Banhava na bacia, com água espumando, as vestes de seu descanso
Um passante, vendo as mãos rústicas em agonia, em desencanto.
Compadece-se, contudo, tenta a prevenir para seu próprio remanso.·.
– Não. Ele não vem mais.
– Que lhe voltem augúrios tais. Não sabei disso e saberei jamais.·.
Segue sua viagem e a mulher continua em seu mourejo.
Ali, como todos o sabiam naquele pequeno vilarejo
Da senhora e sua vigília em desespero sobejo.
Sempre aguardando retorno do provento
Que tomou em sua audácia o rumo do vento
Fatigado do vagar bucólico por longo momento
E quisesse ele retornar já o teria feito, ademais
– Não, ele não vem mais.·.
Outro caminhante a ressalva novamente dessas tais.
Calada, depois de banhar as vestes, recolhe seus linhais.
Ainda haveria de cerzir elas assaz e ainda mais
Fechava os rasgos como se fechando feridas reais
E aprontado, esperançosa, as pendura em seus varais.·.
– Não. Ele não vem mais.·.
Tentam-na novamente como se soubessem coisas fatuais.
Ignora prontamente. Ninguém saberia, nunca e jamais.·.
Contempla, então, os afazeres em seus longos quintais
Concebe o quanto carece de jovens braços para seus vegetais
Subitamente, a igreja toca seu carrilhão, nos tons mais formais
Um cortejo entra pelo vilarejo, tristemente preparando rituais
Mirando o santuário, suas lágrimas brilhavam com o sol nos vitrais.
Triste e resignada, faz da cruz os sinais.
Era, assim, sua vez dos repetidos ditais.·.
– Não. Ele não vem mais.
Por DAVID LEITE