CONTOS – À Janela por Beatriz Santos

CONTOS – À Janela por Beatriz Santos

Cheguei há pouquíssimo tempo a Leiria e fiquei num quarto a partilhar o resto do apartamento com estudantes. Aqueles estudantes que estão prestes a formar-se e, ao mesmo tempo, ficam em grandes bebedeiras pelas noites de quinta-feira acadêmica adentro. Quem diz quinta, diz sexta também…na verdade, o que mais incomoda é o barulho que fazem de noite, por se juntarem todos a beber, a comer e, inclusive, a cantar.

Seria tudo mais bonito se eu fosse mais novo e pudesse amanhã de manhã não ir trabalhar. E não estava para aqui a falar-vos deles, quando a história é realmente sobre uma senhora.

Estou à janela a ver a chuva cair na rua. Pois é, chega o outubro e vem logo a chuva saudar-nos; que simpática, não é? E eis que vem uma mulher de saia e um guarda-chuva a cobri-la. Fiquei a vê-la fechá-lo após ter aberto a porta. Vi-la fechá-la e fiquei mais um pedacinho.

Uns dois minutos foram o tempo passado para voltar a vê-la da sua janela.

Agora, eu, da minha janela, podia vê-la na sua e vice-versa. Como sempre, começa a espreitar para todos os cantos da rua como se não tivesse acabado de sair dela.

Agora, de repente, apeteceu-me abrir a minha, para que me visse. E viu, tanto que abriu a sua também. Só então reparei na antiguidade que era a sua janela. Para trás, não posso dizer nada, que não conseguia ver.

— O vizinho é novo?

— Olá, boa noite. Sou, sim.

— Muito bem, vizinhança da boa — afirmou, abanando a cabeça para cima e para baixo. Virou a cara para o lado e deu por ela com um cigarro na mão. Ora, bolas, tinha mesmo de ser fumadora? Detesto fumadores!

— Ui, já a categoriza?

— Ao fim de uns tempos, é o que acontece.

— Então e os miúdos? — quis eu saber, apontando para dentro do meu apartamento para ela entender que me referia aos estudantes universitários.

— Adorei a temporada por que estão agora a passar, contudo, já percebo e bem quem reclamava de nós, ou seja, os adultos.

Eu ri-me. O que dizia era a verdade de todos, provavelmente. E, estupidamente, instantaneamente, fiz algo: — Amanhã, quer beber um café comigo?

Ela abriu a boca para falar, no entanto, depois reparei que não ia tanto falar, mas, sim, era admiração pelo convite feito. Assim continuou, também com os olhos mais arregalados, até que ouvi um “sim, vamos conhecer-nos, acho correto entre vizinhos”.

Por BEATRIZ SANTOS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo