Iniciei meus estudos e pesquisas em Literatura de Cordel, em 2007, quando ingressei no Curso de Doutorado em Letras na Universidade Federal da Paraíba. Nestes 17 anos não parei mais. A Literatura de Cordel se tornou uma das minhas paixões. São 28 produções científicas em literatura de cordel publicadas na área da Ciência da Informação, entre artigos de periódicos, livros, capítulos de livros, anais de congressos, orientações de teses e dissertações, além de 12 pesquisas: três financiadas pelo CNPq e nove de Iniciação Científica.
Destes estudos e pesquisas resultaram dois sites, dos quais eu me orgulho em mantê-los atualizados, disseminando a Literatura de Cordel:
1 – Memórias da Poesia Popular: informação sobre vida e obras de poetas populares brasileiros (criado em 2014, com mais de 560 mil acessos e visualizações, além do Brasil, por mais 120 países no mundo)
2 – Plataforma da Literatura de Cordel (criado em 2021, com 120 mil visualizações e acessos, além do Brasil, por mais 60 países).
Por que apresento estes números?
Ariano Suassuna, escritor e dramaturgo paraibano, o patrono da cadeira nº 52, que honradamente passo a ocupar, dizia: “Sou a favor da internacionalização da cultura, mas não acabando as peculiaridades locais e nacionais”. E não acabou! Acabei de provar!
Além de escritor renomado e um dos maiores do Brasil, Ariano foi professor e idealizador do Movimento Armorial que valorizou as artes populares. Nesse movimento, os artistas tinham o intuito de criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste. Segundo ele: “A Arte Armorial Brasileira é aquela que tem como traço comum principal a ligação com o espírito mágico dos “folhetos” do Romanceiro Popular do Nordeste (Literatura de Cordel), com a Música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus “cantares”, e com a Xilogravura que ilustra suas capas, assim como com o espírito e a forma das Artes e espetáculos populares com esse mesmo Romanceiro relacionados” (Jornal de Semana, 20 de maio de 1975).
Mote de abertura da coluna:
A Literatura de Cordel foi reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, em 2018. Nesta coluna, o cordel como forma de expressão literária que tem raízes profundas no Nordeste, mas também em todas as regiões brasileiras, apresentará aos leitores, uma variedade de temas, conectando poetas, poetisas, folhetos de cordel, cibercordéis (natos digitais) xilógrafos, xilogravuras, pesquisadores da área, repentistas, folheterias, editoras, bibliotecas e cordeltecas. Além de apresentar atividades realizadas com o cordel em escolas, espaços culturais, feiras e oficinas. Conhecer a Literatura de Cordel é vivenciar um mundo multifacetado da poesia popular.
Mestre Beth Baltar e a salvaguarda da memória e linguagem do cordel
(Poeta Fábio Mozart)
Neste texto eu resumo
O trabalho dessa mestra
Que tanta dignidade
Ao nosso cordel empresta.
Sem excesso, quero crer,
Beth é, por assim dizer,
Regente de nossa orquestra.
Abro então esta fenestra
Em ligeiro apontamento
Falando da importância
Para o nosso movimento
Dos estudos de Baltar
Para sistematizar
Cordel e seu segmento.
Eis que, em dado momento,
Ela abraçou a cultura
Deste gênero cordel,
Compreendendo a seiva pura
Do notável cabedal
Supostamente banal
Passando à sua leitura.
O seu trabalho perdura
Na seara popular.
Pouco mais de mil folhetos
Passaram por seu olhar,
Organizando por tema,
Buscando o estratagema
Para o acervo organizar.
E assim Beth Baltar
Fez a Pós-Graduação
Sobre este tema cordel,
Sua classificação,
Em fina bibliografia
Buscando uma rota guia
E a recuperação
Dos folhetos em ação
Visando classificar
O discurso do cordel
E assim analisar
Os temas e conteúdos
Em apurados estudos
Da poética popular.
Glória a Beth Baltar
E o reconhecimento
Por parte dos cordelistas
Pelo seu discernimento
E esforço de uma vida
Para nos dar a devida
Valia e merecimento.
Rapidamente eu comento
Essa classificação
Da temática dos folhetos
Conforme a concepção
Dos estudos de Baltar
Que chegou a separar
Cordel de religião,
Cultura e educação,
Folheto de valentia,
Ciência, contos e crime,
Esporte e feitiçaria,
Peleja, morte e poder,
Erotismo e bem querer,
O cordel tudo abrangia.
Folhetos de putaria
Como os de Vavá da Luz,
Com assuntos sociais
Conforme muito traduz
O mestre Medeiros Braga
Em sua extensa saga
Que com lucidez produz.
Folhetos que nos seduz:
O romance do pavão,
Peleja de Zé Pretinho,
Chegada de Lampião
No inferno e também tem
A vida de Pedro Cem,
Cem quilos de inspiração
De temas em profusão,
Tudo escrito a contento.
A professora Baltar,
Sobre esse segmento,
Após muito pesquisar,
Buscou reavaliar,
Preservar do esquecimento.
Conforme o merecimento,
Professora Beth assume
Cadeira na Academia
De Cordel, fazendo o lume
Do grupo reacender,
Porque quer me parecer
Que atingiremos o cume.
Pelo menos se presume
Que o nível se expanda,
Com o cabedal que tem
E sua maneira branda
De tratar o semelhante,
Auxiliará bastante
Para suprir a demanda
De saber, que é quem manda
Na nossa congregação.
Quanto mais gente erudita
Mais se expande a evolução.
O cordelista aprimora
Seu mister com a escora
Do bom-tom e educação.
Defendendo sua ação,
Ganhou o Prêmio Rodrigo
Melo Franco de Andrade
Por sustentar em artigo
E promover o cordel
Em aclamado painel
Com raciocínio amigo.
O cordel sempre em perigo
De invisibilidade
E constante pouco-caso
Recebe apreço e amizade
Dessa nobre professora
Que é mais do que leitora,
É sócia dessa irmandade.
Com grande capacidade,
Fez a indexação
Dos folhetos de cordel
Com a utilização
De um mesmo vocabulário,
Facilitando ao usuário
Acessar com precisão
O sistema em evolução.
O cordel, de forma plena,
Trabalha com a linguagem.
O tempo sempre condena
Ao olvido esse modelo
E Baltar, com muito zelo,
Construiu e pôs em cena
Um conjunto que engrena,
Em ação de excelência,
Ferramentas de abordagem,
Preservação e ciência
Com o contexto social,
Facilitando o canal
Em formidável docência.
Com amor e com prudência,
Beth Baltar estudou
Centenas de cordelistas,
Sua obra analisou,
Concebeu a teoria
E a bibliografia
Conservou e avaliou.
Os ciclos classificou,
Facilitando ao cordel
Ter estudo adequado
Em rigoroso painel,
Registro em qualquer suporte
Em primoroso recorte,
Abonando o menestrel.
Eu quero então ser fiel
Ao pensamento geral
Dos poetas de bancada
Em um conceito cabal:
O cordel muito agradece
A Baltar que nos fornece
Dignidade e aval.
E como ponto final,
Nossa grata Academia
Reconhece este termo
Biblioteconomia
Como uma palavra-chave
Para quem busque e escave
O cordel e sua via.
Autor convido:
POETA FÁBIO MOZART – Presidente da Academia de Cordel do Vale do Paraíba.
O rádio-telegrafista aposentado, militante do movimento de rádios livres e comunitárias, dramaturgo e diretor teatral atualmente escreve continuamente poesias, crônicas, textos de humor, haicais e mais gêneros para sua página no Recanto das Letras, além de atuar como apresentador do programa “Alô, Comunidade!” da Rádio Tabajara, que está no ar há mais de 6 anos.
Fábio Mozart transita por várias artes. No jornalismo, fundou em 1970 o “Jornal Alvorada” em Itabaiana, com o slogan: “Aqui vendem-se espaço, não ideias”. Depois de prisões e processos por contestar o status quo vigente no regime de exceção, ainda fundou os jornais “Folha de Sapé”, “O Monitor Maçônico” e “Tribuna do Vale”, este último que circulou em 12 cidades do Vale do Paraíba.
Ainda no jornalismo, colaborou no Timbaúba Jornal, A Folha (Itabaiana), Alquimia do Verbo, Umari Notícias, Força de Expressão (Sapé), Itabaiana Hoje e ainda fez parte da equipe de jornalismo do Portal “Conhecendo a Paraíba”, na Internet.
Fábio também trabalhou como tipógrafo na Sociedade Cultural Poeta Zé da Luz, em Itabaiana. Foi diretor de imprensa do Sindicato dos Ferroviários e repórter do jornal O Norte na década de 1970, indicado pelo jornalista Cecílio Batista, também itabaianense. A partir daí, o jornalista continuou publicando crônicas e comentários esporadicamente em jornais e revistas, versando sobre arte, fatos locais, apreciação histórica, sociológica ou mera composição literária.
Nem só de jornalismo se constrói a trajetória de Fábio Mozart, mas de teatro e rádio também. No teatro, fundou o Grupo Experimental de Teatro de Itabaiana (GETI) e o Coletivo Dramático de Mari – CODRAMA, além de ter escrito várias peças teatrais. Dentre elas: “A Peleja de Lampião com o Capeta” (1° Lugar no Concurso CONHEÇA A PARAÍBA, do antigo MOBRAL), “O Batalhão das Sombras”, “Vozes da Vida e da Morte”, “A Federal Tragédia da Novela das Oito” e “Cantiga de Ninar na Rua”, esta última premiada pela UNICEF e reconhecida como espetáculo didático de alto nível pelo Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente da Paraíba, tendo alcançado o recorde de apresentações ininterruptas durante sete anos neste Estado.
Como radialista, foi um dos pioneiros da radiofonia itabaianense, tendo atuado no setor de jornalismo da extinta Rádio Difusora Nazaré, uma das primeiras experiências radiofônicas na terra de Zé da Luz. E ainda fundou a Rádio Comunitária Araçá, de Mari (1998), a Rádio Comunitária Vale do Paraíba em Itabaiana (2004) e a Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares, em João Pessoa (2005). Além de ser membro da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária no Estado da Paraíba – ABRAÇO-PB.
Também é autor de várias publicações como: “Liras Desvairadas” de 1985 e “Pátria Amada” de 1998, ambos livros de poemas; “Democracia no Ar”, que conta as histórias da luta pela radiodifusão comunitária na Paraíba, de 2004; “Manoel Xudu, o Príncipe dos Poetas Repentistas”, de 2006; “História de Itabaiana em versos e algumas crônicas ‘reais’”, de 2007; “Biu Pacatuba um herói do nosso tempo”, de 2010; “Laranja Romã” (2018).
No livro “Biu Pacatuba, um herói do nosso tempo”, Fábio conta a história de Severino Barbosa, primeiro presidente das Ligas Camponesas em Sapé. Pacatuba foi vítima da ditadura militar, sofrendo prisões e perseguições pelo Regime Militar. O trabalho recebeu o Prêmio Patativa do Assaré de Literatura de Cordel, patrocinado pelo Ministério da Cultura em 2010.
Fonte: https://www.academiadecordel.com.br/fabio-mozart/
Por BETH BALTAR