CRÔNICAS – A crônica que nunca escrevi por Elisabete Leite

CRÔNICAS – A crônica que nunca escrevi por Elisabete Leite

Acordo um pouco apreensiva, me olho no espelho, observo algumas novas rugas, mais alguns fios de cabelos brancos e me sinto agradecida por continuar viva. Vejo o clima, pela janela da sala, sol ameno e temperatura suave, e resolvo caminhar pelos quarteirões. Quero continuar me sentindo viva para poder interagir com o meio-ambiente, olhar o belo da natureza, sentir os olores primaveris, que é um momento tão saudável para a vida da gente. A caminho do Sítio da Trindade, um local apropriado para fazer caminhada, sigo observando tudo ao meu redor, me encosto em uma velha árvore e vejo uma lagarta verde se equilibrando em cima de um galho fino, em busca de um lugar mais alto e seguro; pego um graveto e ajudo a peludinha a subir mais rápido. Logo, resolvo entrar em uma padaria para tomar um café junto ao balcão, porém desisti no último minuto e continuo seguindo o meu destino. Não estou querendo escrever, quero mesmo é aproveitar o clima primaveril e agradável. Paro um pouco para descansar, respiro fundo para sentir o aroma inebriante da terra molhada, já que havia chovido ao amanhecer. Difícil mesmo é ficar sem escrever, já que um trecho da crônica que nunca escrevi, fica martelando no meu pensamento. Inspiro e ponho a refletir: “não me considero uma escritora, porém escrevo até nos papéis higiênicos dos toaletes femininos”. Sem forçar abro um grande sorriso! E nesse contexto, resolvo voltar para apanhar papel e caneta na padaria, já que não trouxe o celular, porém algo chama a minha atenção, um papel amassado no chão, bem à frente, me questiono se devo apanhá-lo, acho que servirá para eu escrever, mas e a caneta? Tomo fôlego e apanho o papel, desamasso o coitadinho; pronto já tenho papel! De repente, cruzo com um senhor distinto, paro e peço uma caneta. Ele me deixa com a caneta e vai embora sem nem olhar para trás. Sento no degrau de uma casa qualquer e passo a escrever o título: “A Crônica que nunca escrevi”.

Horas depois, volto para casa cheia de talvez. Venho segurando aquela folha de papel desamassada e toda escrita com um conteúdo que nem pretendia escrever; muito mais aliviada e tranquila. Porém, imensamente cansada pela caminhada que nem cheguei a fazer.

Por ELISABETE LEITE

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