CONTOS E MINICONTOS – Depois daqui por Elizete Ferreira

CONTOS E MINICONTOS – Depois daqui por Elizete Ferreira

 E do nada, aquele barulho… Os pneus no asfalto numa freada brusca e longa e de repente aquele solavanco e um estrondo.

 Do alto eu observava um carro embaixo da traseira de uma carreta todo amassado e retorcido.

 Muitas pessoas saindo de outros veículos e indo na direção do acidente tentando abrir o carro, mas o que se via das portas demonstravam que seria impossível abri-las sem as ferramentas e ajuda especializadas…

 As pessoas gritavam pedindo por socorro e pedindo ajuda para chamar uma ambulância, bombeiros e corriam desesperadas de um lado para o outro sem saberem bem o que fazer…

 Algum tempo depois surge na pista, sinalização luminosa de emergência e a sirene ligada, chegando cada vez mais perto daquele acidente…

 A ambulância parou ao lado e desceram de dentro dela três pessoas e rapidamente foram direto para o carro embaixo da carreta, baixando, chegaram até as pessoas e começaram os procedimentos de primeiros socorros ali mesmo, em seguida mais sirenes e vários outros profissionais juntaram-se ali e foram retirando as pessoas acidentadas de dentro do carro e colocando sobre prancha e lona ao lado…

 Assistindo, eu estava curiosa, ansiosa, por ver todos serem resgatados e orando a Deus que aquelas vidas fossem salvas…

 Então alguém segurou a minha mão direita e me puxou levemente e disse – Temos que ir!

 Surpresa, respondi – Não, ainda não!

 Mas, aquela mão voltou a puxar-me e com muita firmeza e uma voz feminina suave voltou a dizer – Vamos! Temos que ir!

 Eu ia responder, mas algo chamou a minha atenção…

 Tive a impressão de ver a minha irmã e o meu sobrinho ferido ao meu lado e eu estava deitada numa lona preta… Mas EU estava me vendo lá e ali também!! Como era possível aquilo?

 Um arrepio percorreu todo o meu corpo. Fiquei muito confusa e fui sendo levada por aquela mão, morna. As vozes das pessoas, o barulho dos veículos, o cenário do acidente da rodovia foram sumindo, até desparecerem por completo.

 Quando consegui reagir pergunte – Pra onde estamos indo? A mesma voz feminina falou – Está tudo bem, não se preocupe.

 Percebi que tínhamos entrado numa trilha estreitinha, bem iluminada, tudo muito bonito e harmonioso…

 Mas eu não reconhecia nada daquele lugar e o silêncio por todo o ambiente era absoluto.

 Continuamos a caminhar até que surgiu um grande espaço sem paredes, porém parecia fechado em formato parecido com losango só que no fundo era mais largo que a parte onde estávamos. De repente aquela mão soltou a minha mão e disse – chegamos!

 Descanse um pouco. Se precisar de algo é só chamar.

 Fiquei ali parada e olhando ao redor… Parecia uma biblioteca, com pequenas cavidades, cheio de pergaminhos e tudo sugeria a leitura…, mas não tinha gente ali.

 Não senti medo, não sabia me entender e nem discernir o que era aquela sensação que eu estava sentindo.

 Tudo ali era novo, diferente, meu olhar não encontrava nada pessoal ou algo familiar naquele local.

 Havia muita luz, era bonito e amplo. Um ambiente acolhedor e misterioso demais para mim.

 Comecei a questionar-me… Por que vim pra cá? Aliás, quem me trouxe para cá? Onde é que estou? Estou sozinha aqui, não faz sentido?! Que lugar é esse?…

 Um sentimento de pânico começou a mover-me…Eu quis gritar, mas me controlei e olhei novamente a minha volta… Vi duas senhoras conversando animadamente num canto daquela (Sala)? Fui direto pra lá… E ao ver me chegando uma delas disse-me – Oi querida! Venha! Vou te levar pra casa. Nem sei quem era aquela senhora, mas fiquei feliz!

 Elas se despediram e a senhora que tinha falado comigo pegou-me pela mão e me indicou uma saída, vamos!

 Um alívio muito grande invadiu-me… O percurso era iluminado e muitas cores apareciam ali especialmente rosa claro e lilás.

 Aquela senhora falou – A vida é o presente mais lindo que uma pessoa ganha de Deus!; Que eu era uma joia muito valiosa!; Que o amor Divino tinha me reconstruído!; Que eu devia viver um dia por vez, mas aproveitar cada segundo como se fosse o último!; E falou muitas outras frases lindas sobre fé, esperança, respeito, lutas… Eu prestava atenção as suas palavras quando percebi outros sons, vozes, motores, buzinas, muito barulho! Reconheci a voz do meu filho Daniel…Uma alegria imensa tomou conta do meu coração!

 Ele conversava com a esposa Mila sobre o quartinho e a chegada da primeira filha, que ia se chamar Catarina, tudo estava acertado e a cesariana seria às 07 horas da manhã.

 Daniel disse – Essa é a minha primeira alegria depois que a Mamãe se foi…Mila falou – Ela ia adorar conhecer a nossa filha, pena ela ter morrido antes. Mas Deus sabe o que faz…

 De repente a Senhora apertou a minha mão, então por uma fração de segundo pensei ter visto o rosto da minha mãe! Mas já faziam muitos que ela tinha falecido, não tinha como ser ela.

 A senhora disse – Bom você está entregue. Vá!

 Sua família está à sua espera, vá!

 Quando abri meus olhos dei de cara com o Daniel me encarando com um sorriso banhado de lágrimas e me dizendo: bem vinda minha filha! Que Deus abençoe você Catarina! Eu te amo filha!

 Eu buscava resposta para aquelas palavras deles, afinal eu não era a filha deles e sim Iracema a sua MÃE!

 Enquanto ouvia Daniel e Mila me chamando de filha deles, me beijando no rosto, dizendo que eu era linda…

 Um bip insistente…Era o meu celular…Olhei ao redor, estava no meu quarto e ainda estava escuro…

 Nossa! Que sonho esquisito!

 Sinistro! Mas, parecia tão real!

 Mais tarde ligo para eles, vou dormir mais um pouco.

Por ELIZETE FERREIRA

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