Tem um restaurante popular na Rua XV. O preço do buffet é 9,99. Tem boas saladas, arroz, feijão e outros acompanhamentos. Pode repetir, menos a carne que é um pedaço por pessoa. Se o pedaço é pequeno, a moça que serve a carne dá dois pedaços. O dono circula o tempo todo no buffet e nas mesas, sempre conversando com as pessoas, fazendo alguma graça e tal.
Restaurante sempre cheio. Tem muito idoso. No geral, dá pra ver que são pessoas mais simples, pedreiros talvez, pessoal de limpeza e segurança, atendentes de lojas e farmácias, vendedores das ruas. E provavelmente alguns sovinas, avarentos, mãos de vaca. Às vezes, vou lá.
Cenas que eu vejo: pratadas cheias, enormes, montanhas de comida, macarrão escorrendo pelo prato afora. Bocas e roupas sujas de alimento. Velhinhos comendo devagar, se atrapalhando nas colheradas, sobras de comida sobre a toalha de plástico colorida.
No horário de pico, a gente tem que dividir a mesa com outras pessoas, desconhecidos. Agora vou contar: um dia sentou à minha mesa um rapaz com seu pratão de comida. A carne dele era um bife à milanesa. Fiquei pasmado quando eu vi que ele comia o bife com a mão. Talhares só para comer os acompanhamentos. Pegava o bife, mordia um pedaço e devolvia o resto ao prato. Depois, de novo. Mais uma coisa que ele fazia, e essa me assustou um pouco mais: ele não usava o guardanapo, simplesmente puxava uma parte da blusa e limpava a boca. Pegava a blusa, passava na boca e soltava. Depois, de novo.
Fiquei pensando nesse imenso povo brasileiro. Tanta gente que não sabe de nada, que vive assim desse jeito, que não tem modos, não teve a oportunidade de ter educação, formação escolar, e todas essas coisas que há no mundo, conhecimento, ciência, artes, literatura, tudo o que o espetacular ser humano descobriu e realizou.
Por MARIO COSTA