MITOLOGIAS E CRÔNICAS – Mitologia e Crônicas:  Cultura Celtas

MITOLOGIAS E CRÔNICAS – Mitologia e Crônicas: Cultura Celtas

Nesta edição eu gostaria de trazer uma das minhas culturas favoritas, os Celtas, um povo que sempre teve uma ligação muito forte com a natureza, os elementos e o misticismo das fadas, elfos e gnomos.

Não há muitos registros escritos deixados pelos Celtas, os relatos que existem foram os romanos que documentaram, mas infelizmente nem tudo poderá ser interpretado literalmente, pois para os romanos os celtas eram um povo bárbaro e inferiores a eles.     Apenas por causa do seu modo de vida ser bem diferente dos que os romanos conheciam. Apesar dessa visão, os celtas eram pessoas de uma certa forma cultas, já que eles dominavam técnicas agrícolas, pecuária, medicina, curas através da meditação e cura através de ervas medicinais, armaduras. Armaduras e proteção que foram adotas por outras culturas, até mesmo depois dos celtas perder sua força.

 Os Celtas viveram na Europa central, migrando aos poucos para parte ocidental do continente, por conta da explosão demográfica, mudanças climáticas e vários outros motivos.  Aos poucos os povos celtas migraram para regiões conhecidas hoje como Grã-Bretanha, Irlanda, Escócia, Turquia e parte da conhecida hoje França.

Irei compartilhar com você um pouco da sua cultura, educação, tradições, modo de vida, como seus deuses eram ligados a natureza e o tratamento que eles tinham como as mulheres das tribos, ao contrário de outros povos, as mulheres tinha um papel importante na sociedade celta.

Apesar dos romanos terem classificado os celtas com esse nome, dando a entender que eram um povo unificado, os Celtas eram vários povos: os Sênones, Helvécios, e Arvenios entre outros.

Como a cultura celta em geral tem origens na Idade do Ferro que habitavam a Europa Central e Ocidental. Cada uma dessas tribos desempenhou um papel significativo na história celta e, em alguns casos, interagiu com potências da época, como a República romana.

 

Sênones:

Os Sênones eram uma tribo celta que habitava principalmente a região da Galia (atual França). Eles são mais conhecidos por sua participação na batalha de Ália, em 390 a.C., onde derrotaram o exército romano liderado pelos cônsules romanos Quinto Fábio Ambusto e Caio Fúrio Camilo. Posteriormente, os Sênones enfrentam a expansão romana na Gália, sendo finalmente subjugados pelos romanos.

 

Helvécios:

Os Helvécios eram uma tribo celta que habitava a região que é atualmente a Suíça. No ano 58 a.C., eles foram liderados por Orgetórix em uma tentativa de migrar para o oeste da Gália para escapar das pressões demográficas e políticas. No entanto, seu plano foi frustrado por Júlio César durante as Guerras Gálacias. Os Helvécios, após a derrota, foram reassentados em sua terra natal pelos romanos.

Aryenios:

Os Aryenios eram uma poderosa tribo celta que habitava a região central da Gália, na área que é agora a França central. Eles eram liderados por Vercingetórix durante as Guerras Gálicas contra Júlio César. Os Aryenios desempenhavam um papel proeminente na resistência celta contra a expansão romana, mas foram derrotados pelos romanos na Batalha de Gergóvia, em 52 a.C.

Essas tribos celtas, assim como muitas outras na Europa, desempenharam papéis cruciais durante a Idade do Ferro e foram testemunhas das grandes mudanças políticas e sociais que ocorreram durante a interação com as potências expansionistas, especialmente os romanos.

 

 

Druidas os Sacerdotes da Mitologia Celta

Sabedoria do Carvalho

 

Os druidas eram figuras proeminentes na sociedade celta, desempenhando diversos papéis como sacerdotes, conselheiros, juízes, curandeiros e detentores do conhecimento. Por isso seu nome, segundo alguns historiadores, significa sabedoria do carvalho ou conhecimento que vem do carvalho. Isso se deve, pois os druidas costumavam realizar seus encontros em bosques em volta de carvalhos, por ser arvores de longevidade e por se destacarem em meio as outras arvores, para eles é considerada sagrada.

Lembrando que o povo celta não construía templos para adorar seus deuses, isso era feito ao ar livre, em bosques, à beira de rios ou em círculos de rocha, como por exemplo as Stonehenge. E para acalmar a curiosidade, essa construção não foram feitas pelos celtas, elas são datadas de muitos séculos antes dos celtas ou qualquer outro povo, habitar a região que hoje é a Grã Bretanha.

Esses sacerdotes, também eram responsáveis pela educação das crianças. Aquelas que tinham algum dom místico era “recrutado” para estudar com os druidas. Aos poucos o próprio Júlio César e outros historiadores da época conseguiram classificar os sacerdotes, pois cada grupo possuía uma atribuição diferente até chegar ao nível mais alto de conhecimento.

Ressaltando que os druidas estudavam por quase 20 anos e em cada etapa dos estudos eles usavam uma cor de roupa para diferenciar o grau de conhecimento.

Bardos: Os bardos é o primeiro grau de aprendizagem druida, e suas vestes geralmente eram azuis, conhecidos por suas músicas, poesias, são responsáveis por partilhar as histórias e fatos de grandes heróis através das palavras e geralmente acompanhado de um banjo. Em filmes, series e jogos de RPG, são sempre retratados como jovens fanfarrões, mulherengos e que adoram uma boa cerveja, mas na verdade eles apenas contavam a história de seu povo e adoração aos deuses.

 

Ovates ou Vates: Os vates eram o segundo nível de aprendizagem druida, eles eram reconhecidos por suas vestes verdes. Espécie de xamã, os ovates possuem habilidades medicinais e supostamente mágicas. São conhecedores da astrologia e, em estado de transe, seriam capazes de se conectar com outros os deuses. Poderiam prever o futuro através de sacrifícios com animais e em alguns casos sacrifícios humanos. Relatos indicam que eles usavam o sague para prevê o futuro.

 

Druidas: Os druidas eram o ultimo estagio, e eram reconhecidos por suas vestes brancas, eram considerados os sacerdotes e juízes por deter mais conhecimento. E por ser também conselheiros, inclusive e principalmente dos líderes das tribos. Os celtas não tinham uma divisão bem definida, era basicamente divididos entre os druidas, os líderes e a população em geral, por isso os sacerdotes tinham várias funções dentro da tribo.

Os druidas desempenhavam um papel crucial nos rituais religiosos celtas. Celebravam festivais sazonais, como Beltane e Samhain, e conduziam cerimônias de sacrifícios para homenagear os deuses.

Acreditava-se que os druidas tinham a capacidade de se comunicar com o mundo espiritual e interpretar os sinais da natureza. Eles também eram responsáveis ​​por realizar rituais de passagem, como nascimentos, casamentos e funerais. 

Eles eram respeitados e temidos na sociedade. Sua autoridade estava enraizada em sua conexão com o divino, sua sabedoria e seu papel essencial na comunidade.  

Mas infelizmente com a expansão romana e do cristianismo, a tradição druídica entrou em declínio. A proibição da prática druídicas pelos romanos e a conversão da Irlanda ao cristianismo contribuíram para o desaparecimento gradual dos druidas.

O conhecimento druídico foi, em grande parte, perdido ao longo dos séculos. Muitos relatos e informações sobre os druidas vieram de fontes não druídicas, o que adiciona um certo mistério e ambiguidade às histórias sobre eles. Na visão dos romanos eles eram seres nefastos que realizavam sacrifícios cruéis com humanos, para justificar os ataques contra as tribos celtas.  

Os druidas acreditavam em viver em harmonia com a natureza e em seguir um caminho espiritual e equilibrado. Eles ensinavam que a vida era uma jornada de aprendizado e crescimento, e que cada pessoa tinha um papel importante a desempenhar no mundo.

Até hoje em algumas regiões do mundo, ainda tem pessoas que resgatam as práticas druídicas. Assim como a milênios atrás, os novos druidas priorizam a reverencia e ao cuidado com a natureza e a cura através das plantas e reuniões em bosques e estruturais naturais.

No entanto, não há um consenso de que o druidismo moderno seja uma religião. Isso porque, há quem o considere como pratica espiritual, uma filosofia ou mesmo um modo de vida. Contudo, há princípios comuns entre todas as práticas como a conectividade coma a natureza e a inspiração nas coisas naturais. Um dos lugares mais usados pelos druidas modernos é Stonehenge, no Reino Unido.

 

Principais Símbolos Celtas

Mesmo nos tempos atuais não é difícil encontrar os símbolos celtas nas regiões onde esses povos habitavam, principalmente na Irlanda. Esses símbolos são cheios de significados: religiosas e para as batalhas. Na religião, elas eram utilizadas para espantar os maus espíritos e reverenciar a natureza, já para as batalhas, tratavam-se de ornamentação das armas de guerra.

 

Cruz Celta – Símbolo da prosperidade

Seu significado é associado ao símbolo solar, formada por uma cruz sobreposta em um círculo. Afirma-se que ela representa a prosperidade e a fertilidade. Em suma, o círculo representa o feminino e a cruz representa o masculino.

A cruz celta é frequentemente gravada ou esculpida em pedra para benção das terras. O símbolo evoca o equilíbrio e a harmonia, bem como a proteção dos ancestrais celtas.

Trisquel ou Triskle – O mais conhecido dos símbolos celtas

O Triskle é um símbolo celta responsável pela evocação dos quatro elementos fundamentais da natureza. Ou seja, evoca a água, terra, fogo e ar. Ademais, é um amuleto que retrata a sabedoria. Mas também, é um símbolo de bruxaria, utilizado para a invocação da deusa tripla a jovem, a mulher e a idosa).

Por outro lado, esse símbolo também é marcado pela busca do equilíbrio entre o corpo, a mente e o espírito. Mas também, recorre ao equilíbrio entre o passado, presente e futuro. Portanto, ele possui uma forte ligação entre o início e o fim das coisas. Logo, envolve a evolução e a aprendizagem contínua de tudo.

 

Nó Celta

O Nó Celta é um dos símbolos celtas que são facilmente encontrados em vários objetos. Pois, é mais uma espécie de estilo de decoração do que um símbolo em si. Ademais, diversos tipos de Nós foram utilizados pelo povo celta em ornamentações. Sendo comum seu uso em camisetas, colares, brincos e em tatuagens. Mas também, é utilizado como um amuleto contra espíritos malignos.

Em resumo, o laço, sem começo e fim, retrata a interconectividade da vida e a eternidade. Além disso, também envolve os mistérios do nascimento, da morte e da reencarnação.

Espiral Celta

A espiral celta é um símbolo de crescimento, expansão e renascimento. Ela pode ser encontrada de diversas formas, desde padrões geométricos até espirais tridimensionais. A espiral também simboliza a jornada espiritual.

Árvore Celta – A Arvore da Vida

A Árvore da Vida é um símbolo universal, mas na tradição celta, ela representa a conexão entre a terra e o céu, bem como o ciclo da vida, morte e renascimento. É frequentemente representado com raízes profundas e ramos altos. Representando o símbolo de renovação, crescimento contínuo e o ciclo constante da vida, morte e renascimento. As folhas representam a renovação, enquanto as raízes estão conectadas ao passado e à ancestralidade.

Na mitologia celta, algumas árvores específicas eram consideradas sagradas, como o carvalho, o espinheiro e o azevinho.

Cada árvore sagrada tinha significados e propriedades específicas, e essas características eram frequentemente associadas à Árvore da Vida.

 

Espada:

A espada era um símbolo de status e honra. Na mitologia celta, muitas espadas mágicas desempenham papéis importantes em lendas e histórias, como a espada Excalibur na tradição arturiana. 

 

Festivais Celtas

Um culto a Espiritualidade e a Natureza

Os festivais celtas eram marcados por celebrações que refletiam aspectos da natureza, do ciclo agrícola e da espiritualidade. Essas festas aconteceram ligadas ao calendário sazonal e foram muitos momentos de comunhão com os deuses, boas colheitas e observação das mudanças naturais.

Os celtas antigos dividiam o ano em duas metades, a mais iluminada e a mais sombria, e realizavam celebrações para marcar as trocas de cada estação: Imbolc (entre o solstício de inverno e o equinócio da primavera), Beltane (entre o equinócio da primavera e o solstício de verão), Lughnasadh (entre o solstício de verão e o equinócio de outono) e Samhain (entre o equinócio de outono e o solstício de inverno).

 

Imbolc (1º de fevereiro):

Imbolc marca o início da primavera celta. Era um festival dedicado à deusa Brighid e envolvia rituais de purificação, acendendo fogueiras e celebrações da luz crescente.

Durante o Imbolc, a deusa Brigid, era adorada pois ela era a deusa da inspiração, da cura e da adivinhação.  Ela é uma das deusas populares entre o povo celta, por proporciona sabedoria ao homem. Brigid está intimamente ligada ao fogo, segundo as lendas celtas os moradores das vilas colocavam telas brancas nas janelas para que fossem tocadas pelo fogo. Portanto, durante a celebração do Imbolc, era comum que as pessoas acendessem fogueiras e luzes que ajudam o sol a aquecer a terra, após um frio inverno.

Uma tradição desta época é confeccionar a Cruz de Brigid um símbolo solar ligado a deusa da cultura celta. Está cruz era pendurada no interior das casas para proteção do lar. Ela é feita de palha e junco.

 

Beltane (1º de maio):

Beltane celebra o auge da primavera e o início do verão. Era um festival de fogo, com grandes fogueiras para afastar o inverno e promover a fertilidade da terra e dos rebanhos. As festividades incluíram danças em torno do Maypole.

Beltain é um momento de alegria e celebração, e muitas tradições estão associadas a este dia especial. Uma das tradições mais comuns é a dança da fita de Maio, onde as pessoas tecem fitas em volta de um poste alto decorado com flores e folhagens. Esta dança simboliza a fertilidade da terra e a união das energias masculina e feminina.

Outra tradição importante do Beltain é a coroação da Rainha de Maio e do Rei de Maio. A Rainha de Maio representa a deusa da primavera e da fertilidade, enquanto o Rei de Maio representa o deus do sol e do crescimento. A cerimónia de coroação é uma forma de honrar estes deuses e celebrar a renovação da vida e a chegada do verão.

O nome “Beltain” pode ter origem na palavra gaélica irlandesa “Bealtaine”, que significa “fogo brilhante”. A iluminação de fogueiras era uma parte central das celebrações do Beltain, pois acreditava-se que traziam boa sorte, fertilidade e proteção contra o mal. As fogueiras eram frequentemente acesas em colinas ou outros locais proeminentes, e as pessoas saltavam sobre elas para trazer boa sorte e prosperidade.

 

Lughnasadh (1º de agosto):

Lughnasadh, também conhecido como Lammas, celebra a colheita de grãos, principalmente da colheita da cevada e homenageia o deus Lugh. As festividades envolviam jogos atléticos, competições e rituais de agradecimento pela abundância.

Fogueiras eram acesas como parte dos rituais de Lughnasadh, simbolizando o sol e a fertilidade. As cinzas das fogueiras eram muitas vezes espalhadas sobre os campos para abençoar a terra.

A tradição conta que Lugh instituiu o festival em memória de sua mãe, Tailtiu, que morreu enquanto preparava a terra para a agricultura.

Algumas tradições incluíam rituais simbólicos, como o sacrifício de grãos representando a colheita. O sacrifício era muitas vezes enterrado como uma oferta à terra para garantir a fertilidade contínua.

 

Samhain (31 de outubro a 1º de novembro):

Samhain é de longe meu festival favorito, pois entre todos é que mais está ligado a natureza e a espiritualidade. É quando o véu que separa nosso mundo do mundo dos espíritos fica mais fino, interligando ainda mais os dois mundos e dando oportunidade para os espíritos vagarem pela terra… Samhain marca o fim do verão e o início do ano celta novo.  

O Samhain também é considerado a celebração que deu origem ao Halloween. Isso porque era uma época de “intensidade sobrenatural”. Samhain, que significa em celta e em Irlandês: “fim do Verão”. Para os celtas do século IX, o Samhain era um dos mais importantes festivais do calendário do ano. Era uma celebração que iniciava no anoitecer do dia 31 de outubro e durava cerca de três dias.  

Para que os espíritos circulassem livremente entre os vivos, as janelas e portas ficam abertas e seus lugares a mesa eram postos a mesa. Está troca de referencias ajudava a preparar a comunidade para o futuro. Além dos mortos, os celtas que acreditam que outros seres sobrenaturais, incluindo espíritos malignos vagariam pela terra, afinal, os limites entre o mundo real e o sobrenatural estavam suspensos.

As pessoas também entoavam músicas e cânticos aos que já tinha partido e para proteção dos espíritos ruins. Os banquetes sempre eram recheados de bolos e muita fartura, brincadeiras em volta das fogueiras também eram realizados. As pessoas também usavam vestes coloridas e máscaras para enganar os maus agouros. Outra forma também de espantar os espíritos errantes eram esculpir rostos em nabos.

Porém com a propagação do cristianismo, pelas comunidades celtas, os líderes da igreja tentavam reformular o Samhain como celebração cristã. Mas só conseguiram mudar a tradição no século IX quando o Papa Gregório declarou o 1° de novembro o dia de Todos os Santos, que se chamava em inglês “All-Hallows”. O festival era um dia para homenagear mártires e santos. O dia 31 e outubro ficou conhecido então como “All Hallows Eve” Eventualmente evoluiu para o “Halloween” se tornando mais popular dia dos santos. As práticas pagãs se tornaram cristãs juntamente com o vestir fantasias, pregar peças e distribuir ofertas, se transformando em tradições populares mesmo para quem não acredita e santos ou espíritos de outros mundos.

O festival marcava a transição entre a metade mais iluminada (primavera/verão) para a metade mais escura (outono/inverno) e era celebrada entre todas as comunidades celtas da Europa, incluindo a Irlanda, País de Gales, e a Escócia.

Durante o Samhain as tribos celtas contavam seus estoques e se preparavam para um período de dificuldade de dificuldade e falta de luz, incluindo sacrifício de animais que não sobreviveriam ao inverno. A colheita também teria que ser concluída até está data.

 

Continua na próxima edição…

 

Por LADYLENE APARECIDA

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