MOMENTO RESENHA – Quarto de despejo

MOMENTO RESENHA – Quarto de despejo

 RESENHA LIVRO CLÁSSICO

Quarto de Despejo

 “Quarto de Despejo” é um soco no estômago. Maria Carolina de Jesus, em seu diário real, nos mostra as condições desumanas nas quais era submetida na favela onde morava. Um misto de sentimentos me acompanhou na narrativa: revolta da corrupção, do próprio ser humano, de suas agonias em catar papel para dar comida aos filhos, da fraqueza sentida, das mentiras de muitos políticos durante as campanhas eleitorais. Entendi que a necessidade tem cor: amarela. Apesar de ter sido escrito na metade do século XX, trata-se de um livro atemporal. Dói no coração o conhecimento da miséria e das humilhações advindas de uma civilização escravocrata, que infelizmente incide até hoje nas entrelinhas da vida em formas de desigualdades e injúrias. A própria autora afirma que, em 1958, batalhava contra a escravatura da fome. A escrita salvou Maria Carolina de Jesus da penúria, apesar das contingências, acreditou que as palavras lhe resguardavam a justiça. Nesta edição, os editores respeitaram a linguagem da escritora, mesmo contrariando a gramática, incluindo a grafia e a acentuação, com o intuito de retratar com realismo a forma em que ela enxergava o mundo. A história do Brasil se encontra naquelas linhas, interligando às pesquisas de Djamila Ribeiro, quando diz que a população negra foi formalmente liberta pela Lei Áurea, porém deixada à margem da sociedade, ou seja, por um tempo perdurou uma política de branqueamento no país “com base na crença do racismo biológico de que negros representariam o atraso”. Lamentável perceber que isso reflete até hoje em diversas circunstâncias. A gente lê Quarto de Despejo e quer gritar, chorar, tirar aquele povo daquelas situações, fazer justiça, e o ódio aos corruptos que coadunaram para isso mais incrementa. E eu me questiono: até quando?! Até quando, meu Deus? Até quando vai ser normal crianças receberem pães duros recheados com pernas de barata?!

Por  SARAH SCHMORANTZ 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo