe o que não sabe. Mas parece que o descarado só aumenta a cada dia.
Querem nos convencer de que o Pierre tem 1,82 e aí de quem disser o contrário. Será logo acusado de tentar calar X ou Y, de não respeitar a opinião alheia.
No entanto, convoco todos a se juntar ao meu amado pai nessa luta. Não deixe que desafiem a sua inteligência e que desmintam o que você está vendo. O Pierre não tem 1,82 nunca!
Por GUILHERME OLIVEIRA DA SILVA