O lançamento do meu primeiro livro coincidiu com a notícia da piora do quadro de saúde do meu avô. Já fazia algum tempo que meu avô estava internado, mas seu estado era estável. Fui direto ao hospital. Conforme o médico, ele não sobreviveria por muito tempo. Encontrei meu avô em estado deplorável. Era deprimente ver um homem com aquela vontade de viver lutando contra a inevitável morte.
– Você pode ler para mim? – Ele me pediu ao me ver.
– Claro. Qual livro?
– Leia aquele seu livro novo! – Ele me pediu.
– Você mesmo disse que o livro era péssimo.
– Eu sei, mas mudei de ideia.
Sem questionar, comecei a ler o primeiro capítulo do livro. Meu avô ouviu atentamente. Ao final do capítulo ele me pediu que eu seguisse a leitura. Sem questionar, obedeci. A cada capítulo, meu avô sinalizava para eu continuar a leitura. Já era tarde da noite quando cheguei ao último capítulo.
– Continue – Ele disse quase sem forças.
Senti que meu avô estava me deixando, mas continuei a leitura.
Terminei de ler o livro e encarei meu avô.
– Obrigado! Seu livro foi muito útil!
Sorri sem dizer nada. Ele continuou:
– Graças a seu livro ruim, o tempo praticamente parou. Vivi várias vidas nessa tarde.
Mesmo no seu pranto de morte ele me agradeceu por prolongar sua vida. Agora estava pronto para o fim. Abraçaria a Dona Morte e sua foice ali mesmo.
Por PEDRO MORAIS