Se você não pensar sobre, é como se o problema não existisse.
Vai, me acompanha aqui.
Você correndo, tropeça e arranca a tampa do dedão.
Aquilo queima, arde, e dói. A dor maltrata.
Instintivamente você senta em cima do pé até que ele fique dormente.
Aflito, amarra um cadarço na canela pra que o sangue corra lento.
Atônito, morde a si próprio pra que o foco da dor seja outro.
Atormentado, toma banho em água quase fervente, e a sensação provocada pela queimadura parece ofuscar a da ferida.
Mas uma hora você se distrai. Ou findam os subterfúgios.
O seu telhado de vidro se rompe.
São você e seu dedo ensanguentado latejando.
É frustrante reconhecer que não dá pra mascarar certas dores.
Por KRYSSIA ETTEL