Muito se tem falado em relações líquidas, de um dia para o outro parece que todos tornaram-se leitores do sociólogo Zygmunt Bauman. Com ou sem profundidade no tema, fato é que os relacionamentos apresentam novas configurações que essa crônica não daria conta de elucidar. Contudo, na contramão da modernidade, acabei de completar 25 anos de casada, bodas de prata. Para comemorar esse momento, eu e meu marido fizemos uma viagem para Jericoacoara (CE).
Dias de sol intenso, brisa gostosa, banho relaxante em praias de águas mornas, ocaso… tudo capturava meus olhos contemplativos e deixava no ar o cheiro suave da poesia. No retorno de um passeio de barco, embalada pelo doce balanço das ondas do mar, vislumbrei o céu de um azul tão lindo e me perdi em devaneios literários.
Nos mares das relações às vezes naufragamos, nadamos contra a maré, e quando perdemos as forças, deixamos o corpo livre a boiar… alguns mares tem portos de atracação, pode-se então relaxar. Apesar da beleza, o mar exibe uma falsa sensação de que a vida pode permanecer do jeito que está. Nada é previsível no mar, nada é previsível quando se trata de viver.
Seguimos indo e vindo balançando, sacudindo, afogando, emergindo, vivendo. Aproveitando os dias de águas tranquilas, resistindo às águas bravias, ressignificando as marés porque no mar da vida somos todos navegantes, sejamos experientes ou principiantes.
Um grito do barqueiro me distrai do devaneio, a água respinga em minhas lentes escuras me avisando que é hora de aportar.
Por FLÁVIA JOSS
Dezembro, 2021.