HISTÓRIA DAS ARTES – História epistolar

HISTÓRIA DAS ARTES – História epistolar

“A carta é telefonema antiquado, do tempo em que as pessoas sabiam escrever e ler.”(Eno Teodoro Wanke)

Falar de cartas é, sobretudo, vi a tona, saudosismos, e para a autora aqui, muito saudosismo. Iniciei minha trajetória na escrita ainda na infância, escrevendo cartas, bilhetes, tantos para amigos próximos quanto para distantes, e dia desse meu coração acelerou, ao chegar à minha casa e deparar-me com uma cartinha, escrita a próprio punho, para mim, é retornar no tempo, nostalgia e saudade. As palavras no papel percorrem caminhos inimagináveis e surpreendentes porque a origem está no coração, na emoção, no desenho de cada letra. Se perdeu força como tradição e hábito, o resgate da carta manuscrita na pós-modernidade é um jeito de acalentar a alma, buscar aconchego e dar outro sentido ao tempo.

Estamos nos tempos da “era digital” o que nos permitem muitas coisas, inclusive, conversar com as pessoas instantaneamente por meio das redes sociais, seja por trocas de mensagens no WhatsApp, seja por chamada de vídeo, ou deixar aquele e-mail e logo depois receber a resposta.

Imagem de Jarmoluk por Pixabay

 

No passado, as cartas eram a única forma de comunicação, além de serem consideradas, o meio mais antigo de comunicação, ou seja, existem há mais de 3 500 anos a.C., e diversas eram as formas pelas quais eram enviadas aos seus destinatários, como pombo-correio, navios e cavalos. Quantas histórias não ouvir dos mais velhos a respeito desse tema, as quais sempre me fascinavam, desejavam ser especialista em cartas (risos). Agora, imaginem o tempo que levavam para chegar aos seus destinos!

Com o passar dos anos, a chegada da modernidade e os avanços tecnológicos, a prática de escrever cartas foi aos poucos ficando esquecida, pois, a tecnologia oferece uma grande praticidade que tornou rara uma ligação normal, sem o auxílio da internet, ou de uma carta escrita à mão.

“Assim como as chaves abrem cofres, as cartas abrem corações.” (James Howell).

Por ser a carta é uma das mais usadas e antigas formas de comunicação entre as pessoas, por meio delas, boa parte da história da humanidade ficou registrada e pode ser contada. Isso porque, quando as pessoas enviam cartas umas para as outras, elas acabam contando fatos históricos, descrevendo como as pessoas se relacionam umas com as outras, opinando sobre acontecimentos sociais e todas essas informações constroem pistas que podem ajudar a recompor a vida como vem ocorrendo no decorrer da história.

Imagem de Settergren por Pixabay

 

A bíblia, que é considerada uma das fontes de informações mais antigas, já apresenta muitos exemplos de cartas. Os primeiros textos bíblicos foram escritos 1 513 anos antes de Cristo nascer, ou seja, há mais de 3 500 anos. Ali podemos encontrar, por exemplo, cartas dos discípulos Pedro e Paulo que acompanharam Jesus em suas jornadas.

 “Vocês mesmos são a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos” 2COR 3,2

 Durante sua história, a carta foi escrita em muitos tipos de materiais e muitos foram os canais pelos quais era enviada. Assim, as primeiras cartas foram escritas com um material chamado de papiro, um tipo de papel feito com uma planta chamada papiro e que serviu de suporte para as pessoas escreverem e enviar mensagens muitos anos antes da existência da bíblia, ou seja, 3.000 anos antes de Jesus nascer. Muitos anos depois, no século II antes de Cristo, em uma região na Turquia chamada de Pérgamo, foi inventado o pergaminho, um tipo de papel feito de pele de carneiros e bezerros.

O papel que utilizamos atualmente foi inventado 100 anos depois do nascimento de Cristo por um chinês chamado T’sai Lun. Esse chinês inventou de misturar e bater fibras de vegetais formando uma massa que, após peneirada e colocada para secar, formava uma fina folha de papel ideal para ser transportada e para escrever cartas, bilhetes, livros e o que mais fosse preciso. Com o avanço da tecnologia, mensagens escritas podem ser enviadas sem a utilização de papel. É o caso do e-mail.

No entanto, há quem prefira uma carta escrita em papel, devido a esse material ser acessado sem a necessidade de computadores e internet. Além disso, as cartas escritas pelas próprias mãos do autor transmitem o que um e-mail não é capaz de transmitir: as emoções.

Outro importante fato histórico a ser observado se refere ao modo como as cartas chegavam até seu destinatário. Vemos a seguir alguns importantes momentos em que a carta mudou sua forma de circular, saindo das mãos do autor e chegando até seu destino.

 

Pombo-Correio

Os pombos foram utilizados por muito tempo como meio de envio de mensagens. Observando que eram capazes de voar velozmente por uma distância de cerca de 160 km e retornar para o local onde foram criados, logo as pessoas perceberam que essa destreza poderia ser utilizada para levar cartas e pequenos objetos de um local para outro gastando poucas horas para cumprir o trajeto. Há indícios de que esses animais já eram adestrados para transportar mensagens de uma cidade para outra desde 2.800 anos antes de Cristo.

Imagem de BrianAJackson por IStock

 

Nos jogos olímpicos da antiga Grécia (700 anos antes de Cristo) os pombos eram responsáveis por levar às cidades gregas mensagens noticiando os vencedores da competição. Milhares de anos depois, na Primeira Guerra Mundial, os pombos-correio pouparam a vida de muitos soldados levando mensagens pelos campos de guerra. Sem esses animais, os soldados seriam obrigados a se arriscar a topar com os inimigos na tentativa de transportar as cartas com as comunicações importantes sobre a guerra.

Na Argentina, esse tipo de comunicação postal foi utilizado até a década de 50, encaminhando correspondências por todo o país. Com o avanço da tecnologia, diminuiu-se o uso de pombos como meio de envio postal, mas essas aves não perderam seus empregos. Atualmente, em algumas localidades, os pombos-correio ainda transportam mensagens e encomendas e, em muitos países, são usados em competições, chamadas, columbofilia. Na Europa, por exemplo, uma competição objetiva levar os animais a percorrerem uma distância de quase mil quilômetros entre Barcelona e Bélgica. No Brasil, temos uma competição que sai de Brasília e chega até São Paulo (mais de 900 quilômetros).

 

Navios

 Quando chegaram às terras recém-descobertas que dariam origem ao Brasil, muitos tripulantes se interessaram por mandar notícias ao Rei de Portugal chamado Dom Manuel. No entanto, nenhuma das cartas enviadas ficou tão conhecida como aquela escrita por Pero Vaz de Caminha. Nessa carta, Caminha dá notícias ao rei sobre as descobertas realizadas, descrevendo detalhes da geografia, dos nativos encontrados e dos possíveis recursos a serem explorados por Portugal. Assim, essa carta é tida como o primeiro documento oficial escrito em terras brasileiras. Foi manuscrita com pena e tinta sobre papel. Caminha assina a carta na data de 1º de maio de 1500 enviando-a por meio do capitão Gaspar de Lemos. Enquanto seguiram para a índia, Gaspar de Lemos voltou para Portugal com a missão de entregar a carta ao Rei, o que de fato levaria mais de 40 dias para chegar às mãos do destinatário.

 

Cavalos

Outras formas de envio postal foram utilizadas. Todas essas são formas interessantes de transmissão de mensagens. Mas um fato que marcou a história da evolução da carta tem a ver com o uso de cavalos. Em 1.860, três empresários dos Estados Unidos criaram um correio expresso utilizando cavalos como meio de cruzar o território americano visando entregar correspondências. Era o famoso Pony Express. Para cumprir toda a rota de Missouri até a Califórnia, uma distância de quase 3.000 km, os mensageiros levavam quase 11 dias. Com o surgimento do telégrafo, a empresa teve que encerrar suas atividades um ano depois de inaugurada.

 

Correios

O primeiro correio brasileiro, o “Correio-mor das cartas do mar”, foi criado em 1673. Era uma forma demorada de entrega postal por depender de viagens marítimas para chegar do Brasil a Portugal. Em 1798 foi criado os Correios Marítimos, estabelecendo uma ligação postal marítima entre Rio de Janeiro e Lisboa. Em 1927 inicia-se o transporte de correspondência via aérea entre América do Sul e Europa. No Brasil, o presidente Getúlio Vargas instituiu o Departamento de Correios e Telégrafos no ano de 1930.

Imagem de AleksandarGeorgiev por IStock

 

A empresa que hoje conhecemos e que entrega cartas, contas, produtos comprados pela internet e até aquela cartinha que escrevemos para o papai Noel, foi criada em 1969. Chama-se Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Hoje, os Correios entregam as correspondências em tempos recordes, utilizando carros, caminhões e aviões para levar mensagens e encomendas por todo o país. Existem vários prazos para entrega das correspondências, dependendo da distância a ser percorrida e do valor pago. Os correios possuem diversas modalidades de entrega permitindo atender às necessidades de empresas, órgãos públicos e pessoas em geral. Sem dúvidas, a mais conhecida é o Sedex (Serviço de Encomenda Expressa Nacional) criado em 1982. Com esse serviço, os Correios prometem realizar as entregas em até cinco dias.

 

E-mail

A popularização do acesso à internet permitiu que as pessoas pudessem usar o correio eletrônico e utilizá-lo com frequência. O primeiro correio eletrônico utilizando o símbolo @ como forma de constituir endereços eletrônicos foi criado em 1971 por Ray Tomlinson. Por meio do e-mail, as pessoas podem enviar, receber e armazenar mensagens, documentos, vídeos, imagens e toda forma de documento digital.

Por um lado, o e-mail mostra-se uma excelente forma de comunicação, considerado a carta moderna, permitindo que as pessoas se comuniquem em tempo real sem utilizar papel ou sem precisar de outra pessoa para entregar a correspondência. No entanto, para funcionar, é preciso que tanto o remetente quanto o destinatário tenham disponível um computador conectado à internet. No entanto, muitas pessoas ainda não possuem condições econômicas para ter acesso às tecnologias atuais.

Imagem de Pixabay

Por BETÂNIA PEREIRA

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