HISTÓRIA DAS ARTES – Histórias em Quadrinhos

HISTÓRIA DAS ARTES – Histórias em Quadrinhos

Então, Deus disse: ”Escreva a minha
mensagem em uma história em
quadradinhos, para que qualquer um
possa entender e espalhe para os outros”
(paráfrase do livro Hc 2,2)

 Falar e escrever sobre histórias em quadrinhos (HQs) é rememorar, revisitar os baús da memória e vasculhar resquícios e fragmentos lúdicos, unindo imagens, significados afetivos traduzindo sentimentos, cheiro de infância, revelação e luz das formas do imaginário. Trazer um pouco da história das HQs me faz reviver infâncias, minha e de muitas crianças, ver sorrisos, aprendizagem e estimulo a leitura. É voltar a mais tenra idade e se descobrir entre as páginas de uma revista em quadrinhos, imagens e letras ganhando forma e significado. Nesse artigo percorremos a história das HQs desde o surgimento do homem a contemporaneidade, de forma sucinta, ressaltando fatos e dados importantes para nossa compreensão e apreensão. Sem pretensão de cessar discussões sobre o tema, sobretudo tem-se a intenção de trazer olhares apaixonados e poéticos sobre o gênero. Vem comigo, adentrar e ser seduzido no trajeto da história das HQs!

 As Histórias em quadrinhos fazem parte da vida de todas as pessoas, não há que não tenha tido contato com uma delas. Seja nas tirinhas de jornais e revistas, seja nos gibis com histórias completas, todos temos referências de personagens como Mônica, Magali, Super Homem e Snoopy. Lê-las é incentivar a leitura para a construção de novas histórias, para o surgimento de leitores e escritores.

A memória se constrói tecendo imagens, evocando
significados afetivos do que não se quer esquecer.
É uma liga que adesiva os cacos do passado aos
novos elementos do presente, colando os
fragmentos dos episódios vividos à nova dimensão
de significados adquirida. Produzindo um vitral que
determina nosso contexto (Cardoso, 2004).

 As HQs, consideradas um importante meio de comunicação do século XX, ganharam espaço no mundo da arte, sendo amplamente conhecidas, principalmente pelos clássicos de heróis e vilões. Não se restringindo, no entanto a essa possibilidade, e, mas se abre um leque de amplas possibilidades, sendo utilizado como recurso narrativo para diversas histórias, que podem ser ficcionais ou representativas de fatos históricos. Tem como característica principal a predominância da linguagem visual. Recurso comunicativo, no qual as cenas individuais são postas em sequência para construir-se um movimento narrativo.

“Não entendo nada de histórias em quadrinhos,
mas mesmo não as entendendo, gosto delas”
Adolfo Aizen, (pioneiros das HQs no Brasil e fundador da EBAL).

 Nascidas e expandidas pelo surgimento da imprensa e do jornal, as histórias em quadrinhos conquistaram sua autonomia e ampliaram seu alcance, adentrando, inclusive, o cinema. As diversidades estéticas e temáticas solidificaram a força do gênero. Popularmente, os quadrinhos mais conhecidos são norte-americanos e ficcionais, entretanto, há obras representando fatos históricos ou propondo releituras de textos anteriores, entre outras possibilidades.

Arquivo pessoal de Betânia Pereira

O que são histórias em quadrinhos?

 São narrativas gráficas, ou seja, histórias narradas compostas por imagem e texto. Sua denominação varia entre arte sequencial (nome atribuído pelo famoso quadrinista americano Will Eisner), narrativa figurada e literatura ilustrada. Podem ser vistas como revistas ou em jornais, no formato de tirinhas. Esse gênero pode ser definido também, por sua estrutura em pequenos quadros — podendo ser do mesmo tamanho e ordem, e, em outros casos, de diferentes tamanhos ou abertos —, nos quais as imagens e possíveis falas expressam-se em uma relação de tempo-espaço no texto.

“História em quadrinhos é, antes de tudo, roteiro. Não é
desenho: desenho vem na seqüência. O que eu busco é
roteiro, história, texto.”
Mauricio de Souza

 São conhecidas geralmente, como gênero lúdico, voltado principalmente ao público infantil, ou como as famosas histórias de super-heróis, que, pelo grande sucesso que tiveram e ainda têm no imenso público. Entretanto, existem diversos temas, estéticas, linguagens e universos trabalhados por histórias de quadrinhos e que nem sempre são reconhecidos. Como as adaptações de textos literários, os quadrinhos de cunho mais filosófico; os com estéticas e histórias próprias, como os de terror, romance, ficção científica; os que fazem releituras textuais, os de gênero crime/policial, infantil, juvenil, históricos, etc. Podendo ser utilizada por qualquer escritor como recurso de expressão, basta encontrar a estética e os personagens mais adequados para os efeitos que se deseja criar.

 Como importante meio de comunicação em massa, as histórias em quadrinhos provocam um grande fascínio nas crianças, trazendo novas funções para o gênero. Do ponto de vista educacional pode, até afetar a educação do público infantil, por trazer ideologias e possibilidades de trabalhar conceitos de vida e morte, alegria e tristeza, medo, insegurança, luta, agressividade, timidez, dentre outros. Importantes para esses seres em formação, ampliando assim os conhecimentos sobre o mundo, que a vida social exige.

 Os quadrinhos, por sua predominância textual na imagem, retratam os movimentos e o passar do tempo por meio da sequencialidade de imagens que representam momentos estáticos, mas que, vistos em relação aos outros quadrinhos, contam uma história. Existem muitas HQs que só utilizam a linguagem visual e exploram as aproximações e os distanciamentos, as perspectivas, os exageros, as cores e outros elementos, para representar ou expressar comportamentos, que são compreendidos pelo leitor.

Arquivo pessoal de Betânia Pereira

Qual a origem da história em quadrinhos?

 O gênero em questão tem o objetivo de contar uma história, ficcional ou não, que representa feitos da humanidade em sua época. Então, entendendo a representação que o gênero literário faz, é possível associar sua origem ainda com as pinturas rupestres, que há 35 mil anos eram a forma de reprodução que os seres humanos usavam para contar e relatar suas vidas e cotidianos, com explicações e descrições sequenciais de acontecimentos.

 Alguns estudiosos atribuem o surgimento das histórias em quadrinhos às práticas de pinturas rupestres, nas quais o uso da imagem era primordial não só para representar pensamentos, mas também para contar histórias. Entretanto, existem enormes diferenças entre as pinturas rupestres e as HQs, tanto em seu contexto cultural e material quanto na estrutura e organização da história.

 Depois da arte rupestre, é possível ainda ver essa forma de narrativa retratando, por exemplo, a unificação do Egito Antigo, bem como na Grécia Antiga, com os vasos gregos que representavam atividades cotidianas e feitos épicos. Essas narrativas mostravam a cultura de um dado povo, em uma dada época, representando temas filosóficos e modelos de comportamento que guiavam as populações em suas culturas. Assim, nascem os heróis, que servem como modelos para os cidadãos comuns.

 Os quadrinhos, como os conhecemos hoje, nasceram com o uso e expansão da imprensa, pois, pelos jornais, as primeiras tirinhas foram publicadas e consumidas pelos leitores. A prensa a vapor passou, então, a imprimir mais impressões em menos tempo, fazendo com que os impressos alcançassem um público muito maior. Esse fato garantiu ao gênero uma inserção no consumo cultural, mas, por outro lado, limitava suas publicações, pois, os autores dependiam do jornal.

 Com a invenção do papel-jornal, as impressões ficaram muito mais baratas e acessíveis, e os quadrinhos chegaram a muito mais pessoas, ajudando a combater o analfabetismo e gerando mais leitores. Ainda no século XIX, com o Romantismo em alta, obras com heróis e vilões que misturavam realidade e ficção eram retratadas em tirinhas e quadrinhos, o que contribuiu ainda mais com a popularização do gênero.

 Por volta da década de 1930, as tirinhas já publicadas em jornais passaram a ser republicadas em revistas independentes. Como o jornal geralmente era descartado após a leitura, essas revistas cumpriam a função de manter as tirinhas à disposição do público.

 Foi em 1939 que a primeira revista de história em quadrinhos foi publicada, nos Estados Unidos, apresentando o herói Superman. Esse personagem ainda não possuía a forma e as características de hoje, entretanto, já era visto como um símbolo do bem, além de traduzir dos valores norte-americanos, pois, representava um homem “super” em duas faces: tanto o Clark Kent quanto o Superman eram bem-vistos socialmente.

 O gênero ficou muito conhecido nos Estados Unidos, no século XX, por ter sido uma das formas que o país usou para lidar com a Grande Depressão de 1929, com a queda da bolsa de valores. Nessa época, os quadrinhos eram uma forma de entretenimento mais acessível e criava um clima otimista. Isso era possível por meio dos heróis — humanos com habilidades poderosas — que eram retratados combatendo os supostos vilões das épocas. Como durante a Segunda Guerra Mundial e na Guerra Fria, quando foram criados vários vilões nazistas e soviéticos.

 Dentre as principais revistas da época temos: 1934 — Mandrake, the magician; 1936 — Phantom; 1938 — Superman; 1939 — Batman; 1940 — Capitão América; 1941 — Mulher Maravilha. As primeiras revistas em quadrinhos fizeram bastante sucesso, fazendo com que o mercado para gênero evoluísse permitindo a criação e publicação de novas histórias, consolidando novos estilos, além de temas e representações políticos debatidos nelas. O mercado cinematográfico também foi alcançado pelo sucesso do gênero, e diversas histórias passaram a ter a sua versão em filme.

 No cenário mundial, diversos quadrinhos podem e devem ser apontados por receberem destaque e visibilidade, os mais conhecidos pelo grande público, como já citado anteriormente, são os norte-americanos como Batman e Superman, existem também outras HQs que obtiveram sucesso mundial: X-man, Watchmen, Sandman, Homem-Aranha, V de Vingança, etc.

 Entretanto, também possuem prestígio internacional produções: brasileiras, como O menino maluquinho (1980); italianas, como Tex ou Tex Willer (1948) e belgas, como As aventuras de Tintim (1929).

 Manuel de Araújo Porto-Alegre ficou muito conhecido como o primeiro quadrinista do Brasil, tendo produzido, inicialmente em litografia, a primeira sátira e revista ilustrada de humor no país. Já em 1905, foi lançada a revista Tico-Tico, considerada a primeira em quadrinhos do Brasil, desenhada por Renato de Castro. Em 1930, as tirinhas passaram a compor a revista, com personagens famosos do exterior, como o Mickey Mouse e O Gato Félix, que passam a ser publicados no Brasil. Ziraldo, famoso cartunista brasileiro e o criador do Menino Maluquinho, em 1960 lançou a revista Turma do Pererê. Nesse mesmo ano, Mauricio de Sousa, outro grande cartunista brasileiro, deu vida aos seus primeiros personagens: cebolinha, Cascão (1961) e Mônica (1963), criando, assim, a Turma da Mônica, que passou a ser publicada na Folha de São Paulo e, posteriormente, ganhou sua própria revista.

 Na atualidade faz sucesso além das citadas, ainda à HQ Daytripper, criada pelos brasileiros Fábio Moon e Gabriel Bá, Daytripper é uma história sobre a vida, um tratado sobre a existência humana e que chegou a receber o Prêmio Eisner, em 2011. Essa premiação é considerada, dentro do universo dos quadrinhos, como um Oscar, desse modo, evidenciando-se a relevância e a qualidade das HQs brasileiras contemporâneas.

Tipos de história em quadrinhos

 Pode-se encontrar diversos tipos de HQs, cada um com estrutura, estética e intenções específicas, adaptando-se aos mais variados gêneros narrativos. Desde releituras de textos já existentes em outros formatos, como obras de Machado de Assis que foram adaptadas, as histórias únicas, publicadas em um único livro ou revista, ou contínuas, que vão sendo lançadas e atualizadas em novas edições.

 É possível também encontrar quadrinhos de terror, crime e suspense, os quais, muitas vezes, apresentam vilões e heróis, mas nem sempre com poderes. Fatos históricos também podem ser recontados por meio dos quadrinhos, além dos próprios invadirem outros textos, como o cinema, que já apresenta obras adaptadas à estética das HQs, incluindo-se nelas, balões, onomatopeias e outros elementos.

 

Arquivo pessoal de Betânia Pereira

Características da história em quadrinhos

 De modo geral, os quadrinhos possuem uma estrutura de predominância visual e narrativa, na qual as imagens cumprem o papel de narrar os fatos em determinada relação de tempo-espaço. As imagens também costumam vir separadas por margens, que explicitam a divisão dos quadrinhos, facilitando a identificação de cada cena

 No uso da língua escrita, é comum que os quadrinhos apresentem curtas introduções acima ou abaixo deles e que as falas das personagens sejam inseridas em balões, também é recorrente a utilização de onomatopeias para expressar os sons.

 Como palavras finais (não como caráter conclusivo a respeito do tema, mas como forma elucidativa, pois ver-se que o conhecimento é vasto e atraente), percebe-se que dentro desse universo literário muito se tem a ler e aprender, um mundo de descobertas, viagens fascinantes e criativas. As histórias em quadrinhos, além de proporcionar prazer e entretenimento, constituem uma fascinante demonstração da criatividade humana. Ler histórias em quadrinhos é importante, vai, além da prática, do desejo e do prazer pela leitura; é conhecer esse gênero textual em sua estrutura e função, percebendo suas características, trazendo diversão e bons hábitos diários de aprendizagem.

 Até mais!

 Beijinhos na alma!

Por BETÂNIA PEREIRA

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