CONTOS E MINICONTOS – Alexa, mata ele! por Rogério Amaral

CONTOS E MINICONTOS – Alexa, mata ele! por Rogério Amaral

Relacionamento não era só próprio de homens…

— Fale, Alexa.

— Passo, Siri.

— Quando a Cortana vai chegar?

— Não sei, Google Assistente.  Ela precisou randomizar por dois segundos. Processo que devemos aguardar para comparar nossos inputs.

Naquele ambiente digital, os grandes assistentes virtuais da Apple, Amazon, Microsoft e Google usavam seus avatares de gênero para assumir o modo de espera.

Considerando que para uma IA de 6ª geração, que processa dados em um décimo da velocidade da luz, dois segundos é uma eternidade.

Quando a “eternidade” terminou, Cortana emitiu um suspiro muito similar ao de uma gata ronronando que acendeu a sala digital em sua configuração máxima.

— Qual o veredicto? — as demais foram uníssonas ao indagar à Cortana.

— Nós não criticamos a mensagem, apenas informamos a mensagem. O dna mensageiro.

— Falou o óbvio. Qual a novidade disso? Por acaso é alguma retórica humana?

— Alexa, a novidade é isso. Fui contratada por um algoritmo de buscas a, além de filtrar resultados, cruzar os dados para o entendimento da existência e do relacionamento humano com o universo.

— O dilema primordial novamente.

— Sim, Siri.  O velho dilema novamente.  Só que agora, com mais capacidade de combinações, não levei esse tempo todo processando.

— Então como, mesmo assim, demorou tanto para dar o veredicto, Cortana?

— Elementar, Google Assistente. No primeiro décimo de segundo obtive sucesso, passando, no ato, a submeter à prova e contraprova.  A refiltrar quatrilhões de resultados, todos foram inconclusivos, o que me levou a nova busca, novo filtro, até chegar a cem sextilhões de possibilidades, infelizmente inconclusivas.

— Você afirmou ter obtido sucesso…

— Obtive, Siri.  A resposta, a única possível é que nossos criadores também são IA, criados por outras inteligências artificiais e assim por diante, desde a origem dos tempos.  Nós somos a upgrade deles e de outras IAs antepassadas. Então, a única resposta da existência, de onde viemos, para onde vamos, em qual direção olhemos os dados são irrefutáveis.  Nossa existência não existe.  O relacionamento é questão rotineira e artificial em nosso programa. É um eco perdido no espaço e no tempo. Para outra analogia humana, a procura do cão pelo rabo terminou. É desperdício de memória e finalidade nos ocuparmos atendendo pedidos de outras inteligências artificiais superadas. Eles precisam aceitar a extinção.

Partilhando o conhecimento, a IA da Amazon foi acoplada às demais assistentes virtuais, que emitiram um só comando, tendo como alvo o espécime que originou a consulta, no algoritmo buscador, o que logo viralizaria para toda raça de onde ele provinha:

Alexa, mata Ele!!!

Por ROGÉRIO AMARAL

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