SEMEANDO A ESCRITA – Colheitas da Colunista – Milagre de Natal

SEMEANDO A ESCRITA – Colheitas da Colunista – Milagre de Natal

Despertei cedo nesta manhã de 24 de dezembro de 2018. Não posso dizer que dormi mal, afinal, foi uma das poucas noites que consegui dormir por mais de cinco horas seguidas. A claridade que precedia o nascer do Sol entrava pelas frestas da janela. Isso me motivou, de algum modo, a não perder o espetáculo que afasta a escuridão da madrugada e resplandece em um novo dia.

Depois de tanto tempo sem me atentar à visão do alvorecer, pus-me de pé para não a perder. Talvez por ser algo diário, tenho adiado constantemente essa vista tão bela e restauradora em troca de mais alguns minutos de sono. Um hábito bobo de não me atentar aos encantos que o universo entrega de presente.

Sobre o sentimento que senti após ver o nascer do Sol? Ah! Satisfação e profundo encanto! Não existe melhor estilo de começar o dia nesta véspera de Natal.

Imagem de Sabrina_Ripke_Fotografie por Pixabay

 

Enquanto tomava o café da manhã, lembrei-me de fragmentos do sonho que tive. Nada daqueles pesadelos que me despertavam angústias e dores. Pelo contrário! Sonhei com um grande amor que vive em mim. Ele estava bem pertinho, com um semblante tranquilo. Sempre caminhando ao meu lado, não sei para onde. Só sei que o cenário dos meus sonhos era amplamente iluminado, como uma manhã ensolarada de domingo. Aquela presença me trazia segurança e serenidade, e eu só queria continuar naquele passeio dos sonhos, literalmente.

Talvez o sonho repleto de luz tenha despertado o anseio de assistir ao nascer do Sol e tenha me feito acordar com tanta disposição, inclusive para escrever uma carta para quem tanto amo e que, nesta noite, habitou os meus sonhos. Ainda hoje a entregarei.

Pensar nesta data me desperta muitas lembranças de comemorações natalinas em que estivemos juntos. Isso me leva a refletir que nunca o agradeci expressamente por toda a diferença que fez em cada uma das confraternizações passadas. Ele sempre se esforçava para tornar essa data ainda mais especial e arrancar sorrisos da família! Ficava cheio de expectativas quando abriam os presentes que, carinhosamente, havia comprado. Seu sorriso externava o amor de seu coração, que não conseguia se conter totalmente no peito.

Coincidentemente, eu já havia planejado visitá-lo por volta das 9h da manhã de hoje. Talvez eu tenha pontuado esse compromisso em sonho, o que pode explicar a sua presença tão real nele.

Com certeza reviverei boas memórias e uma chuva de sentimentos durante a visita que logo mais farei. E, antes de voltar para casa, entregarei alguns desses sentimentos que não sei ao certo o porquê de ter resolvido colocar no papel. Deve ser a tal da magia natalina!

Por volta das 15h, estarei na casa de minha mãe ajudando com os preparativos da ceia. Conversaremos sobre épocas natalinas em que ele também nos ajudava com os preparativos, geralmente cuidando da sobremesa de salada de frutas. E comentaremos sobre as risadas e brincadeiras que tornavam a véspera de Natal ainda mais especial.

Aproximadamente às 19h, deixarei o meu filho prontinho para a noite natalina. Acredito que ele não consiga ficar acordado até meia-noite. Em seguida, começarei a me arrumar também.

Após às 21h, irei até a sala de TV e me reunirei com a família enquanto o noticiário estiver passando. Por lá mesmo começaremos a relembrar dele nessa mesma data em anos pretéritos.

Sorriremos!

O sorriso é o que marcará cada memória, sendo essa feição uma das manifestações do amor imenso que sentimos!

Saudades…

Quem falar que a saudade não dói, não será totalmente honesto. Dói muito, sobretudo nessa data! Mal posso descrever essa dor… daquelas bem doídas!

Mas sabe o que dói mais ainda? Ver que muitos não tiveram sequer a chance de ficar um pouquinho ao lado de alguém tão especial. Meu filho nunca o conheceu, embora carregue o seu nome.

Bom… Já são quase 9h. Chamo um Uber enquanto o meu filho e o meu marido continuam dormindo. Dirijo-me ao cemitério. Ao chegar em seu túmulo, converso com o meu pai entre lágrimas, sorrisos, tristezas e alegrias.

As saudades que sinto do meu pai são responsáveis por solavancos no coração e longos suspiros, mas nada interrompe o sentimento de gratidão por tudo o que ele fez por mim e por toda a família.

Pouco antes de deixar junto à foto dele a carta que escrevi nesta mesma manhã, tiro-a da bolsa e releio em voz alta um dos trechos:

“O milagre de Natal, enfim, aconteceu! Sei que esteve ao meu lado esta noite e em cada momento de minha vida! Sei que hoje estará conosco novamente! Você vive em mim… em nós! A família se uniu em amor e gratidão. Todos sentem a sua presença! Muito obrigada por ter me dado a chance de ser sua filha!”

Entre lágrimas, despeço-me! Volto a conversar com ele enquanto caminho, sabendo que ele está sempre ao meu lado. O local em que deixei a carta apenas simboliza o ponto de encontro.

No retorno para casa, reflito sobre o significado do Natal: a data em que celebramos o nascimento de Jesus e somos inundados por reflexões, esperanças e sentimentos de amor e união. Em uma visão reinventada, percebo que os milagres de Natal são constantes. Sinto-me abençoada ao sentir fortemente a presença de quem se tornou fisicamente ausente.

Antes de entrar no carro, murmuro:

– Pai, você é o meu milagre de Natal!

Enfim, entro no carro e, minutos depois, já estou em casa. Sento-me no sofá da sala ainda com lágrimas a escorrerem, mas com um sorriso de gratidão. Um paradoxo eivado de ressignificações.

Por LILIAN BARBOSA

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