CONTOS E MINICONTOS – O caso da aliança de casamento por Monique Bispo

CONTOS E MINICONTOS – O caso da aliança de casamento por Monique Bispo

 Haviam cinco pessoas sentadas à mesa quando o detetive Rossi chegou na casa dos Barbosa. Ele observou a cena por alguns instantes: Dona Irene, a matriarca, chorava inconsolavelmente; Antônia, a filha mais nova, tentava acalmá – la; Joaquim, vulgo Quincas, o filho do meio, olhava para todo o lado, entediado; Firmino, marido de Antônia, mexia no seu celular distraidamente; por fim, Valéria, a empregada, também tentava consolar Dona Irene.

 O detetive Rossi se apresentou e pediu que lhe contassem o que havia acontecido, todos falaram ao mesmo tempo e ele não pôde entender nada. Pediu que todos esperassem fora da casa, falaria com um de cada vez e a primeira foi Dona Irene. Depois de um longo suspiro ela explicou o que tinha acontecido:

 – A minha aliança de casamento sumiu, alguém a roubou, tenho certeza disso.

 – Quando foi a última vez que a senhora viu ela? – perguntou o detetive.

 – Ontem.

 – Onde?

 – Na minha mão.

 – A senhora tirou ela em algum momento?

 – Não.

 – E quando percebeu que ela tinha sumido?

 – Quando acordei e vi a caixinha aberta e vazia na minha mesinha de cabeceira.

 – A senhora não usava a aliança sempre?

 – Não mais, está um pouco folgada e tenho medo de perdê – la. Só uso em ocasiões especiais.

 – Então ela pode ter caído por aí.

 – Já reviramos a casa inteira, não encontramos.

 – A senhora tem certeza de que guardou a aliança na caixinha?

 – Hã… não. Mas eu sempre guardo lá.

 – Alguém entrou no seu quarto ontem ou hoje?

 – A Valéria, talvez.

 – Ok Dona Irene, vou falar com ela agora. Obrigada.

 – Por favor, ache minha aliança.

 – Farei o possível.

 – Obrigada. – Dona Irene saiu da casa e no mesmo instante Valéria entrou, acompanhada por um policial:

 – Sente – se – disse Rossi. – A senhora…

 – Senhorita – interrompeu – o a empregada.

 – A senhorita entrou no quarto de Dona Irene ontem? Para limpar, talvez?

 – Entrei cedo.

 – E viu a caixinha onde ela guarda a aliança? – Valéria pensou por alguns segundos e respondeu:

 – Não lembro, tava uma confusão danada.

 – Qual o motivo da confusão?

 – A morte do seu Eugênio.

 – Quem era esse?

 – O marido da Dona Irene.

 – Ele morreu ontem?

 – Sim.

 – Como?

 – Acordou gritando, massageando o peito, levaram para o hospital, mas morreu no caminho. Disseram que foi infarto fulminante. Muito triste.

 – Sim. Imagino que já o tenham enterrado.

 – Sim, ontem mesmo, às 18h.

 – Onde foi o velório?

 – Na capelinha do cemitério.

 – Lembra – se de ter visto se Dona Irene usava a aliança durante o velório? – Valéria pensou novamente por alguns segundos e confirmou.

 – Vi na mão dela quando ela deu um tapa no braço do Quincas.

 – O Joaquim, filho dela? Por que ela bateu nele?

 – Sim. Não sei. Foi algo que ele disse.

 – Está bem. E depois? A senhorita viu a aliança de novo? – Valéria exitou.

 – Não me lembro. Trabalhei muito ontem, servindo o pessoal, não prestei muita atenção em ninguém.

 – Certo. Por enquanto é só. Obrigada pela sua colaboração Dona Valéria.

 – Valéria só. De nada detetive. – ela piscou – lhe um olho e sorriu maliciosamente. Rossi devolveu – lhe o sorriso enquanto ela saía, “é uma mulher muito bonita” pensou. Depois de se recompor pediu a um policial que trouxesse Joaquim.

 – Meus pêsames pelo seu pai, seu Joaquim.

 – Obrigado. Me chame só de Quincas.

 – Quando foi a última vez que você viu a aliança da sua mãe?

 – Ontem no velório.

 – Em que momento?

 – À tarde.

 – O que ela estava fazendo.

 – Sendo forçada pela minha irmã a beber um chá.

 – E depois disso?

 – Fui a um bar beber e quando voltei o caixão estava prestes a ser descido para dentro da cova. Mamãe tinha passado mal e nem ela e nem Alana estavam lá.

 – A empregada disse que viu sua mãe lhe batendo, o que houve?

 – Não aguentava mais vê-la chorando tanto, então pedi que ela parasse e disse que meu pai não merecia tanto, ela não gostou, mas depois eu me arrependi.

 – Ah sim. Por enquanto é só. Obrigado. Peça a sua irmã para entrar por favor.

 – Tá bem. – Quincas saiu e dois minutos depois Alana entrou.

 – Dona Alana a senhora ficou o tempo todo perto da sua mãe durante o velório, certo?

 – Sim detetive.

 – Em algum momento a aliança caiu do dedo da sua mãe?

 – Algumas vezes.

 – Então pode ter caído, alguém com más intenções pegou e as senhoras não perceberam nada, não é?

 – Pode.

 – Quando foi a última vez que a senhora viu essa aliança?

 – Quando iam fechar o caixão para levar para o local onde seria enterrado, minha mãe se jogou encima dele desesperada, minha irmã mais velha e uma vizinha me ajudaram a tirá -la de lá e eu vi, de relance, a aliança na mão dela.

 – O que aconteceu depois?

 – Ela desmaiou, nós a trouxemos para casa e lhe demos um calmante quando ela despertou porque estava muito nervosa, logo ela dormiu e só acordou hoje de manhã.

 – A senhora foi a última a ver a aliança, além da sua mãe, então pense bem e me diga, viu ela cair em algum momento enquanto ajudava sua mãe a soltar o caixão ou quando a trouxe para casa? – Alana pensou por alguns instantes e respondeu.

 – Não, mas…

 – Mas?

 – Acho que ouvi alguém dizer “caiu alguma coisa aí dentro” quando a desgrudamos do caixão.

 – Como sabe que era com a senhora que estavam falando?

 – Vinha das minhas costas, parecia que a pessoa estava falando no meu ouvido, mas ela falava alto. Só percebi isso agora.

 – E esse “aí dentro” se refere a?

 – Não sei… O caixão, talvez? – os olhos de Alana, de repente, se arregalaram: – Oh, não!

 O detetive Rossi balançou a cabeça afirmativamente, pensando a mesma coisa. Reuniu todo mundo na sala e contou sobre sua suspeita, todos ficaram chocados com ela. Dona Irene não queria nem saber, queria a aliança de volta de qualquer jeito, então mandaram exumar o corpo e lá estava ela, no peito do falecido.

 O detetive Rossi recebeu seu pagamento e foi embora, não sem antes deixar um bilhete para Valéria, a empregada, com seu nome e seu celular escrito nele. Depois do trabalho viria a diversão.

Por MONIQUE BISPO

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