Crônica de Cleópatra Melo, escrita em 18 de julho de 2017.
Ontem desci tarde da noite e fui à cozinha, com certeza comer, taurinos amam geladeiras, principalmente se tiver coisas…, mas se tratando de mim, vou logo avisando que nem pensei em açaí. Achei um copo de inox com suco de abacaxi que esqueci no freezer, tava picolé! Nem foi de propósito, é porque Baco é guloso, esses deuses…aiaiaiai, desconfio que seja taurino também, tal é sua influência sobre minha gula.
Antes que me perca, deixa eu voltar para o causo.
Como estava contando…, peguei o picolé, fui pra sala deitar na rede, liguei a tv e no telecine cult tava passando 007 e o espião que me amava, e ao mesmo tempo, também estava no meu grupo do facebook, orquidófilos apaixonados, lia um poema que citava toda a franquia do 007, massa! (deu pra perceber que faço tudo ao mesmo tempo, né?! Só Deus na causa!).
Mas, mais uma vez voltando pro causo…
Antes de me esparramar na rede, avistei algo que não precisava ser aprendiz de espiã pra saber o que era. Descaradamente na parede da minha sala, próximo a janela do jardim, um gafanhoto descansando. Só podia, nem se intimidava com a minha presença!
Acho que ele pensou que seu tamanho me assustava, ele era enorme e verde igual a descrição do louva-deus de Clarice Lispector no seu conto “Uma esperança”(livro “Felicidade Clandestina” – Clarice Lispector).
Bom, aqui não é o Rio de Janeiro, apesar de também termos louva-deus, aqui é Belém do Pará, Amazônia, é mais comum um gafanhoto, e do tamanho que era, só podia ser aqui ou desertor do batalhão das sete pragas do Egito…, não sei! Nunca se sabe o tempo de vida dessas vidas, a barata por exemplo, tá aqui desde os dinossauros, e sobrevive à radiação, isso não é inseto, como diz o meu Jotinha, isso é um mini monstro.
Pois bem, o gafanhoto tava na maior, se achando o bambambã, eu prontamente peguei a vassoura – calma, não fiquem com pena, ainda não seria dessa vez que iria usar todo meu potencial assassino e tão pouco serve um inseto para inaugurar o cemitério de Odorico Paraguaçu, essa vassoura não era o chinelo da Clarice Lispector, pois é, coitado do louva-deus, que bom que aqui, dizem, ainda somos índios, natureza nos é natural – A vassoura serviu pro gafanhoto pousar que nem papagaio no poleiro, assim o conduzi a janela e ele, pasmem, não só pulou como voou, de tão grande que era parecia um periquito-verde e esse verde brilhava nas asas, como se o sol estivesse refletindo, e era apenas a luz do pátio, era como vida pulsando, me enterneceu, entendi o porquê do verde ser esperança, senti esperança.
Por CLEÓPATRA MELO