Hoje percebi o quanto podemos ser egoístas e preconceituosos. Indiferentes a dor de outro ser humano. Alheios a sua sede, fome, tristeza e padecimento. Somos todos humanos, mas indiferentes aos que passam por nós.
Compreendi isso e senti vergonha de mim mesma.
Nos olhos de um garoto, moreno e magro, com óculos de fundo de garrafa. Aqueles óculos que parecem ter círculos infinitos dentro de uma haste. Fazendo os olhos crescerem. O garoto me abordou falando e eu em princípio não entendi. – Moça, eu queria dois, pensei logo em dinheiro, já cortei a conversa e disse: – Olha garoto eu não tenho dinheiro em espécie., ao mesmo tempo, segurando a bolsa rente ao corpo, protegida por uma sacola, tinha acabado de sair de um petshop.
Ele insistiu, – Moça eu não quero dinheiro. Eu não relaxei, já imaginando que ele era um ladrãozinho que estava me distraindo, enquanto o ladrão mais velho, viesse me assaltar.
Meu coração quase saía pela boca. Mas o que você quer então, perguntei. – Moça eu quero dois Halls. E eu: duas caixas. – Não moça, é que falta seis reais para completar minha meta de hoje e levar para casa. E os dois que sobraram na caixa eu dei para um menino, que me pediu.
Fui apunhalada, pelo meu egoísmo e preconceito. Só aí me dei conta, que estava em frente a uma loja dessas que a muito tempo era tudo por um real.
Entrei com o garoto na loja, falei para ele escolher o que quisesse. Pedi que esperasse no caixa e aleatoriamente peguei alguns chocolates e salgados. Quando cheguei ao caixa ele me esperava com dois Halls e nada mais.
Coloquei os chocolates e os salgadinhos sobre o balcão do caixa e pedi a atendente que colocasse tudo em uma sacola. A moça me olhou e perguntou: – É tudo junto. Disse que sim.
Paguei e dei a sacola ao menino. Ele me agradeceu, enfiou a mão na sacola, pegou os dois Halls e um chocolate me olhou e disse: – Deus lhe pague moça. Hoje eu posso dormir sem apanhar. Além de poder vender e ganhar os seis reais que perdi, posso levar um chocolate para meu irmãozinho.
Na volta para casa, dentro do carro, me senti imensamente constrangida. Além de ter desconfiado e julgado o menino, recebi de uma criança, uma lição de altruísmo, coragem e humildade.
Pensei em quanto somos egoístas, preconceituosos. In diferentes a fome, a pobreza e a tristeza que assola toda a humanidade. E agradeci o meu encontro com aquela criança desconhecida, que me pareceu estar com fome, e temeroso de voltar a sua casa por causa de seis reais. Pensei também na alegria do irmãozinho em receber um chocolate. Provavelmente iria comer escondido.
Me senti uma péssima humana, dentro desta humanidade imperfeita. Que carrega tanto desprezo e preconceito. Que por fim nos afastada máxima que nosso Deus ensinou:
Amar o nosso próximo como a nós mesmos.
Por IVETE ROSA