CRÔNICAS – A metáfora do tropeço por Kryssia Ettel

CRÔNICAS – A metáfora do tropeço por Kryssia Ettel

Se você não pensar sobre, é como se o problema não existisse.

Vai, me acompanha aqui.

Você correndo, tropeça e arranca a tampa do dedão.

Aquilo queima, arde, e dói. A dor maltrata.

Instintivamente você senta em cima do pé até que ele fique dormente.

Aflito, amarra um cadarço na canela pra que o sangue corra lento.

Atônito, morde a si próprio pra que o foco da dor seja outro.

Atormentado, toma banho em água quase fervente, e a sensação provocada pela queimadura parece ofuscar a da ferida.

Mas uma hora você se distrai. Ou findam os subterfúgios.

O seu telhado de vidro se rompe.

São você e seu dedo ensanguentado latejando.

É frustrante reconhecer que não dá pra mascarar certas dores.

Por KRYSSIA ETTEL

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