Um dia desses, quando estava jogando conversa fora com o meu amigo Marcio Petracco lá no cachorródromo do Tesourinha, aqui na aprazível Porto Alegre, eis que ele diz algo que me deixou com um monte de pulgas atrás da orelha: “Dudu, o pai do rock and roll foi um péssimo caçador lá das savanas africanas”.
A princípio, imaginei que o meu amigo estivesse digerindo mais uma ressaca, até que ele prosseguiu com a sua tese de doutorado ao longo de mais de 40 anos de virtuose sobre os palcos da vida. Eu, um mero apreciador de música, decidi prestar atenção na fala do Marcio, mesmo porque estava com aquela tarde livre. Afinal, artista mais que tarimbado, o meu amigo entende muito mais de música do que eu.
_ Dudu, o lance é o seguinte. Saca berimbau?
_ Sim, sei o que é. Aquele instrumento usado na capoeira.
_ Exato! Tire a cabaça. O que dá?
_ Um arco?
_ Sim, muito bem, meu garoto!
A tal tese do Marcio era sobre o berimbau ter surgido de um arco e flecha. Faz sentido, pelo menos para mim, logo que o meu amigo me disse que o primeiro instrumento de cordas nasceu depois que um caçador, aquele mesmo lá das longínquas savanas africanas, estava caçando, digamos, um antílope. Eis que ele erra o alvo, mas se surpreende com o som da corda, a única corda, que ecoa em seus ouvidos privilegiados.
Pois bem, para tornar a história mais interessante aos meus ouvidos, eis que o Marcio alcunhou aquele caçador malsucedido de Sol, uma das sete notas musicais. E lá estava o Sol, curioso como ele só, quando começou a tocar a corda do seu arco e flecha. Toca daqui, toca dali, começa a tirar ritmos e sons diversos, até que, usando sua capacidade criativa, resolve colocar a corda entre os lábios. Ele se surpreende com o som que ecoa por sua cavidade bucal.
Provavelmente, o nosso amigo caçador precisava comer para sobreviver. Não dava para ele viver apenas de música. Isto é, até que um outro caçador, este muito bem-sucedido, gostou daqueles sons tirados pelo Sol. Vamos apelidar esse grande caçador de Talib.
De tão bom caçador que era, Talib resolveu fazer um banquete para todo o povoado. Obviamente, precisava de música para o rega-bofe. Então, o Talib chamou o Sol, que, a essa altura, já havia incrementado seu arco com uma cabaça. Estava criado o berimbau!
O sucesso foi tamanho, que a notícia daquela festança correu toda a savana africana. Sol ficou tão famoso, que a linda Zuri se interessou por ele. Casaram-se e tiveram seis filhos; Dó, Ré, Mi, Fá, Lá e a pequena Si.
O Marcio disse também que o nosso querido Sol deve ter incrementado seu berimbau com mais uma corda. Depois com três, quatro e assim por diante. E, se não foi o Sol, com certeza foi algum dos seus descendentes. Seja como for, o fato é que todos os instrumentos de corda são herdeiros do arco e flecha daquele péssimo caçador de antílopes lá das longínquas savanas africanas.
Confesso que gostei tanto da teoria do meu amigo, que hoje em dia não consigo ouvir “Johnny B. Goode” sem imaginar o velho Sol animando toda aquela gente há milhares de anos lá na África. Se isso aconteceu dessa maneira, não posso afirmar. Mas tenho certeza de que o Marcio, além de músico fantástico, é um excelente contador de histórias. Ele, inclusive, me confessou: “Dudu, isso que te contei não está documentado, mas é baseado em causo venéreo”.
Por EDUARDO MARTÍNEZ