Era uma tarde estranha num lugar estranhamente familiar, de repente me vejo em frente a uma casa pegando fogo e os bombeiros entrando e saindo às pressas para tentar conter as chamas.
Olho ao redor e percebo que não estou em casa apesar saber que pertenço àquele lugar, a cidade deu lugar à mata verde fechada em frente à casa e um caminho obscuro assustador me espera de volta, de onde eu acabara de sair.
Percebo um olhar me observando caminhar em direção a casa como se eu fosse a própria heroína do gelo que salvaria a pobre pessoa que estava lá dentro, viro de lado e percebo que não é uma pessoa e sim uma criatura, ela não é desse mundo, isso eu tenho certeza, mas não tenho tempo de avaliar, a pressa toma meus pés e sigo a passos largos lata dentro da casa que já não está mais pegando fogo, há lama em todos os cômodos, sinto meus pés afundarem a medida que vou correndo abrindo qualquer porta que eu veja pela frente na intenção de salvar o dono daquela que um dia foi uma bela casa de fazenda, mas minha busca é em vão e o dono há tempos já se foi, antes mesmo daquele incêndio que consumia aquela estrutura já tão prejudicada pela falta de cuidados.
Havia apenas uma porta fechada ainda e o meu coração palpitava de esperanças de encontrar alguém vivo, ao girar a maçaneta meus olhos alcançaram a cama que tinha apenas um chapéu de couro em cima de uma cama antiga de madeira impecavelmente arrumada com sua coberta cinza bem esticada como se tivesse sido feita naquele exato momento, a certeza que encontraria alguém vivo fora arrancada do meu peito me lançando na escuridão dos corredores do porão daquela que um dia foi um lar, ora corria, ora andava e sempre gritando por alguém que não vinha.
Quando já havia desistido de procurar, finalmente vejo a saída, mas para minha arrepiante surpresa alguém queria me ver, O Espírito Gato. Quem seria ele? O que queria comigo? Meu corpo reagiu antes do cérebro, arrepiei inteira e corri para fora da casa, onde a criatura ainda me esperava sentada pacientemente como se soubesse tudo que aconteceu lá dentro.
Viro-me para ela pela primeira vez, é um homem de cabelos da cor de fogo e a pele amarelada, orelhas pontudas, vestindo uma roupa branca e com um sorriso maroto no rosto, a princípio me assustei com a aparência, mas isso deixou de ser relevante quando ele me ofereceu um assento:
– Nem preciso te contar nada não é, você já sabe o que acabou de acontecer. Agora quero que me diga o que aconteceu, por favor. – Eu disse encarando aquele homem que brincava com o olhar.
– O Espírito Gato te persegue há mais tempo do que você imagina, ele te acompanha de outras vidas. Mas não é para te fazer mal, ele só quer entregar uma mensagem que você se recusa a receber. – disse ele brincando com um cão que ao mesmo tempo era um gato.
Fiquei observando aquele momento na vã ilusão de que seria apenas uma brincadeira inocente quando de repente uma entidade começou a se manifestar dentro do pequeno bichinho e a voz daquela criatura assumiu um tom mais grave enquanto ele dizia:
– Estou vendo você aí demônio infantil, este corpo não te pertence, saia e vá para onde você não deveria ter saído.
Fiquei perplexa ao ouvir aquelas palavras e cheia de dúvidas: como um bichinho daquele tamanho suportava a força de um demônio infantil? O demônio era gigante e traquino, estava fazendo coitadinho do bichinho se contorcer de sofrimento por causa das suas leviandades.
Então olhei bem no fundo dos olhos daquele homem, que estava só esperando o momento que eu falaria, e disse:
– Muito bem, vou te contar o que aconteceu: o Espírito Gato olhou diretamente para mim e me pediu para esperar por ele que ele já estava vindo, mas eu fiquei com medo daquele ser branco de olhos pretos me estendendo a mão, e corri. Agora eu gostaria muito de ouvir de você qual a mensagem que tanto quer me passar.
O homem apenas ouviu e assentia uma vez ou outra enquanto eu relatava o episódio sinistro do qual eu já não tinha mais medo.
– Acho que você ainda não está preparada para receber essa mensagem, já que foge dela toda vez, mas vou te explicar os caminhos para que você a desvende sozinha. – disse ele já desaparecendo e me deixando sem a tal mensagem.
Por JAQUE ALENNCAR
