ALMA EM PERSPECTIVA – Onde estará a beleza da vida, se não na vida que temos?

ALMA EM PERSPECTIVA – Onde estará a beleza da vida, se não na vida que temos?

Olá, querido leitor!

Às vezes, experimento uma angústia intensa, como se algo dentro de mim estivesse suplicando por liberdade. Nesses momentos busco refúgio nos estudos e passo muito tempo aprendendo sobre assuntos ligados a psicanálise, espiritualidade e filosofia. A arte também me encanta, leio poemas, ouço músicas e apesar de achar as apresentações do Ballet Bolshoi uma das expressões artísticas mais belas, nunca consegui assistir um espetáculo por completo.

Sei que tenho muitas perguntas ávidas por respostas e uma coragem audaciosa para abrir portas que muitos preferem evitar. Leio sobre todos os tipos de crenças, misticismo, esoterismo e tudo que comumente denominam de sobrenatural. Aliás, devo dizer que nada disso me assusta, pois para mim tudo é natural; muito é apenas desconhecido.

Desejo desvendar os enigmas externos a mim, mas, ironicamente, acabo evitando a todo custo a única porta que conduz ao meu próprio ser. Contudo, minha Alma buscadora não me permite fugir e sussurra astutamente: “Onde reside a verdadeira beleza da vida, senão na vida que vivemos?”

É, meu amigo leitor, olhar para dentro de nós revela-se uma tarefa mais árdua do que desvendar os mistérios do mundo.        

Ao longo da jornada da vida, vivenciei experiências que, hoje, reconheço como traumáticas. Mesmo ao tentar diligentemente relegá-las ao esquecimento, percebi-me incapaz de escapar das dolorosas repercussões que persistiam em ecoar dentro de mim.

Por volta dos meus doze anos, frequentava aulas de ballet oferecidas pela prefeitura da cidade de Penápolis no interior de São Paulo. Nossa família enfrentava uma situação de extrema carência, tanto financeira quanto emocional. Na época, eu não possuía sapatilhas próprias, mas sempre contava com a gentileza de alguém disposto a emprestar-me um par. Apesar das dificuldades, não deixava de me entregar à dança, tornando aqueles momentos os mais felizes do meu dia.

Porém, após a minha primeira apresentação no teatro municipal, em uma noite chuvosa, enfrentei uma tentativa de abuso por parte de um desconhecido enquanto retornava sozinha para casa. Sim, eu estava sozinha, ninguém compareceu para me ver dançar. Sob a proteção de meu querido Anjo Gabriel – figura presente em muitos momentos da minha vida – consegui escapar e chegar em casa, apavorada, mas viva. Infelizmente, o horror daquela noite não cessou aí, pois ao entrar em casa deparei-me com mais uma situação de violência doméstica, mas não entrarei em detalhes sobre isso.

Foi nesse dia que desisti das minhas aulas de ballet, criando diversas desculpas em minha mente como forma de justificar essa dura decisão e seguir a vida.

Muitos anos se passaram, e quando minha filha tinha apenas três aninhos, incentivada por uma amiguinha, fez-me o pedido de ingressar nas aulas de ballet. Sei que ver uma criança com suas sapatilhas e trajes rosados de bailarina é verdadeiramente gracioso e talvez devesse ter dado à ela a oportunidade que não tive, mas na época não pensei assim.

Recusei o pedido e por um tempo, criei obstáculos, na esperança de que ela esquecesse a ideia. Mas não deu certo, minha pequena persistia, insistentemente clamando por suas aulas.

Então, finalmente, cedi. No trajeto, reforcei o quão desafiadoras eram as aulas de ballet, enfatizando a dor, o tédio, o cansaço e tantos outros aspectos negativos. A estratégia surtiu efeito e, após a aula experimental, ela decidiu que não queria mais continuar.

Ainda que eu tenha tomado algumas atitudes de maneira inconsciente, sem relacioná-las à minha dor, com o tempo, esse comportamento começou a me incomodar. Minha Alma, sutil e perspicaz, cobrou por uma resolução. Sentindo essa chamada interior, vi-me forçada a revisitar o passado, compreender meu equívoco e, com sinceridade, abordar o assunto com minha filha. Passados mais de dez anos desse episódio, foi necessário que eu me retratasse pela atitude manipuladora que, de alguma forma, frustrou a fantasia de minha pequena Ana.

Esse jogo do inconsciente, onde muitas vezes varremos nossas questões incômodas para debaixo do tapete, revela-se perigoso. Contudo, a Alma, dotada de sabedoria, não nos permite ignorar tais questões. Ela compreende que nossa evolução como seres humanos está intrinsecamente ligada ao enfrentamento corajoso de nossas dores e falhas. Ao fazer isso, impedimos que essas reverberações controlem nossas ações e sentimentos, possibilitando um caminho mais autêntico e consciente.

Se você silenciar e prestar atenção, perceberá sua Alma sussurrando: “Volte, compreenda, perdoe, evolua, liberte-se e triunfe.”

Com o passar dos anos, compreendi que a vida é sobre quem somos e quem podemos nos tornar, sem renunciar nossa verdadeira essência ou negligenciar nossas responsabilidades sobre o que fazemos com nossas experiências, mesmo as mais dolorosas.

Foi somente quando comecei a entender o significado de cada uma dessas experiências em minha existência, como elas moldaram minhas escolhas e a forma como encarava as situações mais corriqueiras, que verdadeiramente percebi o que significa ser livre.

Minha criança interior, ferida pela experiência de humilhação, medo e desamparo, clamava por resgate, enquanto a criança enganada, privada de um desejo, ansiava pela verdade. É necessário atribuir significado às nossas vivências, valorizando o caminho percorrido para sobreviver. Caso contrário, seremos arrastados para crises cada vez mais intensas sobre nossa verdadeira identidade.

Hoje, já não sou a pequena bailarina assustada, pois compreendi seu sofrimento e ressentimento. Este foi um aprendizado que precisei viver, talvez para, neste momento, poder auxiliar outra Alma que enfrenta dores muito semelhantes.

Todo espetáculo de ballet narra histórias de amor, superação, sofrimento, alegria, aprendizado e todas essas ocorrências da vida. Durante as aulas, eu conseguia esquecer a complexa situação familiar, liberando gritos silenciosos presos em minha garganta através de um elegante Grand Jeté. Optei, seja de forma consciente ou não, por deixar o palco para descobrir uma nova forma de expressão na poesia, onde as bibliotecas não solicitam aplausos e se transformam em refúgios seguros. E assim eu sigo, até hoje.

Não tenho receio de abrir portas, mas sim de encarar minhas dores. A beleza da vida reside nesse desafio, mas não é fácil ouvir o que o passado tem a nos dizer para conquistarmos a liberdade de construir um futuro melhor através de decisões conscientes. Hoje, o que podemos fazer é permitir que nossa Alma sussurre, sem reprimi-la, e ouvi-la atentamente. Toda Alma possui sabedoria que transcende nosso passado recente; ela abrange tudo que guardamos. Para alcançar a liberdade, é essencial não aprisioná-la, não deixar de evoluir por medo ou culpa, e encarar a beleza da vida.

Ouça sua Alma e se notar que deixou para trás algo que poderia proporcionar mais felicidade, não hesite em resgatar.

Aproveitando a oportunidade, quero convidar você a me acompanhar nas redes sociais e compartilhar suas ideias. Será um prazer conhecer suas perspectivas.

Nos vemos em breve!

Por MIA KODA

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