História
Desde que o homem se apropriou da escrita, por volta de 3000 a.C., passou a se utilizar dela para registrar fatos. Várias civilizações ao longo do tempo apropriaram-se da escrita para registrar seus feitos, descobertas, enfim a vida em sociedade. Era o meio de comunicação oportuno à vida da época e o mundo viu-se diante de um enorme progresso, pois a oralidade perdia a consistência no minuto seguinte.
Os documentos escritos destinavam-se a diferentes propósitos e eram produzidos em variadas superfícies como pedra, papiro e posteriormente papel. Eram cartas [carta, missiva (latim), ou ainda epístola (grego), é o termo que descreve um manuscrito, um datiloscrito ou um impresso destinado a estabelecer uma comunicação interpessoal escrita, entre pessoas e/ou organizações, de cunho particular] de todos formatos: umas em caráter intimista continham troca de informações entre familiares, amigos, declarações de amor ou narrativas da rotina diária; outras eram escritas selando acordos, definindo estratégias de guerra ou tratados de paz e por tal força de poder, eram lacradas com selos da realeza.
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Envio
O envio dessas cartas era feito por mensageiros. Alguns viajavam por longos períodos enfrentando todos os perigos do percurso. Outras cartas eram enviadas por navio ou avião. Em muitas situações a viagem levava meses e ainda podiam se “perder” no caminho.
Surgia a necessidade de criação de sistemas organizados – agências postais – para o transporte das cartas. Nessa mesma época foram criados os selos.
O primeiro selo postal foi o Penny Black, (one penny black), surgido na Inglaterra em 6 de maio de 1840. A ideia foi de Sir Rowland Hill, membro do Parlamento do Reino Unido, para que fosse o remetente a pagar a tarifa, pois antes da criação do selo, o destinatário é que a pagava, criando um enorme número de devoluções.
No dia 1 de agosto de 1843, o Brasil foi o segundo país do mundo a emitir um selo, batizado Olho de Boi. A partir daí, o sistema postal brasileiro passa por mudanças ampliando a quantidade de agências
Primeira Carta
No Brasil, ficou célebre a carta do escrivão-mor Pero Vaz de Caminha (inicialmente redigida nas caravelas), anunciando a Dom Manuel I, Rei de Portugal, as descobertas realizadas. Narra detalhes da geografia e topografia das terras conquistadas, o perfil dos nativos e riquezas conquistadas pela Coroa. É tido como o primeiro documento oficial escrito em domínios brasileiros, “nossa” primeira carta. Atualmente ela está guardada no Arquivo da Torre do Tombo, que é o Arquivo Nacional de Portugal.
Literatura
As cartas não somente registram fatos históricos, elas também fazem parte da Literatura como gênero literário e a carta citada acima pode ser considerada um texto com valor literário porque Pero Vaz de Caminha não era um simples escrivão: Caminha era um “escritor-escrivão”, pois ele não se limitava a apenas registrar e contabilizar os fatos da viagem. Há passagens nas quais se nota o uso da forma literária, caracterizada por uma linguagem permeada por metáforas que desconstroem o real significado das palavras.
Da mesma forma, muitos escritores usaram e usam desse recurso para escrever suas obras. Um exemplo é a produção dos romances epistolares (livro onde se usa o recurso de escrever a história principalmente através de cartas, embora também sejam usadas entradas de diários e notícias de jornais. O nome “epistolar” vem do latim epistolaris “relativo a carta, epístola”. O objetivo desta técnica era dar maior realismo à trama. O romance epistolar teve seu auge de popularidade no século XVIII).
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Evolução
Com o passar do tempo, a chegada da modernidade e os avanços tecnológicos, surgiu a Internet. Essa rede mundial encurtou distâncias/ tempo e a carta cedeu lugar a outro tipo de registro escrito. O mundo passou a estar logo ali no quintal; pessoas de todos os cantos do planeta tornaram-se vizinhas; por meio do “e-mail” e “whatsapp”, tornou-se possível enviar, receber e armazenar arquivos, vídeos, imagens e documentos digitais. Essa forma de contato permite que os interlocutores se comuniquem à distância, em tempo real, sem o emprego de papel e pessoas para efetuar a entrega. O email tornou-se uma espécie de identidade digital necessária para fazer qualquer cadastro ou login na internet, ou até mesmo para utilizar serviços prestados fora do mundo virtual.
Curiosidades
- O Santa Claus’ Main Post Office (o nome da agência de correios) recebe 550 mil cartas todos os anos na cidade de Rovaniemi, Finlândia.
- “Ele partiu deste mundo estranho um pouco antes de mim. Isso não significa nada. Para aqueles de nós que acreditam na física, a distinção entre passado, presente e futuro é só uma persistente ilusão.” Essa famosa citação – que serve de epígrafe à série alemã Dark e a dezenas de livros de divulgação científica – está nas condolências enviadas por Einstein à família de seu amigo Michele Besso, morto em 1955. Um mês depois de pôr a carta no correio, o próprio Albert se foi. Em sua dor, ele resume a conclusão estonteante da sua Teoria da Relatividade Restrita, de 1905: o tempo não é absoluto; passa…
- Segundo o Guinness World Records, 89 anos foi o tempo recorde de atraso que uma carta demorou para chegar ao destinatário. Tratava-se da confirmação de presença para uma festa natalina. A sra. Janet Barrett recebeu a carta em 2008, mas a festa aconteceu há quase um século.
- Em agosto de 1959, a rainha Elizabeth II recebeu o então presidente dos Estados Unidos, Dwight D. Eisenhower, e sua esposa no Castelo de Balmoral, na Escócia. Não se sabe o que foi discutido no encontro, mas é certo que o presidente gostou dos scones reais. O bolinho é típico para a hora do chá inglesa e pode ser feito com diversas combinações. A rainha escreveu uma carta ao presidente em 24 de janeiro de 1960, com a sua receita pessoal dos bolinhos.
- Mario Puzo, autor do livro O Poderoso Chefão, escreveu para Marlon Brando em 23 de janeiro de 1970, dizendo que mais ninguém se encaixaria tão bem ao papel de Vito Corleone em uma versão cinematográfica do romance. Após certa polêmica, o ator aceitou o papel e acabou ganhando um Oscar pela performance.
- Em 24 de maio de 1889, Mark Twain escreveu uma carta de congratulações de quatro páginas para Walt Whitman, que estava prestes a completar 70 anos.
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Seguem algumas indicações baseadas no tema acima.
Espero que apreciem e, quem sabe, sintam-se tocados pela magia de escrever uma carta à mão sem a pressa da modernidade, mas com o carinho necessário para estreitar laços afetivos.
Livros:
- Carta de um diabo a seu aprendiz – C.S. Lewis
- Cartas brasileiras – Sérgio Rodrigues
- Cartas de Jane Austen – Jane Austen
- Os sofrimentos do jovem Werther – Goethe
- Todas as cartas – Clarice Lispector
- A cor púrpura – Alice Walker
- Drácula – Bram Stoker
Filmes:
- Central do Brasil
- Cartas para Julieta
- O último poema – documentário
- Carta para além dos muros – documentário
Por CRIS GOMES