RESENHA LIVRO CONTEMPORÂNEO
O Tempo que desperdiçamos
Estou impressionada com tamanha maestria de Liz Abreu ao narrar a história de Túlio M. Guerra. Ao decorrer da leitura de O Tempo que Desperdiçamos uma explosão de sentimentos me dominou.
A trama nos apresenta um narrador-personagem que decide contar a história do misterioso Túlio, conhecido por seu pessimismo e pavio curto, o que o atrai de modo a investigar seu passado e averiguar o motivo de tê-lo tornado daquela forma.
Acontece que Túlio foi uma vítima da própria vida, esmagado por um sistema opressor e preconceituoso. Com a narrativa ambientada no século XX, percebemos o quanto aqueles tempos eram complicados. Uma coisa que eu também achei muito interessante foi a maneira como a autora elucidou as sequelas do machismo. Sim, o próprio machismo destroçou o coração do nosso protagonista, provando que, há tempos, isso vem sendo um problema estrutural e não uma guerra entre gêneros.
A obra retrata temas importantes que devemos nos atentar sempre, como: assédio sexual no trabalho, desistência dos próprios sonhos para agradar uma sociedade nunca satisfeita, a civilização doentia a todo momento impondo obstáculos ao tentarmos ser livres, o radicalismo, os tabus que camuflam tanto sofrimento, depressão e demais transtornos mentais quais, àquele tempo, não se sabiam nada.
Acompanhar a jornada de Túlio foi doloroso, posto que fui acometida com grande empatia pelo personagem. Sua masculinidade era questionada sempre, sendo motivo de piadas no trabalho, a própria mãe o desprezava e o fazia cuidar das quatro irmãs. Ou seja, entre outras palavras, Guerra tinha um grande coração, ingênuo, cheio de sonhos, mas foi corrompido tamanha crueldade humana. O livro apresenta uma crítica pesada às mesquinharias das pessoas, aos caprichos abomináveis, aos ditames sociais sufocantes e à hipocrisia.
A escrita de Liz é densa e poética, mesmo descrevendo os contratempos da jornada de seu personagem. Tem toda a minha admiração! Minha leitura de estreia no e-book, e que estreia! Acredito que não tenho palavras o suficiente para dizer o quanto seu livro me marcou e emocionou.
Por SARAH SCHMORANTZ