Escondido em meio às sombras, um negrinho de uma perna só dava um nó no rabo do cavalo, enquanto fumava um cachimbo.
– Biel, é verdade.
Arthur não se conteve e acabou exclamando em voz alta, surpreso ao ver o Saci amarrando o cavalo. Aquilo quebrou a surpresa, e rapidamente o negrinho virou um redemoinho de vento e saiu rodopiando pela porta, derrubando os três no chão, jogando uma para cada lado.
O redemoinho subiu ao telhado e, chegando lá, materializou-se novamente no negrinho.
– Ah, criançada danada, a essa hora fora da cama, andando pela mata, sujando o pijama.
O Saci tinha uma voz meio esganiçada. Falava só em rima, fazendo trocadilhos, como se recitasse um cordel.
Gabriel começou as negociações.
– Saci, precisamos de você.
– Rapazinho peralta, ano passado me viu.
Agora de volta, a ajuda pediu.
– Vai nos ajudar?
– Ajudar que nada, favores venderei.
Para entrar na mata, o que ganharei?
– Eu te dou um pedaço da torta de nozes da vovó.
– Da torta já comi, de fato saborosa.
Outra coisa quero de ti, nessa hora desastrosa.
Letícia irritou-se novamente. Com o dedo em riste ela começou.
– Olha aqui, seu moleque, precisamos de você. Vovô Antônio disse que você pode derrotar a Pisadeira, e ela levou o Gueguinho, então você desce daí ou eu vou…Aí
O Saci virou um rodamoinho e derrubou os três, agora,mais afastados um do outro. Voou para o alto e se materializou de novo.
– Menina atrevida, menina zangada, aqui na minha vida você não manda nada.
Letícia levantou-se de novo, querendo pegar o Saci.
Novamente, no entanto, ele virou um redemoinho, deu um rasante. A ventania arrastava Letícia. Ela resistiu o quanto pôde, até que, enfim, caiu sentada novamente. Como se afastavam a cada lufada de vento, dessa vez Gabriel e Arthur não foram levados ao solo.
– Menina levada, menina forte, pra conseguir minha ajuda precisa de sorte.
– Olha aqui, seu rapazinho – lá se foi Letícia de novo – ninguém, ninguém me derruba três vezes.
O Saci virou um redemoinho novamente, só que dessa vez Gabriel já estava preparado com a peneira. E, com o Saci distraído concentrado apenas na Letícia, o garotinho pode fazer um arremesso certeiro.
A peneira caiu sobre o Saci, capturando-o.
De fato, a única forma de prender o Saci era daquele jeito.
– Ah, garoto traidor, me solte agora, peço com fervor, na verdade, o Saci implora.
Como era um espírito da natureza livre, a prisão era o que mais atormentava o Saci.
– Tudo bem, eu posso soltar você, com uma condição: nos ajudar. Você queria algo melhor que a torta da vovó, que tal a sua liberdade?
– Loirinho sapeca, me pegou de surpresa, se agora me liberta, ajudar-te-ei com certeza.
Diante do arco, Gabriel não viu outra saída. Retirou a peneira de cima do redemoinho, e o vendaval transformou-se em negrinho.
Arthur pediu desculpas por ter duvidado do irmão.
– Desculpe, Biel, achei que era mentira sua. Achei que o Saci não era real.
– Olha a hora, olha a hora, não fique aí como um bobo.
Temos que ir embora, antes que Gueguinho vire Capelobo.
O Saci virou um redemoinho e saiu voando, em direção à mata. Os três pequeninos foram correndo atrás.
Só que o Saci ia muito mais rápido que as crianças. Depois de correrem até perder o fôlego, Gabriel chamou:
– Espera Saci, você vai muito rápido. Não conseguimos te acompanhar assim.
– Temos que correr pela mata, já sei do que precisamos.
Com quatro patas, logo, logo chegamos.
Para saber como termina essa história, é preciso conhecer a FAZENDA MALACACHETA!
Por GUSTAVO FERREIRA